segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Corrupção e enriquecimento ilícito. Uma achega

Transcreve-se uma pequena parte do artigo Não é a crise que nos destrói. É o dinheiro de Mário Crespo no Jornal de Notícias de 11 de Maio de 2009.

(…) Acertado o preço foram dadas à empresária instruções muito específicas. O donativo para o partido seria feito em dinheiro vivo com os quinze mil contos em notas de mil Escudos divididos em três lotes de cinco mil. Tudo numa pasta. A entrega foi feita dentro do carro da empresária. Um dos políticos estava sentado no banco do passageiro, o outro no banco de trás. O da frente recebeu a pasta, abriu-a, tirou um dos maços de cinco mil Contos e passou-a para trás dizendo que cinco mil seriam para cada um deles e cinco mil seriam entregues ao partido. O projecto foi aprovado nessa semana. Cumpria-se a velha tradição de extorsão que se tornou norma em Portugal e que nesses idos de oitenta abrangia todo o aparelho de Estado.


Rui Mateus no seu livro, Memórias de um PS desconhecido (D. Quixote 1996), descreve extensivamente os mecanismos de financiamento partidário, incluindo o uso de contas em off shore (por exemplo na Compagnie Financière Espírito Santo da Suíça - pags. 276, 277) para onde eram remetidas avultadas entregas em dinheiro vivo. Estamos portanto face a uma cultura de impunidade que se entranhou na nossa vida pública e que o aparelho político não está interessado em extirpar.
(…)

Este texto refere-se à década de oitenta e foi publicado em meados de Maio do corrente ano, tendo sido na altura transcrito no post O «dinheiro vivo» é corrosivo e demolidor. Isto passava-se quando estava a ser cozinhada e aprovada com a conivência de todos os partidos, com a única e honrosa excepção do deputado António José Seguro, a Lei do financiamento dos partidos que acabou por ser vetada pelo PR.

Agora, depois de ser dada publicidade ao polvo do caso da Face Oculta e de voltar a ser falado o combate à corrupção e ao enriquecimento ilícito, tacitamente suspenso e ausente das preocupações do Governo desde há quase meia dúzia de anos, volta a ser oportuno este alerta de Mário Crespo.

4 comentários:

Luis disse...

Caro João,
Já gastei todas as palavras que conhecia alertendo para esta situação de corrupção generalizada que se instalou no País. Mário Crespo tem sido um jornalista dos que mais tem combatido tal estado de coisas. Tenho o livro de Rui Mateus que nos mostra como o PS foi financiado nos seus começos e que penso se tem mantido nessa mesma linha tal como todos os outros partidos. Não nos esqueçamos que na AR todos eles votaram favorávelmente no chamado "dinheiro vivo"! Eles lá sabem porquê...
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Não devemos esquecer a unanimidade da votação da lei de financiamento dos partidos. Foi a prova mais evidente dos objectivos dos partidos. Não se dedicam aos interesses nacionais, mas sim aos deles. Agora, que era necessário unir esforços para restaurar Portugal, não têm igual unanimidade nem vontade de convergir, pondo de lado os interesses pessoais e partidários. Pelo contrário, de uma forma irracional e de traição ao País, digladiam-se com as suas irresponsabilidades e exibicionismos para mostrarem ser os melhores palhaços na arena. Estão se nas tintas para os portugueses.
Candidatam-se, esforçam-se nas campanhas eleitorais só para arranjarem um poleiro de onde possam obter enriquecimento rápido, por qualquer meio. E o povo, cegamente, vai às urnas dar-lhes o voto!!!
Só assim se compreende a forma como meteram na gaveta as propostas do eng João Cravinho quase há meia dúzia de anos.

Temos que acordar e eliminar estes parasitas que nos chupam o sangue. Precisamos de insecticida, fungicida, antibiótico para eliminar estas pestes.

Um abraço
João

Bruno disse...

carissimo, adorei este seu comentario ao post. faço das suas as minhas exactas palavras!!

insecticida, JÁ!!!!

abraço

A. João Soares disse...

Caro Bruno,

Os insecticidas têm uma eficiência assegurada mas poderão ter efeitos colaterais. Para JÁ, será de tentar actos cirúrgicos que sirvam de aviso e abram as inteligências por forma a dissuadirem-se da criminalidade em que andam metidos para desgraça dos portugueses.
Começar por matar o piolho à moda antiga, esmagando um a um entre as unhas dos polegares! ou com um insecticida de espectro apertado, bem selectivo, bem apontado ao alvo.

Um abraço
João