Ocasionalmente, são aqui referidos bons exemplos que chegam de países estrangeiros, por vezes dos que estão a dar passos racionais e eficientes para o desenvolvimento sustentável e se aproximarem dos mais evoluídos.
Agora trago um caso do Reino Unido, país inequivocamente desenvolvido, com longa e sólida experiência democrática, que nos dá uma lição a aproveitar. Será de reflectir nesta medida e na sua aplicação judiciosa, com os olhos postos nos interesses nacionais e na Justiça Social. Seria altura apropriada para passar a referir os salários em equivalência ao salário mínimo nacional, por exemplo um determinado quadro superior ganha 20 salários mínimos.
Eis a transcrição da notícia:
Governo britânico quer cortar 20 por cento ao salário dos funcionários mais bem pagos
Público. 07.12.2009 - 13h31. Por AFP, Inês Sequeira
Medida apresentada pelo líder do governo para combater o défice público.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, tenciona reduzir em 20 por cento, ao longo de três anos, os salários dos funcionários mais bem pagos.
Esta medida foi apresentada hoje por Gordon Brown como uma das que estão previstas para combater o défice público, num programa destinado a conseguir cortar em três mil milhões de libras as despesas correntes do governo no período de quatro anos.
O líder dos Trabalhistas evocou a "cultura do excesso" e indicou que tratamentos superiores a 150 mil libras por ano (165 mil euros) e os bónus de actividade que ultrapassem 50 mil libras vão necessitar no futuro da aprovação dos respectivos ministérios, devendo os respectivos beneficiários ser publicamente identificados, tal como os organismos que desperdiçam dinheiro do Estado.
Algumas pessoas "perderam o contacto com a realidade", salientou o primeiro-ministro.
Nas contas do governo britânico, a redução de 20 por cento irá produzir poupanças de 100 milhões de libras por ano, o suficiente para criar anualmente "quatro novas escolas ou dez novos centros médicos", ou "pagar o salário de 3.200 enfermeiros ou 2.200 professores".
Outras poupanças avaliadas em 600 milhões de euros poderão ter como origem uma racionalização dos custos das comunicações telefónicas e da burocracia administrativa, um corte de 50 por cento dos honorários das consultores e 25 por cento as despesas de marketing.
"O dinheiro que deveria ir para a saúde, a polícia e os serviços sociais vai em certos casos para salários excessivos e bónus injustificados: esta cultura de excessos pode e deve mudar", lançou o primeiro-ministro, que anunciou uma revisão completa dos salários da função pública no orçamento para o próximo ano.
"Cancelamentos culturais" na América (4)
Há 4 horas
7 comentários:
Caro João,
Que boa notícia! Pena é que por cá não seja seguida. Já houve uns quantos (muito poucos) que o fizeram mas não se conseguiu que o seu exemplo fosse tido em consideração. A "cultura do excesso" ainda não foi erradicada!
um abraço amigo.
Caro João Soares:
Cortar nos salários, benesses e prémios demasiado elevados de funcionários é uma medida que merece aplauso, especialmente em tempos de crise. Mas, para além de representar uma pequena fatia da enormidade do que se desperdiça, pode não passar de um acto demagógico momentâneo. Para que se torne num verdadeiro aspecto de moralização e de combate aos gastos inúteis terá, julgo eu, de ser acompanhada de outras medidas, nomeadamente no sentido a) de uma maior responsabilização e independência das chefias (entenda-se a independência em relação à cor do governo); b) do entendimento claro, em cada sector de actividade, do trabalho que o sector tem de fazer, para quem e porquê; c) da introdução e efectiva aplicação de critérios que conduzam à apreciação de resultados, com o consequente combate ao desleixo, à subprodução e/ou ao desperdício; d) da aceitação, a todos os níveis, de um código ético cujo desrespeito possa ser de algum modo censurado; e) da dignificação do trabalho honesto; f) do estímulo à excelência e à inovação; g) da abertura de oportunidades a todos mas sem concessões ao igualitarismo laxista e desmobilizador; h) do combate às mordomias e aos pagamentos de salários por formas disfarçadas.
Em todo o caso já é muito bom que alguém pense em, pelo menos, cortar nos vencimentos, benesses e prémios demasiado elevados.
Um abraço.
Pedro Faria
Caro amigo Faria,
Como sempre, este seu comentário é impecável, de uma elevação e de um aspecto didáctico insuperável.
Penso que merece ter maior visibilidade no blog do que manter-se na sombra dos comentários que nem todos os visitantes lêem.
Espero que me contacte nesse sentido pois deverá ser-lhe dada uma formatação adequada.
Muito obrigado por esta sua colaboração para a valorização do blogue e deste tema.
Um abraço
João
Caro Amigo Luís,
Em vez de erradicada, a cultura do excesso tem sido alimentada para crescer e alimentar o enriquecimento rápido por qualquer forma dos políticos. Ver as notícias acerca de Dias Loureiro, Oliveira e Costa, Vara e muitos outros. Se bem pesquisarem encontrarão por aí muitas faces ocultas. E será bom que lhes tirem a burka ou o véu que as encobre.
Mas, mais cedo ou mais tarde, é imperioso que se acabe com todos os excessos de despesa e se moralize o gasto dos dinheiros públicos desde o topo do Estado à mais pequena Junta de Freguesia.
Será bom lembrar, nem que seja á força, a esses eleitos que estão ali para servis os cidadãos e não para se apossarem indevidamente daquilo que é de todos nós.
Um abraço
João
O Reino Unido já não é o único Estado a proceder a reduções dos salários dourados. A Irlanda está a seguir o bom exemplo da Grã-Bretanha.
Irlanda vai cortar salários a funcionários do Estado.
E Portugal irá fazer o mesmo? Com a mentalidade egoísta e ambiciosa de riqueza de todos os políticos, uma tal decisão esfrangalha os partidos. Como abraçaram a política para enriquecerem rapidamente, não aceitarão de bom grado cortes nos salários e nas mordomias tal como não querem aceitar mecanismos que conduzam ao combate à corrupção e ao enriquecimento ilícito.
Haja esperança, mas estejamos atentos e procuremos formar uma opinião bem fundamentada por forma a exigirmos esclarecimentos de tudo.
João
medidas infelizmente impensaveis no nosso querido portugal!
por ca corta-se nas pensoes dos idosos, aumenta-se a carga fiscal do Ze Povinho, e castiga-se quem trabalha e ganha pouco, para se poder continuar a sustentar os "nossos" salarios dourados!
e mais triste fico quando vejo que muitos dos grandes salarios que por ca se ganham, nada teem a ver com merito, trabalho estupendo realizado, ou grande capacidade intelectual. sao simplesmente "tachos"!
Caro Bruno,
Agradeço as suas palavras sábias. A nossa sociedade carece de humanidade, de moral, de ética, de valores que nos dignifiquem a todos. Os portugueses não estão a «ganhar o pão com o suor do seu rosto», porque todo o seu suor vai alimentar uma «classe» sem classe que é egoísta, egocêntrica, arrogante, e só pensa no seu próprio enriquecimento por qualquer forma à custa dos indefesos.
Está tudo mal estruturado, viciado no crime e nos erros impunes, o que dá realmente poucas esperanças de uma recuperação pacífica e construtiva. Na Inglaterra e na Irlanda já há sinais de melhorar a justiça social. Por cá, os deputados limitam-se a trocar entre si insultos, que de tanto serem repetidos, acabam por ter credibilidade. Eles parecem ser pior do que dizem uns dos outros!
Caro Bruno, se eles não se regenerarem a bem do País, sem sobressaltos, a solução terá de começar com actos cirúrgicos neutralizando um ou outro dos piores, com intenção de que os outros melhorem e, assim, sucessivamente, até
Portugal entrar no caminho da moralidade.
Um abraço
João
Enviar um comentário