segunda-feira, 31 de maio de 2010

«A soberania reside em a Nação»

Este título é reprodução, de memória, da Constituição de 1933.

O direito e dever de cidadania, em democracia, deve ser interiorizado por cada cidadão. E o descontentamento deve ser manifestado pela forma mais urbana e educada possível, mas sem excluir outras formas que sejam necessárias para obter eficiência e racionalidade dos procedimentos. Não basta conversar à mesa do café, mas esse é o primeiro passo para tomar conhecimento mais completo das realidades, para apresentar sugestões, dentro das possibilidades de influência, e para dirigir reclamações pelos meios disponíveis.

Os governantes têm necessidade de saber o pensamento e os sentimentos acerca daquilo que é feito e daquilo que deve ser feito para benefício dos portugueses, a fim de poderem exercer o seu dever de governar, no melhor sentido, para bem dos concidadãos que neles depositaram confiança e que por eles são representados. Para isso, é indispensável que as pessoas não se calem e não abafem as próprias opiniões.

Tem muito interesse, ler as seguintes palavras sobre este tema do cronista do Jornal de Notícias Rafael Barbosa, na edição de hoje:

(…)
2. Uma imensa multidão invadiu as ruas de Lisboa. E isso não se consegue apenas com a afamada capacidade mobilizadora da CGTP. Ninguém troca um sábado à tarde de descanso, de praia ou de convívio familiar, depois de uma semana de trabalho, para fazer o frete a Carvalho da Silva. Não havia brindes para receber na Avenida da Liberdade. As pessoas protestaram porque não estão contentes. E protestaram sabendo que o diálogo é importante, que a negociação é essencial. Mas sabendo também que nada se conquista de mão beijada. Nenhum Governo, nenhum patrão, reagiu, alguma vez, apenas porque lhe pediram delicadamente.

Faz parte da história da Humanidade: todas as conquistas sociais, desde o direito a dias de descanso à assistência na doença, foram conseguidas na rua, muitas vezes com sangue derramado e vidas perdidas. Já não vivemos os tempos violentos do século passado e não se justifica a radicalidade de uma batalha campal. Mas isso não significa que os cidadãos descontentes tenham de se comportar como cordeirinhos, rendidos ao discurso da inevitabilidade do aumento de impostos, assistindo tranquilos à demolição de direitos sociais. Manifestar-se nas ruas não é apenas um direito, é um instrumento. E é do confronto que se faz o progresso, seja qual for o caminho que ele tome. Um país de gente conformada, que só protesta à mesa do café, não é um país recomendável.

6 comentários:

ALG disse...

Caro A. João Soares,

Efectivamente, este é um País adiado em definitivo, e digo-o com profunda tristeza e com o sentimento de quem assiste ao degradar das suas Instituições até ao ponto de não retorno. Gostaria de acreditar que nós, o povo, fossemos capazes de inverter este rumo de declínio, mas sinceramente, já não tenho essa expectativa e eis o porquê:
i - Tal só seria possível se a Sociedade Civil, no quadro Democrático e de Estado de Direito, se tornasse mais activa e interventiva e mesmo que isso acontecesse, nunca se poderia substituir ao verdadeiro "poder", os partidos políticos, e estes já demonstraram que são incapazes de governar em condições de nos tornar um País a sério;
ii - Uma solução fora do regime estabelecido, uma Revolução, está fora de questão, por variadas razões, que aqui, não vou expressar;
iii - Os cidadãos na sua maioria, não estão dispostos a serem ele a tomar o poder, preferem, apesar de tudo que sejam os outros, ainda que manifestamente incapazes, a tomarem as decisões por eles;
iv - O poder político sabe disso mesmo, vejam-se as declarações públicas de ministros actuais, a afirmarem que cenários como os recentes vividos na Grécia, por cá não se verificarão, que nós somos muito diferentes, i.e., verdadeiros "mansos".

Perante isto, resta esperar que o barco afunde de vez, que não existam meios de pagar vencimentos, reformas, pensões. que não funcione a Justiça, a Educação, Segurança, etc. e aí, só aí, veremos se vamos estar à altura de um povo que nunca se deixou vencer por ameaças externas, e se levantará perante ameaças internas!

Cumprimentos.

A. João Soares disse...

Caro ALG,

Esta sua lição de cátedra é impecável. Mas o óptimo é inimigo do bom. E já seria bom que o povo se manifestasse de forma a que o Poder se visse obrigado a dar uma guinada no leme para não naufragar.

Portugal muito teria a ganhar se fosse combatida a corrupção, se a Justiça fosse cega e não discriminasse uns e outros, se os cargos públicos fossem preenchidos por concurso público e não por compadrio e cumplicidades, se houvesse contenção e controlo das despesas do Estado e das Autarquias, se a burocracia fosse reduzida ao indispensável, etc.

Isso já representaria um passo muito importante para o futuro de Portugal, e, se houvesse o tal «Código para bem governar ou o «compromisso alargado e duradouro», nem era preciso eliminar os partidos nem as pessoas...

Mas provavelmente esta solução só resultaria se fosse precedida por algumas eliminações cirúrgicas para que os outros se convencessem do caminho a tomar. Sem isso terá validade o seu ponto IV. E quando eles encontram mole carregam com força.

Um abraço
João
Do Miradouro

José Lopes disse...

Ver esta crise como um problema nacional talvez seja um pouco redutor. A Europa enquanto unidade aglutinadora está a colapsar, e economicamente e politicamente mostra-se cada vez mais incapaz de tomar posições atempadas e concertadas.
A solução para a competitvidade, para responder ao Oriente, tem sido a de cortar no estado social, e isso terá custos, cá e em toda a europa do sul.
Que proporções tomará o descontentamento? Eu diria que proporcionais à crise e concordantes com a sua duração.
Cumps

Luis disse...

Caro João,
Repito o que comentei noutro post por me parecer que o problema para ser resolvido tem que passar pelo Povo acreditar em quem apresenta o remédio.No último programa dos "Prós e Contras" o Dr. Adriano Moreira síntetisou com um pensamento do tipo aqui apresentado no post e que era: já passámos por crises até mais graves que a actual que foram todas superadas pelo Povo que acreditou nas medidas preconizadas por terem acreditado nos seus mentores. O que se passa agora é que há quem diagnostique a doença mas não temos quem com credibilidade saiba atacar a doença!
Pelo contrário, o Povo já não acredita no Faz-de-Conta permanente em que vivemos!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Guardião,

A crise não é realmente apenas de Portugal, nem da Europa, nem também do actual Governo. São erros acumulados e generalizados pelo mundo, durante anos, sempre a agravarem-se. Se não houver um esforço forte para eliminar as causas ela persistirá e, mesmo que abrande, voltará a activar-se.

Mas caro Guardião, essa ideia não permite esperar que os outros a resolvam sem nós contribuirmos para reparar os erros ocorridos. Não devemos pensar que os outros erraram e nós fomos santos. A recuperação depende de todos e é preciso que desde já cada um faça o que pode fazer para melhorar a sociedade, através de mais civismo em casa, nas relações com os vizinhos colegas, conhecidos, etc.

O mundo é feito por nós e por muitos mais ou menos iguais a nós, por isso, não devemos estar à espeta dos outros. Temos de ser nós individualmente e nos grupos a que pertencermos, a melhorarmos os nossos comportamentos perante a sociedade, o Estado. Isto não significa obediência a coisas erradas, mas sim ajudar a melhorar o que está errado, exigir a redução das despesas públicas, etc.

Um abraço
João
Saúde e Alimentação

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Vão aparecendo ideias para tomar medidas. Também se pode ir aio estrangeiro e copiar o que houver de melhor e depois adaptar às nossas condições.

Um abraço
João
Saúde e Alimentação