quarta-feira, 26 de julho de 2017

OS CÃES LADRAM E A CARAVANA PASSA

Os cães ladram e a caravana passa
(Publicado no semanário O DIABO em 170725)

No meio das múltiplas notícias sobre a tensão crescente entre a Coreia do Norte e os EUA recordei o aforismo dos tempos de criança «os cães ladram e a caravana passa». É desconcertante a atitude infantil do líder da Coreia do Norte ao querer trepar para um patamar que o coloque ao nível do presidente dos EUA. E é demasiado traquina ao ponto de não recuar ao ver o porta-aviões e a sua esquadra perto da costa. Mas também é pouco racional a atitude dos EUA de se mostrarem preocupados com a traquinice renitente de Kim Jong-Un que, por enquanto, não causou danos pessoais nem materiais.

Ter mísseis não é crime. É, apenas, a imitação de variados Estados que, como como a Coreia do Norte, são membros das Nações Unidas, que é considerada uma Instituição Internacional defensora das relações internacionais democráticas. Ter armas nucleares também não consta que seja crime e o exemplo vem dos próprios EUA, os quais já a utilizaram causando resultados catastróficos no Japão. É certo que o Conselho de Segurança tem imposto restrições a pequenos países a quem não concede os direitos que os cinco grandes – com assento permanente e direito de veto – usam ostensivamente e de forma nada democrática, considerando-os exclusivamente seus.

Mesmo que a Coreia do Norte, numa das suas experiências, por erro de pontaria, provoque alguns danos, não será original face aos estragos feitos pelos EUA em diversos pontos do globo em territórios de estados soberanos, como Iraque, Líbia, Síria, etc. Mas, se e quando houver tais danos provocados pela Coreia do Norte, então já é motivo para a resposta dura que está sendo prometida, ameaçadoramente, por Trump.

Mas é imperioso que seja seguida, com sensatez e inteligência, a sugestão da China e da Rússia de procurar por conversações, diálogo e outros efeitos da diplomacia, terminar a tensão existente e procurar uma convivência pacífica entre os Estados e que deixe de haver «miúdos traquinas a fazer e prometer perrices» só para irritar o graúdo. E um outro aforismo antigo diz «cão que ladra não morde» e aplica-se a ambos os lados das contendas de crianças.

Mas o norte-coreano tem obtido êxito com as suas traquinices levando a comunicação que temos a dar-lhe nome e imagem muito acima do valor e poder do seu pequeno país. Porém, apresar de tudo, convém não exagerar na escalada de ameaças verbais, para não correr o risco de ultrapassar a linha limite da paciência de uma das partes, principalmente da mais forte.

A propósito desta escalada de provocações, um recente artigo de opinião do principal jornal norte-coreano, o Rodong Sinmun, dizia que "os Estados Unidos afirmam que vão enviar de forma regular bombardeiros estratégicos para a península da Coreia, um acto tão disparatado como voltar a atear fogo em cima de um depósito de munições". Seria mais prudente que de ambos os lados, houvesse contenção e fossem desenvolvidos gestos significativos de desejos de harmonia e convivência pacífica, em condições serenamente definidas. Quem teria mais a ganhar seria, logicamente, o menos forte e, na sequência, toda a humanidade, por desaparecer este foco infeccioso qua ameaça graves perigos para o planeta.

António João Soares
Em 18 de Julho de 2017

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terça-feira, 18 de julho de 2017

RISCO DE NOVO CONFLITO MUNDIAL

Risco de novo conflito mundial
(Publicado no semanário O DIABO em 170718)

O risco de uma nova guerra mundial tem vindo tornar-se mais iminente. Perdeu-se o respeito pela soberania dos Estados, actuando militarmente no seu território sem restrições de objectivos, nem de efeitos destrutivos. Desde a invasão do Iraque em 2003, por motivos irreais e afirmações que pouco depois não foram confirmadas, a situação no Médio Oriente tem sido agravada, sendo actualmente demasiado preocupante para a Paz mundial.

A Síria tem-se confrontada com uma oposição violenta que tem beneficiado do apoio dos EUA, com variações de processos, mas sempre declarados com a intenção de derrubar o Governo legítimo.

O agravamento desta hostilidade americana deu-se quando o Qatar, sendo um dos maiores produtores mundiais de gás natural l pretendeu exportá-lo para a Europa, passando o gasoduto através da Jordânia e da Síria, a Leste de Israel e do Líbano, para, depois, atravessar o estreito de Bósforo para a Europa, o que era apoiado pelos EUA. Mas a Síria onde já passava o gasoduto russo da Gazprom, foi aconselhada por Putin a não permitir tal passagem por isso lhe ir dar um forte concorrente e tirar-lhe o monopólio na Europa. Assad ficou entre dois fogos, de duas grandes potências.

Depois disso, a América não hesitou em apoiar a oposição ao regime Sírio e declarar o seu desejo de fazer apear o líder do país soberano. Incompreensivelmente, não teve relutância de apoiar elementos de um grupo activo da oposição ao governo que beneficiava da acção paralela d elementos do Estado Islâmico e de se contradizer na recente visita à Arábia Saudita, onde foi vender 110 mil milhões de armamento e onde empurrou os estados da área para eliminarem o terrorismo e aqueles que o apoiam. Logo se levantaram vozes a referir que o comprador das armas destinaria muitas delas para apoio ao terrorismo. O discutível bloqueio diplomático ao Qatar, o produtor do gás natural a que atrás foi referido, também é difícil de explicar. E mais difícil de perceber foi a venda que lhe foi feita pelos EUA de aviões caças, no valor de 21,2 bilhões de dólares.

Entretanto a China aconselhou os Estados do Médio Oriente a procurarem entender-se, usando a diplomacia e não a violência. Mas os EUA não usam o diálogo, mas têm apetência pela força, como no dia 17 de Junho em que um caça-bombardeiro Su-22 Sírio, estava a atacar unidades das SDF (Syrian Democratic Forces), foi derrubado por um F/A-18E Super Hornet americano o que veio ilustrar o empenho de Washington em assumir o controlo das ações militares no leste da Síria e em negar a área à ação das forças de Damasco. A desculpa dada é que o caça-bombardeiro Su-22, estava a atacar unidades da coligação de milícias curdas e árabes patrocinada pelos Estados Unidos.

O acentuado agravamento que isto representa para a situação resulta de que Moscovo reagiu de imediato ao incidente ameaçando passar a tratar os aparelhos americanos, em ação na área, como elementos hostis e anunciando o corte das comunicações directas com o comando americano.

Significativo é que o derrube do Su-22 sírio surge na sequência de uma série de ataques americanos às forças fiéis ao regime de Damasco no mês de Maio, em particular no leste da Síria. No início de junho os EUA derrubaram um drone sírio perto de al-Tanf, na fronteira sírio-iraquiana. Em maio, aviões americanos bombardearam um comboio de forças sírias que se estariam a aproximar de uma base usada por milícias rebeldes e por forças especiais americanas. E, em setembro do ano passado, aviões americanos que diziam actuar contra posições do Estados Islâmico (EI) atingiram "por erro" tropas sírias, matando dezenas de soldados.

Neste momento as palavas e os actos de Trump e de Putin devem ser bem analisados para não sermos apanhados totalmente desprevenidos e, depois ficarmos espantados e surpresos com aquilo que acontecer.

Mas os perigos de guerra surgem também nas provocações à Coreia do Norte com vista e ela parar com as experiências com mísseis e com a preparação de armas nucleares, quer com porta-aviões e outros navios quer com aviões de combate, dois bombardeiros, em exercícios reais em território da Coreia do Sul perto da fronteira. Um jornal norte-coreano já alertou Washington para que «um simples erro ou mal-entendido pode conduzir à eclosão de uma guerra nuclear». Um outro jornal diz que tais provocações são «um ato tão disparatado como atear fogo em cima de um depósito de munições». Neste caso, tanto a China como a Rússia têm sugerido que será mais sensato recorrer à diplomacia para se aliviar a tensão existente e evitar um conflito armado.

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terça-feira, 11 de julho de 2017

SERÁ QUE A RESERVA MORAL DA NAÇÃO ENFRAQUECEU?

Será que a reserva moral da Nação enfraqueceu?
(Publicado no semanário O DIABO em 170711)

A tragédia que afectou muitos portugueses do interior, principalmente da denominada «zona do pinhal», com os fogos florestais, deve ser motivo de boa reflexão. Foi um grande abalo, principalmente por terem sido criadas leis com medidas para os prevenir, mas que não foram concretizadas no terreno por não terem sido criadas condições adequadas. Com as alterações ocorridas nas técnicas agrícolas que tornaram menos utilizados os matos, a caruma e os ramos dos pinheiros, o que mantinha as florestas permanentemente limpas, os fogos tornaram-se mais frequentes e é incompreensível, perante tais evoluções, a decisão de extinguir a Guarda Florestal que teria um papel importante na supervisão do cumprimento das regras legisladas destinadas a evitar incêndios e, também como consequência, na mentalização das populações, autarquias e serviços inerentes à prevenção. E nada ficou com aptidão e missão para a substituir, nessas indispensáveis tarefas. A imposição das adequadas medidas preventivas reduziria a calamidade que, desde há vários anos, ameaça com gravidade crescente as vidas e os bens dos habitantes das áreas mais desprotegidas.

Mas, quase ao mesmo tempo desta tragédia, a Nação sofreu outro forte abalo, o da ineficácia das forças que em tempos foram denominadas «reserva moral da Nação». Por incúria, parece que continuada, mostraram que não são capazes de defender a Nação, pois nem sequer conseguem impedir que lhes furtem o armamento guardado em paióis que era suposto serem guardados de forma a torná-los invioláveis.

Quais as causas deste furto, como de outros já ocorridos nos seus quartéis e também na Polícia. Parece haver um enfraquecimento da disciplina, da dedicação ao cumprimento do dever, do sentido de responsabilidade, incutido na mente dos recrutas do serviço militar obrigatório (SMO). Mas este foi extinto como o foi a Guarda Fiscal. Parece doença endémica generalizada!

Desapareceu o culto da excelência e poucos procuram evidenciar-se pelos resultados excelentes das suas acções. Noutros tempos, não havia horário para, à tarde se sair das unidades, pois isso não dependia de relógio mas sim do «toque de ordem», quando a ordem de serviço já estava afixada nas vitrinas das subunidades. Não era muito utilizada a dureza da instrução porque essa era doseada por forma a dar importância à acção cívica, à disciplina, à actividade em trabalho de equipa com vista a objectivos e tudo isso orientado para o respeito pela Pátria, para a defesa do País e dos interesses colectivos. Era a procura da eficiência com vista à segurança das pessoas e dos materiais.

Há quem diga que os militares que se encontram de guarda aos quartéis, por receio de acidentes com arma de fogo, não têm condições para responder com a necessária rapidez a agressores violentos. E é preciso adequar as condições de actuação de sentinelas ao momento actual de ameaças de terrorismo e outros actos violentos. Há casos em que a reacção dos responsáveis pela segurança tem que ser imediata e adequada às circunstâncias. Portanto a instrução deve preparar o pessoal para reagir prontamente a situações críticas, sem perder a sensatez e o auto-domínio.

Resumindo, estes dois acontecimentos indesejáveis exigem dois tipos de decisões imediatas uma com efeito relativamente rápido e outra de resultados mais demorados mas sustentáveis no futuro. A primeira consiste em remediar os danos causados, com medidas adequadas. A outra traduz-se em analisar cuidadosa e rigorosamente as causas do sucedido e preparar medidas muito correctas e ponderadas para o futuro, a partir de agora, para colmatar os erros, omissões, falhas de organização, desleixos, irresponsabilidades, etc. que ocasionaram os acidentes. Assim se definirão lições de organização e procedimentos que evitem repetições de situações críticas.

Será bom que o sucedido no mês dos Santos populares seja bem aproveitado como lição e incentivo para serem realizados melhoramentos nas instituições públicas por forma a terem mais eficiência nos resultados a obter, a bem dos interesses nacionais. Façamos tudo para bem da Pátria, que é de todos nós mas que muitos ignoram e desprezam. Defendamos todos e cada um dos seus sectores, desde a floresta até à força moral dos defensores de Portugal, que devemos defender em todos os aspectos, quer físicos e materiais, quer cívicos e morais. Façamos tudo quanto pudermos para tonificar a reserva moral da Nação, para darmos ao mundo novos exemplos de bem-fazer, como diria Luís de Camões se ainda fosse vivo.

António João Soares
4-07-2017

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terça-feira, 4 de julho de 2017

A ÉTICA DEVE SER SEMPRE RESPEITADA

A Ética deve ser sempre respeitada
(Publicado em O DIABO em 4 de Julho de 2017)

O valor de um ser humano depende fundamentalmente da sua interacção com os outros, isto é, da ética ou civismo com que se comporta. Isso manifesta-se de múltiplas formas, em diversas ocasiões, em que o respeito pelos outros é posto à prova.

Na circulação rodoviária há o código da estrada que define os deveres e direitos de cada um e são definidos por lei, entre muitos outros aspectos, o direito de prioridade e a proibição de estacionamento em condições que afectem os direitos de circulação de outros. Para o movimento de peões não existe um código semelhante e, por isso, deve haver ética e preocupação de não prejudicar o direito de os outros usarem o espaço público, com o máximo de comunidade.

Estou a recordar-me daquilo que se passou comigo, há algum tempo, no acesso à Estação da CP do Rossio. Como vinha fazendo desde algum tempo, saía do Metro dos Restauradores, entrava para a estação e subia a escada rolante. Naquele dia em frente da entrada estavam duas senhoras, talvez mãe e filha, tendo saído ou querendo entrar, que tinham alguma hesitação e conversavam (ou discutiam) e dificultando que outra pessoa entrasse ou saísse sem ter de as empurrar para um lado. A seguir, um casal estava a impedir o acesso à escada rolante que subia, sendo preciso dar-lhe um toque no braço e dizer «com licença, faz favor». Dias depois, neste segundo local, um indivíduo, a caminhar para trás, ao mesmo tempo que conversava com outras pessoas, obrigou-me a dar um salto para não tropeçar na perna dele e cair. Tal queda poderia ser danosa para um octogenário.

Estes casos não são raros, infelizmente, e demonstram impreparação de muita gente para viver com respeito para com os outros tal como desejam para eles. Uma distracção pode ocorrer, mas não deixa de significar falta de civismo, de ética, de educação.

Mas nem tudo é mau. Gosto de dizer «obrigado» e de fazer algo que me dê o prazer de ouvir essa palavra sempre agradável. Una dias depois do atrás referido e quando andava a reflectir sobre o caso, ouvi-a duas vezes dita de forma simpática. Às 08h00, na fila de espera para a Loja do Cidadão, estava à minha frente um mais idoso do que eu, apoiado numa bengala e mexendo as pernas mostrando incomodidade de estar em pé, como havia uma esplanada com cadeiras, aconselhei-o a sentar-se numa e que eu lhe guardaria o lugar na fila. Esta foi-se movendo por acomodação das pessoas e, às 08h30, iniciou-se a movimentação decisiva, olhei para trás e vi o sr já de pé, mostrei-me para saber onde eu estava e lá tomou o lugar inicial, com um obrigado. A segunda vez, depois de almoço, descia uma calçada muito inclinada com passeio estreito, com carros estacionados e vi que uma senhora vinha a subir, com a fadiga própria da inclinação da via, e para não termos o incómodo de ambos pararmos e nos espremermos para passar, parei num espaço mais folgado e esperei que ela passasse e ouvi o reconfortante obrigado.

Enfim, não é difícil ser amável e, muitas vezes, ouve-se o prémio da ética. Ouvir um «obrigado», «faz favor» ou outra amabilidade semelhante reconforta e dá energia para enfrentar as dificuldades da vida. Mas o relacionamento de harmonia e paz deve também existir entre os Estados e é justo que se cite o exemplo dado pela China que se preocupa muito com a boa harmonia entre Estados, como o tem demonstrado em vários casos. Antes do século VII a.C. iniciou a construção da emblemática muralha para evitar a invasão de Mongóis de outras tribos nómadas, evitando guerras. Mesmo assim, a Mongólia invadiu o seu território durante quase todo o século XIII, mas conseguiu que saísse. Também, tendo no século XIX sofrido duas invasões pela Grã-Bretanha, na «guerra do ópio», conseguiu libertar-se dos invasores. Também depois da II GM se conseguiu libertar da invasão pelo Japão. Em 1 de Abril e 2001 interceptou no seu espaço aéreo um avião espião americano EP3 que, entretanto, chocou com um dos caças chineses, que acabou por cair no mar com o piloto, e obrigou-o a aterrar na ilha de Hainan, tratando com humanidade os seus tripulantes e permitindo a sua retirada cerca de duas semanas depois.

Não consta na história que a China tivesse desencadeado qualquer guerra e merece destaque o acto de o Governo chinês ter recomendado em 05-06-2017 aos países árabes que se "mantenham unidos", face à decisão da Arábia Saudita, Egipto, Emiratos Árabes Unidos e Bahrein de romperem relações diplomáticas com o Qatar, e depois de Trump, durante a sua visita à Arábia Saudita, ter incitado ao recrudescimento da luta contra os apoiantes do terrorismo. Segundo a China, esses países devem gerir adequadamente as suas diferenças através do diálogo e consultas, e manterem-se unidos para promoverem, conjuntamente, a paz e a estabilidade regionais.

Assim, verificamos que a ética e o bom relacionamento devem ser tidos em consideração nas relações entre todos os seres humanos de qualquer classe social, até aos mais poderosos governantes.

Runa, 30 de Maio de 2017
António João Soares

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