Tem sido aqui dito que as consultas à oposição antes das grandes decisões deviam ser regra geral e até foi sugerido um Código de bem governar assinado por todos os partidos, com vista a serem salvaguardados ao máximo os grandes interesses nacionais. O Presidente da República tem insistido na necessidade do consenso que resulta da vontade comum de defender o futuro de Portugal.
Realmente seria interessante que os partidos nunca subalternizassem os interesses nacionais aos seus próprios. Agora está em curso a preparação do Orçamento de Estado para 2010, e está a ser negociado o voto da oposição, com vista a ser aprovado na AR o projecto elaborado depois de entendimentos interpartidários, estando «Ferreira Leite "confiante" em acordo no Orçamento». Porém, nem tudo deve ser encarado com optimismo desmedido. As declarações ocasionais de dialogantes em nome de partidos, mostram que estão em negociação as contrapartidas, as compensações por eventuais cedências num ou noutro ponto. Eu cedo nisto mas tens de ceder naquilo.
Nessa troca de favores resta saber em que ponto os interesses nacionais serão pisados pelos interesses dos partidos. Isto não é pessimismo, é realismo. O exemplo máximo de entendimento entre partidos envolveu todos os paridos presentes da AR, na qual todos os deputados excepto um, talvez por distracção, votaram a famosa «lei de financiamento dos partidos» que, felizmente, foi vetada pelo PR. Dessa lei o deputado Ricardo Rodrigues disse na TV que ela nada criou de novo, só legislou tornando legais procedimentos que vinham sendo correntes, mas ilegais. Portanto, todos entraram em consenso para lavar crimes (que por lei deixariam de o ser) e que abrangiam aspectos de corrupção, lavagem de dinheiro sujo e outras manigâncias, normais em certos tipos de marginalidade mas indesejáveis em representantes do povo e eleitos para governar, servindo de bom exemplo, de referência e defendendo os interesses de Portugal.
Miguel Sousa Tavares - Uma opinião corajosa
Há 4 horas
5 comentários:
Caro João Soares
para um «código de bem governar»,
torna-se necessário dispor de
«pessoas de bem».
Categoria muito escassa nas elites das oligarquias partidárias.
Em linguagem económica, um «bem escasso».
Cumprimentos
Bmonteiro
Caro Amigo João,
Realmente não querendo ser pessimista, que não sou, entendo difícil que o "consenso" que seja encontrado não venha a ser um "cozinhado" de favores recíprocos entre os partidos e que nada tenha a ver com o Bem Comum que daí deveria advir para Portugal! Oxalá me engane!
Um abraço amigo.
Caro Amigo barroca Monteiro,
Compreendo todo o seu pragmatismo, sentido das realidades e predisposição para não alinhar em fantasias.
Sou um optimista e idealista, pelo que acho que os objectivos devem ser estimulantes e puxar pelo nosso esforço, não devendo ficar pra cã do horizonte. Na prática, tal código não será totalmente realizável, porque os políticos pensam em si próprios e um pouco nos partidos, não lhes sobrando capacidade para se dedicarem minimamente ao País. Já nem digo Estado porque, das palavras deles se depreende que consideram que o Estado são eles e os seus tachos. São uma imitação do Rei Sol da França que dizia com a arrogância socrática «L'Etat c'est moi». Com isso conseguiu que o seu herdeiro Luis XVI acabasse na guilhotina. Agora não se usa tal ferramenta mas estão a entrar em uso as miniaturas de catedrais e já se fala no fabrico de miniaturas dos Jerónimos em aço para poderem ser usadas mais que uma vez no tratamento de dentaduras!!!
A propósito de objectivos e de planos sugiro lhe que leia a entrevista do Dr João Salgueiro no DN, que pode abrir clicando aqui http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/discursodirecto.aspx?content_id=1477651.
Abraço
João
Caro Amigo Luís,
Compreendo os teus cuidados em aceitar uma posição de optimismo exagerado e pouco realista. No comentário anterior expliquei o idealismo que leva a tal optimismo higiénico e didáctico!
Mas se voltares a ler, verificas que partilho dos teus receios e cito o exemplo mais escandaloso da unanimidade com que votaram a Lei de financiamento dos partidos que o PR teve o muito bom senso de vetar.
Um abraço
João
Do Dr João Salgueiro,
e numa passagem pelo palácio da Ajuda, retenho uma muito positiva apreciação pessoal do mesmo a uma recente intervenção do Gen Eanes (PR).
Li de facto o DN de hoje.
Bmonteiro
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