Recebi, por e-mail, do Amigo F.O. esta opinião, acerca da convocação por um hospital de uma pessoa falecida há 13 anos e, por se tratar de uma análise muito judiciosa e adaptada à realidade actual, não resisti à tentação de a apresentar aos visitantes deste espaço. Espero que me releve esta ousadia.
Caro amigo,
É com imenso prazer que registo a sua continuada vontade de intervir na vida pública deste País.
Este caso que aqui relata, somado a tantos outros de que vamos tendo noticia, revela a ponta do iceberg de lixo que não de neve ou gelo, em que se tornou a nossa sociedade.
Do que vejo, esta sociedade tornou-se permissiva deste tipo de situações. Estes e tantos outros casos chocantes merecem punições exemplares. Mas, como punir se os que o deviam fazer têm "telhados de vidro"?
O controle da sociedade, do povo em geral sobre os que executam as politicas e sobre os que as definem é nulo.
Como decorre das evidências que nos chegam pelas televisões, jornais e todos os outros meios de comunicação, os nossos políticos prometem uma coisa e fazem outra. Isto não é aceitável. Não é passível de fácil digestão.
E contudo, o povo, nós todos, estamos impávidos e tranquilos, ruminando na serena e "aboizada" expectativa de que o futuro seja melhor....
O futuro, será o que for. Mas não o que o povo quer. O povo neste País não tem voz, por muito que o queiram convencer do contrário.
A chamada DEMOCRACIA, aqui, foi pervertida por um sistema politico em que o controle ficou nas mãos de quem devia ser controlado.
Explicando melhor, o "sistema representativo" em que se fundamenta a nossa "democracia", pode ser controlado e ter a sua garantia de correcto funcionamento por duas vias: A da confiança ou a dos sistemas de contra-poder.
Num negócio, a generalidade das pessoas de bom-senso exige garantias claramente expressas e exequíveis para suprir as responsabilidades que se definem contratualmente.
P. ex. um empreiteiro, tem que prestar garantias da sua competência e capacidade para lhe ser entregue a execução de uma obra, etc..
No nosso sistema politico, os responsáveis apresentam o seu caderno de encargos mas não são obrigados a nenhum tipo de garantias para suprir as suas eventuais falhas. Nem sequer é possível julgá-los pelos disparates que fazem enquanto decisores políticos.... Só os evidentes casos de corrupção, com perversão e/ou ultrapassagem das leis são passiveis de avaliação e por vezes de acusação.... que de condenação efectiva.... nem falar.
Este é o sistema típico dos países do sul, ditos de brandos costumes.
Nos do norte, a situação é um pouco diferente. Adoptou-se o sistema de controle por contra-poder. Nesse sistema, os consensos, por incrível que pareça, são mais frequentes pois ninguém propõe leis que não possam ser aceitáveis para um número claramente alargado de cidadãos. E nos mecanismos de contra-poder são incluídos elementos de alguma independência, senão politica pelo menos técnica.
Mesmo aí a corrupção é coisa comum, motivada pela necessidade de manutenção do poder pelas classes ditas dominantes, em que avultam naturalmente as de maior poder económico e as que fazem carreira na politica.
Pervertendo a noção de democracia. Aquela noção de que todos somos iguais perante a lei... E de que todos valemos o mesmo no momento de expressar as nossas opiniões através do voto.
Que solução vejo para este estado de coisas?
Vejo a necessidade de uma revolução. Revolução no sentido literal do termo ou seja, mudança. É necessário que os políticos sejam afastados do poder para que todos os cidadãos se sintam na necessidade de ser políticos. Qualquer um, hoje, tem o direito de não se querer "sujar" no convívio com os escroques que pululam no meio dessa classe. Mas quem assim pensa, não poderá apresentar a mesma objecção se toda a sociedade for envolvida. Como deve! Se toda a sociedade for envolvida de forma coerente, isso proporcionará condições para este País ter o que lhe falta: - Coesão e objectivos!
Dir-me-á que o que aqui exponho é utópico. E eu, evidentemente concordo. Mas como ambos sabemos que isto hoje é tecnicamente exequível, eu ressalvo esse caracter utópico e deixo a possibilidade em aberto. Não me parece que este tipo de revolução possa nascer num País como Portugal. A cuja sociedade faltam ingredientes que me parecem essenciais. Do baixíssimo nível cultural á enorme diversificação de interesses na nossa comunidade, tudo se adiciona para condicionar a indispensável "massa crítica" para levar a cabo uma tão profunda mudança.
Como tem sido habitual na história, penso que acabaremos por ser arrastados pelas mudanças que se produzirão noutros espaços, feitas por outros povos, com valores um tanto diferentes dos nossos. Não serão as ideais, mas serão como sempre, as possíveis. Ou talvez não seja assim, se pudermos aproveitar as oportunidades que esta dita Comunidade Europeia nos coloca á porta!
É por estas razões que renovo a expressão do meu prazer em ler o que o amigo escreve em conjunto com os que se dedicam a colaborar nesses espaços de opinião.
Um abraço.
F O
A Decisão do TEDH (396)
Há 1 hora
3 comentários:
E assim vai a nossa Democracia, que para o lado do povo, não tem nada de Democrático! Eles, querem põem e mandam! Em véperas de eleições, é vê-los em tudo quanto é sítio a fazer promessas de melhoria ( vender banha da cobra ). Quando atingem o poleiro, olham-nos sobranceiramente e aínda por cima o povo é que é o mau da fita.
Obrigado Amigo Víctor Simões pela visita e pelo comentário.
A triste realidade é essa. É este o tema do artigo de Silva Peneda inserido no post
http://joaobarbeita.blogspot.com/2007/01/o-vendedor-da-banha-da-cobra.html
Ali, de forma discreta e sem dizer nomes, é descrito esse fenómeno das mentirosas promessas em vésperas de eleições, que depois não há ninguém, nenhum organismo isento, que as compare com as realidades da governação e peça contas e sancione, como acontece de certo modo nos países mais evoluídos do Norte da Europa e como acontece em qualquer contrato na vida real. Os nossos políticos praticam a imoralidade de se considerarem inteiramente imunes perante qualquer lei, que consideram ser aplicada apenas aos comuns mortais da «classe civil».
Um abraço
A. João Soares
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