Transcrição da crónica de Mário Crespo no Jornal de Notícias de hoje, seguido de NOTA:
Outra vez não
A compra da TVI e agora o caso de Marcelo Rebelo de Sousa mostram que afinal Manuela Ferreira tinha toda a razão. Quando a líder do PSD o denunciou, estávamos de facto a viver um processo de "asfixia democrática" com este socialismo que José Sócrates reinventa constantemente. Hoje o garrote apertou-se muito mais.
Ridicularizámos Ferreira Leite pelos avisos desconfortáveis e inconvenientes. No estado de torpor em que caímos provavelmente reagiríamos com idêntica abulia ao discurso da Cortina de Ferro de Winston Churchill quando o mundo foi alertado para a ameaça do totalitarismo soviético que ninguém queria ver. Hoje, quando se compram estações para silenciar noticiários e se afastam comentadores influentes e incómodos da TV do Estado, chegou a altura de constatar que isto já nem sequer é o princípio do fim da liberdade.
É mesmo o fim da liberdade que foi desfigurada e exige que se lute por ela. O regime já não sente necessidade de ter tacto nas suas práticas censórias. Não se preocupa sequer em assegurar uma margem de recuo nos absurdos que pratica com a sua gestão directa de conteúdos mediáticos. Actua com a brutalidade de qualquer Pavlovitch Beria, Joseff Goebbels ou António Ferro.
Se este regime não tem o SNI ou o Secretariado Nacional de Propaganda, criou a ERC e continua com a RTP, dominadas por pessoas capazes de ler os mais subtis desejos do poder e a aplicá-los do modo mais servil. Sejam eles deixar que as delongas processuais nas investigações dos comportamentos da TVI e da ONGOING se espraiem pelos oceanos sufocantes do torpor burocrático, seja a lavrar doutrina pioneira sobre a significância semiótica do "gestalt" de jornalistas de televisão que se atrevam a ser críticos do regime, seja a criar todas as condições para a prática de censura no comentário político, como é o caso Marcelo Rebelo de Sousa.
Desta vez, foi muito mais grave do que o que lhe aconteceu na TVI com Pais do Amaral. Na altura o Professor Marcelo saiu pelo seu pé quando achou intolerável um reparo sobre os conteúdos dos seus comentários. Agora, com o característico voluntarismo do regime de Sócrates, foi despedido pelo conteúdo desses comentários.
Nesta fase já não é exagerado falar-se da "deriva totalitária" que Manuela Ferreira Leite detectou. É um dever denunciá-la e lutar contra ela. O regime de Sócrates, incapaz de lidar com as realidades que criou, vai continuar a tentar manipulá-las com as suas "novilínguas" e esmagando todo o "duplipensar" como Orwell descreve no "1984". Está já entre nós a asfixia democrática e a deriva totalitária. Na DREN, na RTP, na ERC, na TVI e noutros sítios. Como disse Sir Winston no discurso da Cortina de Ferro: "We surely, ladies and gentlemen, I put it to you, surely, we must not let it happen again", o que quer apenas dizer: outra vez não.
NOTA: Esta crónica faz recordar o post Liberdade de expressão em perigo que referia o caso da TVI, em que era incluído o link http://www.videos.iol.pt/consola.php?projecto=27&mul_id=13130598&tipo_conteudo=1&tipo=2&referer=1 e que mereceu os comentários de um anónimo, muito devoto de José Sócrates, que usou as máscaras de Leandro e Bernardo.
"Cancelamentos culturais" na América (4)
Há 4 horas
4 comentários:
Caro João Soares:
A liberdade de expressão e de crítica à governação está, de facto, a ser coarctada por pela coacção que é exercida pelo Governo e o PS em tudo o que directa ou indirectamente pode ser controlado pelo aparelho de estado.
Verifica-se, em todo o caso, que a Assembleia da República tem dificuldade em atacar a matéria de maneira eficaz. Aí, veleidades destas nunca deveriam passar sem severa condenação e recuo do Governo. Mas os que protestam pertencem a grupos que fizeram o mesmo e ainda não reconheceram os seus erros, de modo que tudo aquilo se embrulha para conduzir a resultado nenhum.
A chamada de atenção de Mário Crespo é pois muito pertinente, só pecando, em meu entender, por invocar Manuela Ferreira Leite como incompreendida sem mácula, quando se sabe que o PSD, a que ela preside, esteve metido em embrulhadas deste mesmo género. Quer dizer, o protesto de Manuela Ferreira Leite tinha toda a razão de ser, mas ela e o PSD tiraram-lhe bastante eficácia quando, não reconhecendo explicitamente os erros do seu partido, perderam a oportunidade de dar um sinal claro de rejeição de práticas antidemocráticas e/ou eticamente reprováveis.
Temos de fazer força por todos os lados, porque a AR está muito minada.
Faz por isso muito bem o meu amigo em divulgar artigos como este de Mário Crespo.
Um abraço.
Pedro Faria
Caro Amigo Faria,
Costumo dizer que, em termos gerais, os políticos são todos iguais e acrescento «salvo eventuais excepções». Uma destas é a de António José Seguro, o único deputado que não votou a favor da malfadada lei de financiamento dos partidos.
Nestas condições, nada pode esperar-se dos políticos e da AR. Há que aproveitar os casos pontuais e levantar o véu para que os portugueses abram os olhos, compreendam o buraco em que os meterem e, tal como o Sócrates aconselha em relação às escolas, convém que todos passem a estar atentos a todos os gastos públicos no Governo e nas Autarquias. E depois falem uns com os outros até ser chegado o momento de agir.
Esse momento há-de chegar e, na Itália, estão a ser experimentados vários sistemas, como o ocorrido com Berlusconi e o com o Papa em plena catedral de S. Pedro.
Já em Diálogo construtivo é desejável alertei para esse perigo, na esperança de que os detentores do poder sejam mais honestos no desempenho das suas funções. Mas, infelizmente, eles pensam que o seu papel não é governar para o povo, mas defender as cadeiras do poder na sua posse e abusar tanto quanto puderem. As perspectivas não são animadoras.
Um abraço
João
Meu caro João Soares:
Eu sei porque é que cancelaram o comentário de Marcelo Rebelo de Sousa.
Era um dos poucos programas que eu fazia questão de acompanhar com assiduidade aqui em Macau.
Para tanto, tinha que estar acordado até quase à 1 da manhã.
Preocupados com o meu sossego, os senhores da RTP cancelaram o programa.
Se tiver oportunidade para isso, vou agradecer-lhes.
Caro Pedro Coimbra,
Fica aqui o seu agradecimento que eles encontrarão quando aqui vierem. Se cá não aparecerem perdem este seu gesto de gratidão além do muito que se pode aprender ao longo do blogue!!!
Um abraço
João
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