terça-feira, 22 de junho de 2010

Espírito de missão e ética militar

Intervenção do Presidente da Comissão Executiva das «Comemorações do 18ª Encontro Nacional de Combatentes» em Belém, Almirante Francisco Vidal Abreu

Combatentes

Combatentes de ontem, de hoje e de amanhã

Portugal continua e continuará sempre a precisar de vós. Quem, um dia, jurou perante o estandarte nacional, servir a Pátria, mesmo com sacrifício da própria vida, certamente está disponível para de novo lutar por um Portugal melhor. Não com armas na mão, porque não é disso que se trata. Mas com o mesmo espírito de dádiva e entrega, lutando por princípios e valores que tornem a nossa sociedade melhor e mais digna, para que tenhamos orgulho na herança que deixamos aos nossos filhos e netos.

Combatentes

Pelo 17º ano consecutivo, num verdadeiro exercício de cidadania, encontramo-nos junto a este monumento para comemorar o dia de Portugal. Porque a forma mais nobre de o fazer será homenagear todos quantos, ao longo da nossa história, chamados um dia a Servir Portugal, tombaram no campo da honra, em qualquer época ou ponto do globo. E não se julgue que estes sacrifícios terminaram. Já se combateu para alargar fronteiras, já se combateu para manter fronteiras, hoje combate-se para defender princípios civilizacionais, para garantir a liberdade.

Por isso estas homenagens fazem sentido e devem continuar a ser feitas. Homenagear os combatentes no Dia de Portugal é mostrar que temos orgulho na nossa História e em sermos portugueses.

Mas nesta homenagem não esquecemos também os deficientes das Forças Armadas, nem todos os que dão o seu melhor pela causa dos combatentes. Aqui fica pois uma palavra de agradecimento e estímulo não só à Liga dos Combatentes, mas também a todas as Associações de Combatentes, sem o apoio das quais esta cerimónia não seria possível.

Combatentes

A melhor forma de honrar todos os que deram a vida por Portugal é meditar junto a este sublime monumento se os nossos actos, em cada dia que passa, são dignos do sacrifício que todos os que têm os seus nomes inscritos nestas lápides, frente a vós, um dia fizeram, por Portugal. E que melhor lugar para esta meditação que este, frente à “Chama da Pátria”, que nunca deixaremos apagar, com o mar como respaldo, esse mar de tantas glórias, de tantos sacrifícios, que já foi futuro e que tem que voltar a ser futuro.

Combatentes

Porque a memória dos mais velhos é traiçoeira e os mais novos ainda têm pouco em memória, decidimos de novo, este ano, homenagear todos os que tombaram pela Pátria, através de um deles, um português maior, um homem com H grande, cujo exemplo de conduta, de valores e de virtudes não devemos esquecer e manter como referência – o Senhor Comandante Jorge Manuel Catalão de Oliveira e Carmo, morto em combate em 18 de Dezembro de 1961, nos mares de Diu, então Índia Portuguesa.

Um texto descritivo da sua acção em combate será lido por um oficial que entrou para a Escola Naval menos de um ano depois, em 1962, e teve este herói nacional como patrono de curso. Convido-vos a ouvir este texto no maior silêncio e com o maior respeito. Vão descobrir nele o Portugal nobre, que dá valor à honra e à verdade, corajoso, e que continua a existir, por muito que nos custe a acreditar. Cabe a nós fazê-lo despertar, para que não mais se tenha vergonha de falar em Pátria ou em Patriotismo. Basta quebrar o silêncio dos bons. Basta lembrarmo-nos de que somos perto de um milhão. E acreditaremos que esta tarefa é possível.

Combatentes

Todos nós, quando estávamos em missão, tínhamos sempre alguém que nunca nos esquecia e que também sofria, embora de forma diferente, a nossa decisão de ter aceite ser combatente. A nossa família, mas muito particularmente as nossas mães e as nossas mulheres, no seu silêncio, sempre de forma discreta, viviam sofridamente, certamente com enorme angústia, o dia-a-dia dos seus filhos ou maridos. E sempre o fizeram e continuarão a fazer porque sabem e sentem que a família é um dos pilares essenciais de uma sociedade de princípios e valores.

Por isso, também hoje e aqui, queremos homenagear a Mãe e a Mulher do combatente, fontes da sua força, referências para a sua acção e importantes pilares da família militar, tão esquecida, tão ignorada, por uma teimosa recusa em aceitar o seu importante papel. Ela constitui parte do segredo da estabilidade emocional necessária ao combatente. Ela é a segurança dos vivos, o imprescindível apoio dos que ficaram deficientes, a única alternativa para cuidar dos filhos dos que, em missão, antes do tempo já nos deixaram.

Esta homenagem à Mãe e Mulher do combatente, neste dia de Portugal de 2010, será feita através da presença nesta cerimónia da Senhora Dona Maria do Carmo de Oliveira e Carmo, viúva do Senhor Comandante Oliveira e Carmo, que hoje homenageamos, e que vos vai falar. Oiçam as suas palavras. Meditem nelas e no seu significado. É que as mães e mulheres dos combatentes, pelo papel essencial e insubstituível que desempenham na construção e equilíbrio da família, também muito podem fazer por um Portugal melhor, que fale verdade, um Portugal de princípios, e de dignidade, um Portugal de esperança, de valores, de ética, e de que todos nos possamos orgulhar. Por isso, também é tão importante contarmos convosco.

Combatentes de ontem, de hoje e de amanhã

Termino como comecei. A vossa missão não acabou. Portugal continua e continuará sempre a precisar de vós. Saibamos honrar os que se sacrificaram por Portugal.

Viva Portugal
Lisboa, 10 de Junho de 2010

Imagem da Internet

2 comentários:

Luis disse...

Caro Amigo João,
Belo post que defende os nossos Princípios e Valores! Precisamos de Chefes que assim pensem para que os Portugueses saibam compreender os seus ex, presentes e futuros combatentes por um Portugal Melhor. Há uns tempos a esta parte parecia, inexplicávelmente, que tinhamos vergonha dos nossos ex-combatentes... E eles só tinham cumprido o seu dever de Portugueses!!!Fico feliz por estas palavras aqui colocadas por um Chefe Militar!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

A nossa sociedade vive muito oprimida por complexos. As pessoas receiam ter opinião própria e obedecem à moda à publicidade, ao parece bem. Reparta que depois da morte de Saramago de quem muitos não conseguiam leu além das primeiras páginas de um livro e que o criticavam por ter renunciado a viver em Portugal, e não só, depois não lhe faltaram com palavras elogiosas.

Todos os países honram os combatentes e sentem gratidão pelo que o País lhes deve. Cá, só agora com o discurso de António Barreto e o do almirante Vidal Abreu se deu o sinal de alinhar pelo valor do amor à Pátria e da gratidão a quem arrisca a vida por ela.

Entretanto o partido do Governo apoia um candidato a PR de quem se escreve como consta em
10 de Junho
e em Rádio Portugal Livre em Argel

Tem que haver coerência e sentido de Estado. Os cidadãos que em democracia são os detentores da soberania devem aprender a analisar os interesses de Portugal e decidir em consciência pelo futuro dos filhos e netos.

Um abraço
João Soares