domingo, 30 de maio de 2010

É preciso encarar a realidade honestamente


Depois do texto citado no post «Só a verdade gera confiança» o mesmo jornal contém o artigo «A festa acabou» de José Leite Pereira do qual se extrai um pequeno trecho (para ler tudo basta fazer clic no seu título). Mais do que as teorias estéreis de pretensos sábios, interessa a observação atenta de cada um sobre os vários indícios e sintomas da realidade.

(…) A festa acabou e temos de pôr as contas em dia. E produzir mais, sob pena de termos medidas ainda mais duras. Possivelmente, muitas coisas que temos como adquiridas e certas nas nossas vidas e no nosso dia-a-dia vão recuar ou desaparecer. Ao nível das famílias o crédito está já mais difícil e caro, o que obriga a mudar de vida, mas cabe perguntar se o Estado poderá continuar a pagar a Saúde a todos, ou se cada um de nós terá de pagar uma parcela consoante os rendimentos? E o Ensino, não acabará por seguir o mesmo caminho? Será que um país como o nosso conseguirá manter um sector de Defesa com o peso que o nosso tem no Orçamento do Estado? Depois disso: conseguiremos manter os nossos salários e recebê-los 14 vezes por ano?

O nosso défice para este ano está fixado em 8,3%. Mas, para 2011, ele terá de baixar para os 4,6%. O salto será enorme e o esforço que nos vai ser pedido muito mais duro do que o já temos sobre a mesa. Perante um quadro como este, uma manifestação como a que ontem promoveu a CGTP parece fazer pouco sentido, tão desfasada está da realidade. O único sentido que faz e a única razão que lhe assiste é a de que é preciso responsabilizar os que trouxeram as coisas até aqui, mas não para os substituir por quem apresenta propostas que só aumentam a despesa. Um destacado dirigente europeu comentava há dias que é óbvio que há vida para além do défice, mas concluía, mordaz, que é uma vida pior. É que não haverá dinheiro para quem não cumprir as obrigações. O acordo a que chegaram PS e PSD ganharia se pudesse ser alargado a mais partidos e se as centrais sindicais pudessem dar o seu contributo. Seguramente chegar-se--ia a um acordo melhor e, possivelmente, mais justo. Mas não há que enganar: o dinheiro acabou. Acabou, pelo menos, para quem quiser continuar a viver acima das suas possibilidades.

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