Transcrição seguida de Nota
Primeiro o PS depois o PR
Jornal de Notícias. 28 de Dezembro de 2009. Por Mário Crespo
Portugal tem tido muita gente esquisita a governá-lo mas, com Cavaco Silva e José Sócrates, atingimos um elevado grau de desconforto. O semipresidencialismo destes dois homens produziu um regime híbrido que não executa nem deixa executar. Semi-governante e semi-presidente ao fim de quatro anos de semi-vida institucional aparecem embrulhados numa luta por afirmação confusa e desagradável de seguir.
O embaraço público que foram os cumprimentos de Natal adensou a sensação de incómodo. O regime poderia funcionar se os actores se quisessem complementar. Mas estes actores, por formação e deformação, não têm valências associáveis. O voluntarismo de que os dois vão dando testemunho não chega para disfarçar as suas limitações. Com eles a circular a alta velocidade nos topos de gama à prova de bala e nos jactos executivos do Estado, o futuro de Portugal fica hipotecado ao patético despique da escolha de impropérios numa inconsequente zaragata de raquíticos. Até que alguém de fora venha pôr ordem na casa. A menos que venha alguém de dentro.
Semi-governante e semi-presidente tornaram-se descartáveis e, dada a urgência, é preciso começar pelo Partido Socialista. A crise no PS com a ausência de resultados desta direcção é muito mais séria para Portugal do que o tumulto no PSD.
Porque o PS governa e o PSD não. O PSD morreu. Ressuscitará ao terceiro dia para um mundo diferente. Um mundo em que homens casam com homens e mulheres com mulheres e onde se morre, ou se mata, por uma questão de vontade, requerimento ou decreto. Um mundo cheio de coisas difíceis de descrever. Coisas que precisam de muitas palavras para serem narradas e, mesmo assim, não fazem sentido. Como por exemplo a "activista-transexual-espanhola" que é alguém que frequenta o Parlamento de Portugal pela mão deste PS segundo José Sócrates. Um PSD ressuscitado vai ter que incorporar estas invenções na matriz de costumes de Sá Carneiro, inovadora à época, monástica hoje, ainda que, provavelmente, adequada para o futuro.
Até lá, é aos Socialistas a quem compete definir alguém para governar. Alguém que quando falar de educação não nos faça recordar a Independente. Alguém que quando discutir grandes investimentos não nos faça associar tudo ao Freeport. Alguém que definitivamente não seja relacionável com nada que tenha faces ocultas e que quando se falar de Parlamento não tenha nada a ver com as misteriosas ambiguidades de Carla Antonelli "a activista transexual espanhola" que, com Sócrates, agora deambula pelos Passos Perdidos em busca do seu "direito à felicidade".
O governo não pode estar entregue a um PS imprevisível e imprevidente, menor em qualidades executivas e em ética, capturado nos seus aparelhos por operadores desalmados e oportunistas.
Recuperar a majestade das construções ideológicas e políticas de Salgado Zenha, Sottomayor Cardia e Mário Soares é fundamental nesta fase da vida, ou da morte, do país. No Partido Socialista há gente seguramente preparada para governar e começar a recuperar o clima de confiança e respeito pelos executivos nacionais que Sócrates e Cavaco arruinaram.
Substituir Sócrates é já um dever. Na hierarquia de urgências o problema Cavaco Silva vem depois mas, também aqui, Portugal tem que ter na Presidência alguém que não possa ser nem vagamente relacionável com nada onde subsistam incógnitas. E há muitas incógnitas no BPN. Mas cada coisa a seu tempo. Primeiro o PS, depois o PR.
NOTA:
Há quem diga que em 2010, centenário da implantação da república devia haver reformas positivas no País por forma a restaurar a vitalidade nacional para o desenvolvimento e a felicidade das pessoas. O ideal seria os partidos entenderem-se, unirem esforços em sólidos consensos para acelerarem a evolução com o mínimo de custos de todos os géneros, evitando soluções dramáticas como as já aqui referidas e de que o caso Berlusconi parece ser uma centelha. Seria de evitar ver estragar miniaturas dos Jerónimos contra os dentes de políticos.
A par das palavras sensatas e muito claras de Medina Carreira, Mário Crespo dá lições aos políticos sobre as realidades nacionais e a necessidade de medidas construtivas. Mesmo que os políticos, absorvidas nas tricas entre partidos, tenham dificuldade em interpretar tais alertas, devem fazer o esforço de nelas meditar e depois elaborar decisões e orientações correctas para bem de Portugal e das gerações futuras.
Estas lições não devem ser olvidadas por quem fez o juramento solene de cumprir com lealdade as funções que lhe foram confiadas. E, muito menos, ser olhadas com ar raivoso por ver que há quem não aplauda cegamente. Portugal precisa de pessoas que observem com isenção e serenidade as realidades e tenha a coragem de alertar para a necessidade de correcções do rumo a fim de evitar o abismo.
Lápis L-Azuli
Há 40 minutos
5 comentários:
Brilhante Mário Crespo.
Caro João, como já nos habituou Mário Crespo, aqui está mais um caminho, pena é que ninguém com responsabilidade o oiça e se faça algo que se deve fazer.
Abraços do Beezz
Caro Carlos Rocha,
Estamos numa situação que irá dar motivo para estudos científicos do âmbito da psiquiatria. Um grupo de indivíduos abúlicos submissos a um teimoso que não vê que vai bater com a testa no muro, arrastando um povo inteiro, apesar de estar a ser alertado por pessoas independentes e realistas amantes de Portugal.
Isto não pode acontecer num cérebro a funcionar normalmente. Há aqui uma patologia grave.
E não é apenas o Mário Crespo. Hoje o Correio da manhã traz este artigo de António Ribeiro Ferreira Pior é bem possível
Um abraço e votos de boas entradas
João
Caro João,
Começa-se a acordar! Espero bem que 2010 seja um ano de "volte face" a toda esta miséria em que temos submergido! Mas como disse noutro comentário tem que "EMERGIR" Alguém que consiga governar este barco, pois oque até agora se tem perfilhado para o fazer não prestam!
Um abraço amigo.
Caro Luís,
Isto só muda se o sistema pôdre e corrupto for destruído, reduzido a cinzas. Os actuais donos do poder tudo farão para não mudar. E até pretendem legislar por forma a tornar actos criminosoa em actos legais, como foi o caso da LEI DE FINANCIAMENTO DOS PARTIDOS, aprovada por todos os partidos. Ricardo Rodrigues, hoje muito conhecido, apresentou na TV o argumento de que essa lei nada trouxe de novo a não legalizar o que já se fazia... É esse o conceito que eles têm de moralizar o regime: transformar crimes em actos legais. Querem que corrupção, lavagem de dinheiro, fuga aos impostos, enriquecimento ilícito seja legal, nas mãos de políticos e seus protegidos.
O caso Berlusconi deve ser bem meditado.
Um abraço
João
Enviar um comentário