quinta-feira, 29 de agosto de 2019

IDOSOS, MAS NÃO ABANDONADOS

Idosos, mas não abandonados
(Publicado em DIABO nº 2226 de 30-08-2019. Pág 16. Por António João Soares

Um artigo recente baseado num estudo profundo sobre a problemática dos idosos, defendia a necessidade de os centros de dia reverem a política de apoio aos idosos, não só com vista à sua situação de fragilidade, mas devendo focar problemas de isolamento e de ocupação do espírito a fim de terem um envelhecimento mais lento e agradável. Os centros de dia já são procurados mais pela necessidade de convívio social do que pela fragilidade financeira.

O tema não me é estranho e fez-me recordar dois artigos que publiquei n’O DIABO em 21 de Março de 2017 e em 13 de Junho de 2017, nos quais salientava que “os idosos não precisam apenas de comer e dormir”, mas também de apoio para continuarem a possível actividade física e a intelectual, psíquica, emotiva e social. Referia num desses textos que na Holanda há um apoio regular de jovens estudantes a lares de idosos, ao ponto de alguns destes lhes darem alojamento para lhes facilitar a acção de conversar e distrair os idosos internados. Está assente que a continuação da ocupação mental e a realização de trabalhos, de arte, de cultura, agradáveis e com utilidade para o próprio e para terceiros, prolonga a vida e adia a chegada de doenças próprias da idade ou mesmo evita-as, como o Alzheimar que hoje aflige tanta gente.

Estes cuidados com os idosos devem ser aplicados, dentro das possibilidades existentes, com mais ou menos engenho, não apenas nos lares mas também em família, na vizinhança e em grupos de amigos. Acerca disto, o Papa Francisco disse que a vida não pára com a reforma e, com o envelhecimento, aumenta-se o saber armazenado, dando mais valor a coisas essenciais pois “a felicidade interna não vem das coisas materiais do mundo… Quando se tem amigos e irmãos, com quem falar, rir e cantar, isso é felicidade verdadeira”.

Algum tempo antes de entrar no lar onde estou há mais de dois anos, vivia só, num pequeno apartamento, e precisei de substituir a lâmpada do tecto da cozinha. Peguei no escadote e coloquei-o de maneira a tirar a lâmpada a fim de ir comprar uma com rosca igual. Quando ia a colocar o pé no primeiro degrau, pensei que podia cair e depois ficar no chão com fracturas que me impedissem de pedir o socorro conveniente. Desisti de subir e pedi a um amigo para me ir segurar o escadote. Esse amigo foi lá acima retirar a lâmpada e eu é que amparei o escadote. Fomos comprar a lâmpada e ele voltou a subir o escadote e a colocá-la.

O idoso não deve viver sem um apoio que actue em qualquer emergência, como quando não possa ligar o telefone. Convém que as autoridades pensem em formas de apoio social de convívio, de conversa, etc. Certamente, com tal apoio eficiente evitavam-se muitas mortes dramáticas com demoradas agonias e, talvez, suicídios que servem de fuga à dor física e moral. Há já alguns anos, em Rio de Mouro, uma senhora solteira, que vivia só, deixou de aparecer. Deixou de pagar o imposto do apartamento, as Finanças depois de passados uns anos apoderaram-se da casa, sem lá irem, e venderam-na em leilão. A senhora que a comprou, ao entrar e dar dois passos, deparou com o cadáver. Quanto sofrimento teria tido, sem apoio, antes de falecer?

Aqui, estou bem apoiado e, com a minha filosofia de actividade até ao fim, não tenho falhado com o meu artigo em todos os números do jornal. E também não tenho faltado a um convívio semanal com um grupo de bons amigos.

Além de lares e de centros de dia, as autoridades devem procurar manter activo o lado espiritual, psíquico, das pessoas, fomentando a ocupação cultural, a curiosidade pelo que se passa, a transmissão do seu saber acumulado durante a vida e fazer algo de útil, em trabalhos de lavores, de pinturas, de artesanato, de bricolage, de arte musical, etc. ■

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quinta-feira, 22 de agosto de 2019

ÁGUA ATÉ QUANDO?

Água até quando?
(Publicado no DIABO nº 2225 de 23-08-2019 pág 16)

Estudo internacional, nos 154 países analisados, coloca Portugal entre os 44 que esgotam, pelo menos, 40% das suas reservas de água. Isto coloca-nos numa situação de elevado risco de escassez de água. Há também outros 17 países, que representam um quarto da população mundial, em risco extremamente elevado. A pressão que os leva a consumir 80% das suas reservas de água por ano são a agricultura, as indústrias e os municípios.

A escassez deste produto vital coloca sérias ameaças ao ser humano, à sua subsistência e à estabilidade económica. Para que esta ameaça não se concretize com brevidade, os países devem tomar medidas adequadas, controlando o crescimento da população, o desenvolvimento socioeconómico e a urbanização, factores que estão a provocar uma maior procura de água. Por outro lado, as alterações climáticas podem tornar mais imprevisto o agravamento.

Há que evitar desperdícios de água e aumentar o armazenamento da existente em barragens adequadas, e deve ser encarada a reutilização de águas residuais como uma solução adicional, podendo, com tratamento aperfeiçoado, gerar uma nova fonte de água potável. Nos países com maior carência, esta solução será importante porque 82% das suas águas residuais não são reutilizadas.

A pressão de falta de água não é necessariamente uma fatalidade e pode ser reduzida através do aperfeiçoamento da gestão dos recursos existentes. Evitar desperdício no consumo doméstico, apostar em técnicas de rega eficientes e económicas, fazendo com que cada gota de água conte, investir em infraestruturas mais amigas do ambiente e intensificar a reutilização das águas residuais, em jardins, agricultura, limpezas urbanas e até nas sanitas domésticas.

Sem dúvida que poupar, enquanto a há, deve ser um cuidado a ter por todos os consumidores, mas deve ter apoio didáctico nas escolas e em contactos com a população, a fim de ser obtida boa melhoria dos comportamentos, embora isso, só por si, não evite o esgotamento.

É difícil pensar como será a nossa vida quando deixar de haver água. Por isso, além da redução de consumo nos factores atrás referidos, agricultura, indústrias e municípios, há que cuidar do armazenamento, evitando que corra para o mar sem ter o devido aproveitamento prévio, que se construam mais barragens e que as existentes tenham adequado aumento de capacidade, dentro do possível pelo aprofundamento das encostas submersas. Muitas das barragens existentes carecem desse trabalho porque a sua criação resumiu-se à construção do muro de sustentação da água. E pode ser obtido grande aumento da capacidade de armazenagem sem entrar nos terrenos particulares vizinhos.

E Portugal tem a grande benesse de uma extensa ligação ao mar, dando-nos uma larga possibilidade de preparar, desde já e antes que seja tarde demais, o aproveitamento da dessalinização da sua água. É certo que a água proveniente do mar não tem as qualidades a que estamos habituados, recolhida de nascentes nas nossas serras menos poluídas. Mas, à falta de melhor, há muita gente a viver dela em Cabo Verde, e em países com territórios áridos próximos do mar.

Uma fábrica de dessalinização não é uma obra fácil nem de rápida construção, pelo que não podemos adiar a ideia até ao momento em que ela seja realmente necessária. Então, pode ser demasiado tarde. No Verão de 2018 a Cidade de Viseu, perante a seca da barragem de Fagilde, no rio Dão, viu-se na necessidade de abastecer o seu depósito central com colunas de autotanques que se deslocavam a 40Km de distância. Na próxima seca, quantas cidades terão de usar a mesma solução e a que distância encontrarão o desejado maná? Com uma dessalinizadora na costa, passando a água pelas canalizações existentes dispensaria o dispêndio dos muitos autotanques. E, depois de construída a primeira, ela servirá de modelo e ensinamento para construir as necessárias.

Não hesitemos. Estamos entre os 44 Estados mundiais com maior perigo. Não fiquemos à espera de milagres, como tem acontecido com a prevenção de incêndios florestais. ■

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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

GREVES POLÍTICAS?

Greves políticas?
(Publicado em (O DIABO nº 2224 de 16-08-2019, pág 16)

Nos últimos anos, têm sido noticiadas, e sentidos os seus piores efeitos, greves nos mais diversos sectores públicos, inclusivamente num dos três poderes da soberania, o Poder Judicial.

Por definição, “greve é a cessação colectiva e voluntária do trabalho realizado por trabalhadores com o propósito de obter direitos ou benefícios, como aumento de salário, melhoria de condições de trabalho ou direitos laborais, ou para evitar a perda de benefícios”. Portanto, o direito à greve deve ser uma ferramenta da luta entre trabalhadores e seus patrões, sempre que não conseguirem acordo através de conversações amigáveis. Mas não é aceitável nem justo, no caso de serviços públicos como saúde, transportes, ensino e outros, que, por interesse de poucos, se causem sacrifícios e prejuízos a todos os cidadãos que sejam utentes ou clientes de tais serviços públicos, que existem para servir a população.

Tem sido tolerado pelo Governo que pessoas morram por falta de cirurgias ou outros tratamentos urgentes que deviam ter sido efectuados com oportunidade, que outras pessoas faltem aos empregos ou cheguem muito atrasadas, devido a greve do transporte que habitualmente utilizam. Se há desentendimento entre trabalhadores e patrões de serviços ou de empresas, não é justo que sejam prejudicadas pessoas que são apenas utentes e clientes e não têm culpa de irregularidades que existam entre patrões e empregados, nem têm possibilidade de contribuir para solucionar tais diferendos.

Para isso, os trabalhadores, além do diálogo ou negociação, dispõem da greve de zelo que em nada prejudica utentes e clientes e até os pode beneficiar. Apenas visam a administração do serviço ou empresa que, além de receber menos, tem mais despesas pelas exigências de melhores condições de trabalho e insatisfação no serviço, incitando a exigências que antes eram toleradas.

Como se nota que, na vida pública actual, tudo o que acontece tem uma intenção inconfessada na luta interpartidária e hoje estão na berra novas teorias sociais, demasiado fantasiosas e desajustadas das tradicionais, não deve ser posta de lado a hipótese de pressão de oposicionistas que, manipulando os sindicatos, procurem prejudicar e criar mal-estar na imagem do Governo frente às próximas eleições. Perante isso, o Governo deve, nos serviços públicos favorecer o relacionamento entre os diferentes graus de funcionários, criando harmonia que gere esperança de breve aumento da justiça social e da equidade, reduzindo o leque salarial, em muitos casos demasiado injusto e irritante.

Com a exagerada prioridade que muitas teorias recentes dão aos direitos, em detrimento dos deveres, nesta época em que o tema mais falado é o da greve dos motoristas dos transportes de matérias perigosas, aparecem umas virgens míopes que defendem os grevistas com termos como estes “eu digo Força Motoristas, estivadores e outros camionistas e povo em geral unam-se numa só voz... mostrem a esta corja de ladrões e corruptos que quem manda na Nação ainda é o povo...”. Pobre povo, dependente desta gente.

Mas a realidade no sector laboral leva a considerar urgente a revisão da situação de muitos trabalhadores que funcionam como autênticos escravos que, com o seu trabalho pago apenas com o salário mínimo, alimentam empresas com bons lucros pagando desproporcionadamente a gestores, incluindo prémios de desempenho em anos em que os lucros “fiscais” foram mínimos ou mesmo negativos. A ética recomenda mais justiça social e menos discrepância salarial e que entre os vários degraus haja melhor relacionamento, até para fins didácticos, melhorando a eficiência dos menos aptos.

Quanto à substituição da greve por soluções que não afectem a população, há a solução do Movimento Zero de agentes da Segurança Pública que aqui foi referida e a atitude do CEMGFA perante o MDN.

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sábado, 10 de agosto de 2019

FOGOS INEVITÁVEIS?

Fogos inevitáveis?
(Publicado no DIABO nº 2223 de 09-08-2019, pág 16)

Em 2017, após os incêndios florestais de Pedrógão Grande que alastraram por enorme área onde causaram imensos prejuízos em instalações de habitação e agrícolas e em terrenos cultivados, bem como perdas de vidas, o Governo, através de palavras muito sonoras e largamente repetidas, criou na população a convicção de que não voltaria a sofrer efeitos de tragédias semelhantes.

Mas passados dois anos houve, além de outros, o caso de Mação, que abrangeu uma área assustadora, o que nos faz interrogar sobre as medidas concretas resultantes das intenções governamentais prometidas pelas palavras de esperança tão badaladas. Mas de tais promessas começou por se ver uma medida legal tão inadequada que teve de ser alterada nos prazos muito curtos que impunha para a limpeza nas vizinhanças de habitações e de povoações. Mas, apesar de terem surgido nos jornais opiniões de técnicos conceituados para se fazer uma reestruturação da floresta por forma a circunscrever a área de cada incêndio e outras medidas concretas já aplicadas noutras áreas próximas da nossa fronteira, o Governo teimou nas suas ideias e a intenção não faz milagres. Não se lembrou que seria útil pedir a colaboração de técnicos competentes para uma reunião de análise a fim de ser decidida uma solução, com pés e cabeça.

Acerca do fracasso da prevenção prometida, o Sr. Ministro da Administração Interna devia explicar as medidas que tomou para prevenir incêndios tão dramáticos. Quais as razões por que não foram eficazes para evitar os incêndios de agora? Porque não foram tomadas medidas melhores? Possivelmente, alguns dos seus colaboradores deram lhe um apoio menos conveniente ou pressionaram a adopção de medidas ineficazes? Que colaboradores despediu por o não terem ajudado a ter êxito?... Mas a fantochada continua. E a responsabilidade é toda atribuída ao povo que atura, sem reagir de forma eficaz e definitiva, os que agem em nome do governo.

E, na denominada limpeza da floresta, por melhor que se rape toda a vegetação rasteira, a Primavera seguinte faz cobrir o terreno de nova camada vegetal que seca no Verão, ficando pronta para as criminosas intenções de pirómanos a mando de bandidos com capacidade para lhes pagar. E, perante os pirómanos, havia que preparar a Justiça para aplicar penas que desencorajassem novos incendiários e seus apoiantes.

E, na limpeza das matas, é preciso bom senso e cautela para não destruir miniaturas de futuras grandes árvores, a fim de não transformar o interior num extenso campo desportivo para golf, futebol, etc. Limpeza radical dessa forma deve ser reservada aos aceiros que transformem as encostas numa quadrícula que impede fogos extensos e que tem sido sugerida em escritos de vários técnicos, atrás referidos.

Outra medida muito estranha, ainda não explicada, foi a aquisição de 70 mil golas compradas pela Protecção Civil não para usar em protecção individual, em incêndios, mas para sensibilização de boas práticas, mas que foram comprados com tal urgência que, sendo o “valor de mercado de 74 cêntimos cada”, o Jornal de Notícias garante que o Estado “deu 1,80 euros” na compra feita a marido de autarca do PS.

Com a anunciada subida de temperatura e a relacionada alteração climática, o País ficará transformado num monte de cinzas e de destroços, em pouco tempo, se não forem utilizados processos eficazes de detecção e de combate rápido. Há poucos anos, conheci um jovem que esteve em Barcelona a tirar um curso de pós-graduação e que, na tese, apresentou um sistema de detecção de um fósforo aceso, comunicada automaticamente aos bombeiros os quais accionam o carro de prevenção que, com pouca água, apaga a chama antes de ela se propagar. Em pontos altos bem escolhidos do terreno, montam postes com sensor que indica a direcção da chama e, por triangulação, dão aos bombeiros o seu local exacto para a eliminar. O custo disto resulta da quantidade de postes a instalar e dos aparelhos de detecção e de comunicação por satélite. ■

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domingo, 4 de agosto de 2019

FOGOS FLORESTAIS OU IRRACIONALIDADE POLÍTICA



  Fogos florestais ou irracionalidade política

Havia um corpo de Guarda Florestal que foi extinto por políticos de reduzida compreensão das realidades e sem preocupação com o futuro, isto é, sem visão estratégica. Quando a GF existia, podia haver mentes não esclarecidas sobre as realidades do interior que a consideravam desnecessária mas, no momento em que foi extinta, já se estava num processo de mudança da vida rural e os detentores do poder tinham obrigação de pensar nos dias do porvir, pois já eram visíveis as alterações que se anunciavam na agricultura. Daí a necessidade de uma maior vigilância da área florestal por forma a ser exercido um esforço sistemático de prevenção de incêndios e de rápida acção de combate de algum que surgisse. Além da detecção oportuna de incendiários.

Da minha vida durante mais de 18 anos na zona do pinhal, nunca vi um fogo. E a razão derivava de a agricultura precisar de limpar sistematicamente o pinhal para apanhar a caruma para a cama do gado e o mato para curtir para ser utilizado como adubo das terras, os pinheiros eram aparados para dar madeira para segurar as videiras, o feijão, as ervilhas e os tomates e para lenha para a lareira e o forno do pão. Com isso, obtinha-se uma limpeza tal que, durante os trabalhos na mata, não era necessário muito cuidado para acender uma fogueira para preparar o almoço. Depois, a evolução criou materiais para segurar as videiras, as ervilhas, o feijão etc, e deixou de ser necessário aparar as hastes dos pinheiros. Estas também deixaram de ser utilizadas como lenha da lareira, por haver fogões a gás. O forno do pão também deixou de usado como até aí. Também, o mato deixou de servir como fertilizante das terras por se passar a usar adubo. Também os bois deixaram de ser necessários para puxar a charrua, por passar a haver tractores, deixando de ser preciso o mato para as camas nos currais. E, assim, a mata passou a viver em paz sem a intervenção do homem que a limpava e, daí, a ocorrência de fogos impulsionados por madeireiros que pagam a pirómanos, etc.

Com esta mudança, é de lamentar a falta da Guarda florestal e a generalizada ignorância das condições em que vive o interior e dos cuidados de que este carece quanto a fogos e não só. E, para quem conhece o interior, é muito chocante ouvir os governantes dizer que não têm responsabilidade do que se passa no interior (a maior parte do território nacional), que a responsabilidade da prevenção é dos seus habitantes, etc. etc.

E fecham os olhos aos danos incalculáveis dos incêndios de Vila de Rei, Sertã e Mação, Tomar-Abrantes, Sabugal, etc ao ponto de haver um ministro com grande responsabilidade por omissão de medidas eficazes dizer «Época de incêndios ‘está a correr bem’». Não tenho palavras para exprimir a minha sensação ao ler isto no jornal. Tanta insensatez!!!

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quinta-feira, 1 de agosto de 2019

MOVIMENTO ZERO

Movimento zero
(Publicado em O DIABO nº 2222 de 02.07.2019. pág 16)

A sociedade precisa de viver em segurança, paz e harmonia, o que não é totalmente possível, por haver pessoas subjugadas por egoísmo, ambição, inveja, ódio ou outras moléstias sociais. Para fazer face a tais maleitas, são indispensáveis forças de segurança que garantam a prevenção e a eliminação de ocorrências de comportamentos menos correctos. Tais agentes da ordem pública, devem ter preparação adequada para cumprirem a sua missão, por vezes difícil, mas sempre de vital importância para a população ordeira.

Por isso, os agentes são respeitados e acatados pelos cidadãos educados e apreciadores da sua acção socialmente benéfica. Os seus chefes, a todos os níveis, devem reconhecer o apreço que a população lhes dedica, pelo que devem dar ao pessoal activo a indispensável preparação e instrução para o, por vezes difícil, cumprimento da missão, por forma a daí resultar prestígio e respeito.

Em 10 de Julho, no Cacém, um jovem de 23 anos, com antecedentes criminosos, foi detido depois de ter agredido um agente da PSP que o tentava deter por ter sido chamado pela avó quando ele ameaçou a mãe com um martelo, tendo esta uma criança ao colo. Quando os agentes chegaram ao local, o rapaz mostrou-se violento. Insultou os polícias e ameaçou-os, chegando mesmo a agredir um deles antes de ser manietado e detido. O polícia agredido - que está na PSP há cerca de três anos - sofreu algumas escoriações num dos braços, mas não foi necessário receber tratamento hospitalar.

Também em 19 de Julho, por iniciativa do “Movimento Zero”, dezenas de polícias concentraram-se em frente ao Hospital de Braga, onde estava internado um comissário da PSP que tentara o suicídio com a arma de serviço, no seu gabinete na esquadra bracarense. A manifestação tinha o intuito de alertar para a falta de condições de trabalho na Polícia que, segundo afirmaram, desde o início do ano, já levou três agentes ao suicídio.

Infelizmente, ocorrem situações em que os mais altos responsáveis se alheiam das dificuldades do trabalho dos seus subordinados e os desprezam e desprestigiam, não lhes dando condições para o bom desempenho da missão, o que pode prejudicar a forma como o povo a acata e suporta. Mas chega a acontecer que o povo que muitos governantes consideram pacóvio, se levanta espontaneamente em manifestação de apoio aos agentes a quem devem paz e segurança pública e de quem esperam a continuação dessa garantia. Esta reacção do povo é significativa como ocorreu recentemente em Massamá, quando a associação de moradores se concentrou em frente da esquadra local da PSP a manifestar o seu apoio aos seus agentes, a condenar as agressões e ofensas de que são alvo e prometendo o seu auxílio concreto no terreno contra actos de marginais. “O povo é sereno” e sabe reagir de forma positiva e sensata, dando com isso aos governantes uma magistral lição.

~ Em sintonia, com o sentimento dos moradores de Massamá, nas Forças de Segurança (PSP e GNR) foi criado o “Movimento Zero”, no qual é zero o número de participantes que, no seu serviço, tenham tido qualquer acto menos correcto. Este pormenor dá-lhes direito a reclamar dos seus superiores adequadas condições de trabalho e correcta apreciação das suas actividades, como é o caso do uso de indispensável violência no tratamento de infractores, independentemente de etnia ou cor.

Assim se compreende que em 12 de Julho, na Praça do Império, em Lisboa, durante a comemoração dos 152 anos de PSP, agentes do Movimento Zero da PSP e militares da GNR, vestidos com camisolas brancas, manifestaram-se silenciosamente, voltando-se de costas quando o director nacional da PSP, Luís Farinha, começou a falar na cerimónia presidida pelo primeiro-ministro, António Costa, mantendo-se nessa posição até ao final do discurso. E, quando o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, começou a discursar, os polícias saíram em silêncio e de forma ordeira, levantando os braços e fazendo o gesto do zero com os dedos. ■

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