O Post «Como ficará a China do futuro?» no blog A Tulha do Atílio suscitou-me um extenso comentário que, pela sua extensão não terá a leitura e a atenção que julgo merecer, como ponto de reflexão nos dias de hoje. Por isso o publico aqui.
Os comentadores anteriores são consonantes em afirmar que o mundo está louco. Louco de verdade.
Como disse, há dias, noutro comentário, «desde a época da pedra lascada, paleolítico, tem havido evolução nas tecnologias (televisão, telemóvel, etc), mas na alma dos homens tem havido degradação, na maneira de encarar a vida, a Natureza, os outros. As relações em família, em grupo e em sociedade estão de tal forma degradadas que já temos muito a aprender com os animais da selva de que frequentemente se vêm imagens das televisões».
Porém, este texto contra a China é horrivelmente tendencioso, escrito por alguém que está habituado a defender a sociedade do lucro exagerado que não reverte para remuneração justa à mão-de-obra, mas sim para o enriquecimento dos donos das empresas que não dispensam as mansões, os caros de luxo, os jatinhos, o consumismo de luxo.
A China deve ser observada, tendo em vista a sua história. No tempo do Império do Meio, o seu desenvolvimento deu ao mundo inventos que ainda hoje são úteis. Depois teve um largo período de apagamento no seu pacifismo atacado pela Mongólia e pelo Japão. O fracasso da revolução maoísta serviu de vacina para reestruturar o País de forma cautelosa, persistente que tem dado bons frutos, apesar da grande extensão, do excesso de população e da sua grande diversidade de problemas.
Quando a União Soviética implodiu, receava-se que acontecesse algo de muito grave na China, o que seria perigoso para todo o mundo, mas a sensatez serena e eficiente dos governantes levou a medidas eficientes que fizeram a China crescer economicamente a um ritmo único no mundo moderno. Aprendeu o que de melhor encontrou nas regras do capitalismo ocidental.
O autor do texto, que defende a regra de que o lucro a qualquer custo é símbolo de modernidade, condena a China de estar a utilizar as regras ocidentais a seu modo e estar a orientar-se para o desenvolvimento económico. É uma contradição sua, que descredibiliza o texto.
Não concordo com o conselho de preferirmos produtos fabricados no nosso País, pois o consumidor deve ser livre de comprar o que mais lhe interessar em qualidade e preço, seja qual for a origem, pois é essa a lei da globalização que os ocidentais criaram. Por outro lado o facto de ser cá fabricado, não quer dizer que os lucros beneficiem o País, pois o capitalista pode ser estrangeiro ou, sendo nacional,, pode depositá-lo numa off-shore ou paraíso fiscal longínquo.
Por seu lado, os trabalhadores são na sua quase totalidade estrangeiros que enviam para a terra quase todo o salário. Os portugueses não sentem a obrigação de trabalhar e candidatam-se a assessores, deputados ou outro género de parasitas e, se o não conseguem, procuram viver de subsídios – há-os para todos os gostos – sem nada criarem para a riqueza nacional.
Falta aos empresários ocidentais a capacidade de adaptação aos novos tempos como os chineses têm feito desde há várias décadas. É preciso que nós os ocidentais passemos a raciocinar e aplicar quotidianamente os valores éticos e saibamos equacionar os problemas da melhor forma com respeito pelos outros, sejam de onde forem.
Quanto á imagens das crianças (ver o post referido), não são realmente edificantes, mas há por cá casos menos humanos. Até recentemente, nas aldeias, os pais iam trabalhar para o campo deixando as crianças fechadas em casa sem apoio nem comodidade. Já tem havido notícias de crianças asfixiadas por terem ficado fechadas no carro durante horas. Estas fotos da China mostram que há preocupação com a proximidade dos pais, que os observam com frequência e os miúdos observam que a vida é trabalho e vão aprendendo esse aspecto do civismo. Cá as crianças, pouco tempo após nascerem, apenas vêm os pais durante poucos minutos no fim do dia e, nas creches e jardins de infância, recebem o cuidado mínimo para não se ferirem e serem devolvidas em bom estado no fim do dia. Uns com os outros, sem educação cívica de adultos, só aprendem a desenvolver os piores instintos. Portanto, à luz dos conceitos, a diferença não é grande. Do ponto de vista humano, certamente, estas fotos não são uma amostra válida da média dos chineses.
É preciso ter respeito pelos que são diferentes de nós. «Amai-vos uns aos outros», e os outros são os diferentes. A China tem tradições diferentes mas tem evoluído aproveitando o que de melhor vê no mundo. Assim Fossem os ocidentais!!! Mas não são e querem torpedear quem, se ergue acima da mediocridade do Ocidente.
Juntam-se links de textos já aqui publicados referindo temas semelhantes:
- 2010 Ano de Transformações
- Transformações no Mundo
- Como será o mundo amanhã?
- A China e os direitos humanos
- Um ricaço a contas com a Justiça na China
- Lição da China contra a desertificação
Boas-Festas
Há 1 hora
3 comentários:
Meu Caro João,
Só contraponho que há países como o Japão, a Formosa e a Coreia do Sul que se estão desenvolvendo nessa mesma área e assim não procedem!Só a China continental e a India têm procedimentos desta natureza!!! Acho que se o artigo pode ter algo de tendencioso o teu comentário também o terá! Desculpa-me a minha opinião, mas como sabes sou frontal nas minhas apreciações!
Um abraço amigo ainda que discordante.
Caro Luís,
Agradeço imenso este teu comentário, mais do que se estivesses totalmente de acordo.
Os três exemplos que dás são de países pequenos e diferentes. A China está para a Coreia do Sul na proporção de um camião de dezenas de toneladas e de um triciclo a motor, a manobrabilidade é muito diferente e muito diferente fazer uma mudança de rumo ou inversão de marcha.
A Coreia do Sul foi criada em 15 de Agosto de 1948 sob a presidência de Syngman Rhee, que beneficiou de grande apoio americano. A destruição sofrida na guerra com a Coreia do Norte, depois da ocupação pelo Japão, foi demasiado radical e permitiu uma reestruturação em moldes novos. Daí que o desenvolvimento em estilo moderno tivesse sido fácil.
Com Taiwan em 1949, pela mão de Chiang Kai Chek, passou-se algo parecido. A hostilidade do continente onde se vivia a confusão do regime de Mao Tse Tung estimulou a unidade da população em torno da construção de um país moderno, também de inspiração americana.
Por isso a China não pode ser comparada com estes Estados. Não sou tendencioso, antes me esforço como costumo fazer por compreender o que se passa e, quanto aos Direitos Humanos que me parece o senão mais atacado pelo ocidente, parece que não é exagero dizer que no actual regime se tem melhorado muitos. Dado o peso de uma população numerosíssima, rural e com tradições muito arreigadas, não é possível obter resultados rápidos.
De uma forma geral, os políticos podem ser criticados por errar, por mentir, por corrupção, mas não podem ser atacados por não fazer milagres. E para a China passar a praticar o conceito ocidental de Direitos Humanos, seriam precisos vários milagres sucessivos. Não é racional esperar melhor em curto prazo. Muito têm feito, como se viu quando evitaram ser arrastados pela crise no gigante soviético.
Espero ter-me defendido da tua acusação de tendencioso. Não tenho qualquer interesse pessoal nem profissional em acusar ou defender um Estado, grande ou pequeno.
Um abraço
João
Do Amigo Manuel C. B. recebi estes tópicos que merecem meditação:
A temática é mais que actual
Sugiro mesmo – andei à procura e não encontrei - que o adoptes no teu blogue para serem obtidos comentários que podem ser interessantes
Tópicos para um comentário de base:
- O interesse económico é o grande catalisador de conflitos
- As situações económicas internas são o grande gerador dos equilíbrios ou desequilíbrios sociais e políticos internos
- A Paz resulta de equilíbrios de Forças (Guerra-Fria)
- Em termos geopolíticos e geoestratégicos, o conflito é potencial quando da existência de uma só grande potência (económica e naturalmente militar), como se verificou logo após a queda do muro de Berlim e o desmembramento da URSS com os EUA nessa posição.
- “Emergiram” os Países Emergentes
- A globalização obriga a pensar nos equilíbrios e como consegui-los
- Têm aqui particular acuidade as condições sociais dos “países emergentes” e as dos “países desenvolvidos” e os conhecidos reflexos nos custos de produção
- É já visível a tendência para decréscimo nuns e de exigência noutros
- Quantas gerações serão necessárias para o equilíbrio suficiente dos mercados ? (No pressuposto do prevalecimento da Economia de Mercado)
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