sábado, 30 de janeiro de 2010

Indisciplina. Família e Escola

Transcrição de texto recebido por e-mail de Maria João F, que agradeço.

A indisciplina nas escolas (vista por F. Savater)
Especialistas reunidos em Espanha

Aumento da violência nas escolas reflecte crise de autoridade familiar
Especialistas em educação reunidos na cidade espanhola de Valência defenderam hoje que o aumento da violência escolar deve-se, em parte, a uma crise de autoridade familiar, pelo facto de os pais renunciarem a impor disciplina aos filhos, remetendo essa responsabilidade para os professores.

Os participantes no encontro 'Família e Escola: um espaço de convivência', dedicado a analisar a importância da família como agente educativo, consideram que é necessário evitar que todo o peso da autoridade sobre os menores recaia nas escolas.

'As crianças não encontram em casa a figura de autoridade', que é um elemento fundamental para o seu crescimento, disse o filósofo Fernando Savater.
'As famílias não são o que eram antes e hoje o único meio com que muitas crianças contactam é a televisão, que está sempre em casa', sublinhou.

Para Savater, os pais continuam 'a não querer assumir qualquer autoridade', preferindo que o pouco tempo que passam com os filhos 'seja alegre' e sem conflitos e empurrando o papel de disciplinador quase exclusivamente para os professores.

No entanto, e quando os professores tentam exercer esse papel disciplinador, 'são os próprios pais e mães que não exerceram essa autoridade sobre os filhos que tentam exercê-la sobre os professores, confrontando-os', acusa.

'O abandono da sua responsabilidade retira aos pais a possibilidade de protestar e exigir depois. Quem não começa por tentar defender a harmonia no seu ambiente, não tem razão para depois se ir queixar', sublinha.

Há professores que são 'vítimas nas mãos dos alunos'.

Savater acusa igualmente as famílias de pensarem que 'ao pagar uma escola' deixa de ser necessário impor responsabilidade, alertando para a situação de muitos professores que estão 'psicologicamente esgotados' e que se transformam 'em autênticas vítimas nas mãos dos alunos'.

A liberdade, afirma, 'exige uma componente de disciplina' que obriga a que os docentes não estejam desamparados e sem apoio, nomeadamente das famílias e da sociedade.

'A boa educação é cara, mas a má educação é muito mais cara', afirma, recomendando aos pais que transmitam aos seus filhos a importância da escola e a importância que é receber uma educação, 'uma oportunidade e um privilégio'.

'Em algum momento das suas vidas, as crianças vão confrontar-se com a disciplina', frisa Fernando Savater.

Em conversa com jornalistas, o filósofo explicou que é essencial perceber que as crianças não são hoje mais violentas ou mais indisciplinadas do que antes; o problema é que 'têm menos respeito pela autoridade dos mais velhos'.

'Deixaram de ver os adultos como fontes de experiência e de ensinamento para os passarem a ver como uma fonte de incómodo. Isso leva-os à rebeldia', afirmou.

Daí que, mais do que reformas dos códigos legislativos ou das normas em vigor, é essencial envolver toda a sociedade, admitindo Savater que 'mais vale dar uma palmada, no momento certo' do que permitir as situações que depois se criam.

Como alternativa à palmada, o filósofo recomenda a supressão de privilégios e o alargamento dos deveres.

2 comentários:

Luis disse...

Caro joão,
Este tema é por demais oportuno e sério que nunca é demais postá-lo. Tem sido, por nós, bem expresso e por diversas vezes para obrigar as pessoas a memorizá-lo de tal forma que se acabe de vez com a violência nas escolas e que aí se passe a praticar um ensino de excelência para que no futuro apareçam mais jovens bem formados civica e culturalmente! É necessário que tal aconteça para bem do Mundo!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Amigo Luís,

As realidades de hoje são muito diferentes das de ontem. As famílias estão orientadas para a obtenção de mais rendimentos, pondo em causa a estrutura familiar como um valor fundamental. Toda a evolução tem o risco de seguir por caminhos inconvenientes. Há que ter a lucidez de reconhecer os erros e tentar emendá-los. As pessoas devem parar e analisar calmamente o que a modernidade tem de bom e de mau e tomar as decisões mais adequadas. O consumismo, a ostentação o culto pelo ter, a avaliação do mérito pela marca do vestuário, do telemóvel e do carro, em vez de ser pelo valor pessoal, traz estes desajustamentos das famílias que são as células básicas das sociedades. A solução poderá passar por recuar a formas mais simples de vida, mas isso não é fácil e não há ainda preparação para tal inflexão. Quando houver decisão para isso, poderá já ser tarde demais.
Mas estas reflexões levam a crer que dentro em breve a sociedade será confrontada com a necessidade imperiosa de fazer grandes mudanças, talvez demasiado traumáticas por virem tarde demais.

Um abraço
João