Há dias, o Amigo Mário Relvas, que se orgulha de ter cumprido o serviço militar como Comando e que diz ser Comando até à morte, sugeriu mais uma leitura do «Código Comando».
Este trouxe-me à lembrança um facto real que me foi relatado há várias décadas por oficiais da Marinha que contactavam frequentemente com altas esferas militares americanas e que se passou entre o secretário da Defesa Mc Namara e o Almirante chefe do Gabinete. O político queria inteirar-se da estrutura e do funcionamento das Forças Armadas e pediu ao Almirante que daí a 30 dias lhe entregasse manuais de organização e operações, com os sistemas mais modernos e inovadores.
O Almirante, não esperava tal pedido e reuniu-se de imediato com os seus colaboradores mais directos pertencentes aos três ramos e expôs-lhes o sucedido. Perplexos, sem saberem realmente o que se pretendia, trocaram hipóteses, conjecturas, perguntas sem resposta até que um deles já conhecido pelas suas frases sintéticas e inesperadas, mas com muita lógica, saiu-se com uma explicação: o tipo esteve à frente da General Motors onde têm uns manuais de tipo militar e, provavelmente, quer que as FA passem a ter manuais semelhantes. Partiu de imediato um estafeta para na GM receber uma colecção de manuais da mão de um administrador, entretanto contactado pelo Almirante.Começou um trabalho intenso, sem horário, para elaborar regulamentos militares com base nos da GM. Na data fixada, o Almirante apresentou os «novos regulamentos» ao Secretário da Defesa que abriu cada um dos volumes, viu os índices, viu uma página aqui outra acolá e disse com voz zangada:
- Isto é uma porcaria, não é isto que pretendo.
- Mas este trabalho foi baseado nos regulamentos da GM que o senhor geriu com muito entusiasmo eficiência, desculpou-se o Almirante, procurando ser simpático.
- Mas, quando entrei na GM e procurei elementos de consulta, encontrei os melhores e mais modernos conceitos nas FA e, agora, estas já devem ter doutrina mais avançada e é isso que pretendo.
Realmente, durante muitos anos, as FA, devido ao esforço de organização para a guerra, foram a melhor fonte e racionalização e desenvolvimento de sistemas funcionais em que predominava a preocupação de simplicidade, o melhor aproveitamento de recursos escassos, produtividade, e optimização da gestão de recursos humanos que são a principal base de qualquer organização.
O «Código Comando» pode também, se bem adaptado aos casos concretos, servir de manual de conduta, constituindo uma filosofia de empresa ou de organização que muito contribuirá para aumentar a produtividade através da boa gestão dos recursos humanos e das relações entre os diversos elementos de uma equipa, com alegria e felicidade de cada elemento, e pelo desenvolvimento da auto-estima e do orgulho nos resultados obtidos com o esforço colectivo bem coordenado.
Com a filosofia dos Comando vemos concretizar-se a moderna expressão do patriotismo em que a predisposição para o sacrifício total em defesa da Pátria, não resulta tanto do endeusamento de antigos heróis mas, principalmente, dos factores actuais e da sua projecção no futuro ligados às necessidades de independência, desenvolvimento e prestígio internacional de Portugal. Será a necessidade de defesa daí resultante que mobilizará a vontade dos jovens para o amor à sua Pátria.
A Associação de Comandos é merecedora de aplauso pelo cuidado permanente na manutenção e desenvolvimento desta filosofia que assenta na experiência das actividades decorridas e na constante observação das circunstâncias quotidianas.
Desejo um Feliz Natal para todos e que o Novo Ano traga mais motivos de felicidade do que de preocupação.
Postado por A. João Soares em 9:54
3 comentários:
deprofundis disse...
Não foi decerto o código dos Comandos que motivou uns quantos generais de Força Aérea a baterem com a porta apenas por se sentirem defraudados nas suas ambições. Quiçá nas suas vaidades...Mas este é um assunto que irei desenvolver em breve no "Quanto Mais Quente Melhor".
17-12-2006 18:23
A. JoãSoares disse...
Caro deprofundis,Deixei, há pouco, em VOZSURDA um comentário acerca dessas promoções e reacções dos generais da Força Aérea, que é mais ou menos do seguinte teor:Expresso as minhas simples opiniões com o espírito do homem do povo que olha à sua volta e ousa exprimir o seu pensamento (como aquele rapaz que num anúncio dizia: há coisas fantásticas, não há?). Não vou ao fundo das questões porque, antes de aprofundar as análises é necessário tomar conhecimento do problema, é indispensável alertar para a sua existência, a fim de, em seguida, os especialistas o escalpelizarem com o devido pormenor.Estão aqui aflorados vários aspectos de um importante problema nacional. O facto de a antiguidade ser considerada um posto é muito discutível, só aceitável para questões de disciplina e protocolo. Nunca o facto de um indivíduo ter sido promovido um dia ou vários anos antes de outro o torna mais sabedor, sensato e com maiores qualidades de liderança do que esse outro.O que é imperioso é que nas FA, como em qualquer sector, exista um critério de avaliação, sem segredos, com conhecimento do avaliado, objectivo, assente em factos concretos da qualidade do desempenho, numa gestão por tarefas bem definidas e avaliadas, por forma a que qualquer escolha não levante dúvidas sobre simpatias pessoais ou prémio de «sabujice». Quando isso existir ninguém pecará ao nomear um oficial menos antigo para funções em que se exige maior capacidade. E não serão elevados ao estrelato pessoas incompetentes com exclusão de Homens mais capazes mas que nunca cometeram a baixeza de se sabujarem a quem poderia ter uma palavra para os promover. É um tema que não interessará aos muitos oficiais psicólogos e sociólogos abordar com realismo e profundidade, porque isso lhes traria os consequentes inconvenientes.Um abraço e votos de Feliz Natal aos visitantes deste espaço A. João Soares
17-12-2006 19:33
vozsurda disse...
Alguém andou a dar com a língua nos dentes, é o mesmo que acontece na estrada com as ultrapassagens... Agora começa a vir a público o código de conduta das altas patentes. vejam no http:www.vozsurda.blogspot.com
18-12-2006 13:06
A Decisão do TEDH (394)
Há 41 minutos
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