Transcrição do texto de Ricardo Reis, Professor de Economia, Universidade de Columbia, do Jornal I de 12.12.2009 que me foi enviado pelo amigo Estevens via e-mail. No meio da euforia do consumismo natalício que nos ofusca a capacidade de discernimento e nos faz esquecer a necessidade de fazer contas rigorosas, é sensato fazer um pequeno intervalo e meditar naquilo que aqui está escrito.
RICARDO REIS - Se a Grécia entrar em bancarrota, Portugal não dura mais que umas semanas.
De acordo com as notícias desta semana, o governo está empenhado na actualização do regime jurídico do casamento. O PSD está empenhado em ouvir escutas telefónicas para aferir o carácter moral do primeiro-ministro. O PCP e o BE estão empenhados em que os mesmos magistrados que não conseguem guardar o segredo de justiça possam ter acesso às contas bancárias de qualquer pessoa, e a persigam se acharem que ela tem mais dinheiro do que devia. O CDS-PP está empenhado em tornar-se imprescindível nos jogos políticos da Assembleia da República. E os deputados estão empenhados em insultarem-se uns aos outros.
Se me permitem, e se não os distraio demasiado destes afazeres, gostava de recordar aos nossos governantes uns pequenos detalhes. 548 mil portugueses estão desempregados. Cerca de 1,850 milhões de portugueses recebem pensão de velhice, 300 mil recebem pensão de invalidez, e 380 mil recebem o rendimento social de inserção. Para apoiar estes 3,078 milhões de portugueses, trabalham somente 5,020 milhões de portugueses. Por sua vez, a remuneração mensal média de um trabalhador, depois de impostos, está algures entre os 720 e os 820 euros. Na população activa, por cada pessoa com um curso superior, existem duas pessoas que têm menos do que a quarta classe.
Talvez estes detalhes da vida das pessoas não sejam demasiado importantes para quem tem o olho na Europa. Mas, em Outubro, Portugal só exportou 2856 milhões de euros em bens; importou 4502 milhões. A riqueza que produzimos num ano não chega para pagar o que devemos aos estrangeiros. De bons alunos vaidosos nas cimeiras internacionais, seria bom que os nossos líderes se preparassem para o novo papel de convidado que foge para a casa de banho quando se aproxima um credor.
Quatro países na UE estão com problemas financeiros semelhantes aos de Portugal, de acordo com as taxas de juro que têm de pagar aos credores. O Reino Unido e a Irlanda responderam com medidas dolorosas, que na Irlanda incluem cortes no salário dos funcionários públicos até 20%. A Grécia e a Itália, tal como Portugal, preferem assobiar para o lado. Os especuladores já começaram a atacar a dívida grega e fala-se do risco iminente de bancarrota do país. Se a Grécia cair, Portugal não dura mais que umas semanas.
Eu sei que, infelizmente, muitos comentadores estão há décadas a anunciar o fim da nossa economia, pelo que os governantes estão habituados a ignorar estes avisos. Mas depois de olhar para estes factos, como é que quem jurou servir Portugal pode passar o tempo a distinguir uniões de facto e casamentos, ou obcecado em saber se José Sócrates trata o amigo por “Mando” ou “Varinha”?
Ricardo Reis
Lápis L-Azuli
Há 41 minutos
4 comentários:
Caro João,
Quando li este artigo que me foi enviado por email fiquei também a meditar no que nele é referido. É que estamos à beira do abismo e parece que querem que se dê um passo em frente... Assim cairemos na BANCARROTA e será a nossa falência como País! "Que mais nos irá acontecer?"
Um forte e amigo abraço.
Nada, amigo Luís, nada nos irá acontecer, segundo parece. Não vê como uma grande maioria de pessoas continua a comportar-se? Quando derem por o que irá acontecer será demasiado tarde. Pessimista, eu? Nem pense!
Pegarei nesta parte do texto:
"Eu sei que, infelizmente, muitos comentadores estão há décadas a anunciar o fim da nossa economia, pelo que os governantes estão habituados a ignorar estes avisos. Mas depois de olhar para estes factos, como é que quem jurou servir Portugal pode passar o tempo a distinguir uniões de facto e casamentos, ou obcecado em saber se José Sócrates trata o amigo por “Mando” ou “Varinha”?
Isto é dum ridículo chocante. Sabemos porque é que os temas em evidência e prioritários, parece serem os referidos nesta parte do texto e, portanto, esperamos o quê?
Eu, ... nada! Só tenho esperança nos que continuam a lutar afim de pôr termo a esta situação. Mais nada. Mesmo que se mudem as moscas, não acredito. Estou nesta ...
Um abração, amigos João e Luís.
Maria Letra
Caro Luís,
Penso que já estás a compreender a razão de o voto em branco ser a atitude mais patriótica nos tempos que correm. Nenhum dos partidos e dos políticos que os compõem merece confiança, porque todos estão apostados em trabalhar para si e para o partido e esquecem os interesses nacionais.
Dizia o humorista brasileiro Milor Fernandes que a regra dos políticos é roubar já o mais possível porque amanhã pode já não ser possível.
Isto ajuda a compreender muita coisa.
Uma outra regra é manter o povo, através da Comunicação Social entretido com coisas menores para ninguém reparar que há assuntos importantes escondidos na gaveta. É que esses assuntos importantes exigem competência, honestidade, vontade, persistência, coisas que eles desconhecem.
Já imaginaste uma lista dos corruptos passivos do País quantos elementos lá encontrarias que nunca tivessem tido cargos políticos, no Governo, na AR, nas autarquias ou nos partidos?
Um abraço
João
Querida Amiga Mizita,
A confirmar a suspeita de todos os malandros estarem ligados entre si por fortes laços afectivos, surgem estas manifestações de amizade de conluio, por exemplo do PM com o Vara, com os Penedos e muitos outros.
Se os portugueses não saírem da letargia a curto prazo, irão ver o vazio à sua volta quando acordarem.
Beijos
João
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