Transcreve-se a notícia seguida de NOTA:
Cardeal ataca Cavaco por casamento gay
Correio da Manhã. 28 de Maio de 2010. Por Janete Frazão
"Esperava que o Presidente usasse o veto político". Foi desta forma que o D. José Policarpo reagiu pela primeira vez ao facto de Cavaco Silva ter promulgado a lei do casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O cardeal-patriarca de Lisboa não poupou críticas ao chefe de Estado. "Sabemos a fragilidade do veto político na nossa Constituição, mas ele, pela sua identidade cultural, de católico, penso que precisava de marcar posição também pessoal", afirmou ontem numa entrevista à Rádio Renascença.
D. José Policarpo não compreende como é que o veto político à lei do casamento gay poderia prejudicar a crise económica, tal como invocou Cavaco Silva, e acredita que se o Presidente da República tivesse vetado este diploma tinha igualmente garantido a vitória nas próximas eleições presidenciais.
NOTA: Sua Eminência tem o cuidado de se cingir ao texto da «Declaração do Presidente da República sobre o Diploma da Assembleia da República que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo» proferida por Sua Excelência nas televisões em 17 de Maio.
Realmente ao ler-se a declaração com atenção e sem preconceitos, chegava-se a um ponto em que se contava que a decisão fosse tomada em conformidade com os exemplos apontados de Reino Unido, Alemanha, França, Suíça ou Dinamarca, utilizado o poder de veto que a Constituição confere e devolver o diploma ao Parlamento. Mas não. Depois de um início, que veio a provar-se ser descabido e denunciador de hesitação e debilidade, o diploma foi promulgado com a alusão ao esforço para debelar a crise económica, o que leva o Cardeal a dizer que não compreende a ligação entre as duas coisas. E este não deixa de, perspicazmente, aludir ao receio de o veto poder colocar em risco o resultado das eleições presidenciais, que Cavaco, como seria de esperar, ocultou sibilinamente, com o seu jeito já conhecido para alimentar tabus.
Mas não deixa de ser lamentável que a estrutura do discurso tivesse ficado imperfeita por ter uma parte propiciadora de uma decisão e, depois, aparecer a solução contrária. Bem podia ter sido evitada a primeira parte e assumida plenamente, sem tibiezas, a promulgação de uma lei que durante muitos anos, talvez séculos, venha a ser conhecida por Lei Cavaco Silva. Há, na vida, momentos pouco felizes.
O almirante e o medo
Há 57 minutos
3 comentários:
Sobre o tema, ver a notícia Cavaco Silva evita comentar críticas do cardeal patriarca de Lisboa
Embora o ditado diga «quem cala consente», este silêncio é prudente. Quanto possa dizer só lhe complica a posição difícil que originou, com a incoerência interna da sua comunicação.
Só se deve falar quando o que se vai dizer tenha mais valor do que o silêncio.
Caro João,
Sobre este assunto reporto comentários de amigos comuns:
"Um ser humano é normalmente confrontado com três coisas: aquilo que ele pensa; aquilo que ele diz e aquilo que ele faz. Raramente as três estão em sintonia.(...)
Cavaco tem que olhar para o problema como homem, como político e como PR.(...)
(...)como PR tem que defender a soberania, a integridade territorial e a segurança das populações, nos termos em que a Constituição prescreve e ... entender a Nação.
Se vetasse a imoralidade dos casamentos entre géneros idênticos e o seu fundo anti-natura, CS estaria coerente com estes pressupostos; ao promulgar a lei o PR pensou uma coisa, disse outra assim assim (para não se expor muito) e fez o que não queria.
As razões que alegou são medíocres (...)
(...)Pior, defraudou a expectativa da maioria do país que não se revê nesta lei (não por acaso, não se quis fazer um referendo!), porque S. Exª não se quis maçar.(...)
(...) E que as finanças, devem funcionar como uma boa dona de casa administra o seu lar, e que o dinheiro deve servir para sustentar a economia e ter preocupações sociais e não para engordar banqueiros e capitalistas agiotas? (...)
(...)CS andou mal, muito mal. E este gesto ainda vai ter outras consequências: vai abrir campo e encorajar mais desvarios que visam objectivamente a subversão da sociedade (é isto que está em causa e não a “tolerância”) e vai pôr algum travão em quem poderia querer lutar para inverter o descalabro. Não representa assim uma invocada “responsabilidade”politica,mas sim uma hipócrisia politica.(...)
(...) O caso deu-se e é uma tristeza.
Os actos ficam, porém, com quem os pratica.
João José Brandão Ferreira" e
"(...) os argumentos que fundamentaram a sua decisão são muito débeis; de facto, a situação do País, por mais grave que seja, não justifica que o mais alto magistrado da Nação tenha abdicado dos seus princípios - religiosos, éticos e morais - numa decisão desta natureza.(...)
(...) ofendeu muitos milhares de portugueses, que repudiam o chamado "casamento homossexual"; acho que pouca gente é radicalmente contra a união entre pessoas do mesmo sexo, só não admitem que lhe chamem casamento. É também essa a minha opinião.(...)
(...) também ofendeu a Humanidade em geral e a Europa em particular. De facto, quando só 7 (sete) países em todo o mundo aprovaram até agora o "casamento homossexual" (quatro na Europa) é lamentável que o Presidente da República de um País - que recebeu o Papa da forma que nós fizemos - tenha feito tábua rasa dos sentimentos de tantos milhões de pessoas, e não apenas dos católicos.
A quinta conclusão tem a ver com a triste imagem que deu, de aceitação de derrota antecipada quanto aos efeitos do seu veto político. Costuma dizer-se que até ao lavar dos cestos é vindima e nada nos diz que, precisamente devido à grave situação do País, não pudesse haver alguma possibilidade de acordo político sobre a transformação do "casamento homossexual" num acordo civil que a generalidade das pessoas aceitaria com naturalidade.
A sexta é que o Prof. Cavaco Silva mostrou, neste caso, muita falta de sentido de Estado e de avaliação da importância da sua posição pública nesta matéria.(...)
(...) desculpem toda esta amargura, mas tinha de desabafar.
Um abraço Amigo do
Ribeiro Soares"
Julgo que a maioria do Povo Português estará de acordo com estes comentários, tal como eu o sinto.
Um abraço amigo.
Caro Luís,
Obrigado por aqui trazeres estes dois textos de duas pessoas que sabem expor as ideias com coerência, o que não acontece com pessoas que ocupam cargos de relevo.
É preciso que Portugal olhe para a sua CULTURA e ensine às crianças a pensar com lógica e coerência e consigam escrever com boa gramática. Expressar-se com racionalidade e coerência de pensamento é uma forma de honestidade. Não é de gente séria ter decidido ir de férias para a montanha e começar por gabar o mar e a praia e referir os vizinhos que gostam de banhos nas salsa ondas.
Enfim, não há pessoas totalmente perfeitas.
Um abraço
João
Saúde e Alimentação
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