Transcrevo este texto recebido por e-mail do autor, o amigo Manuel Nicolau, que merece ser lido pelo seu carácter didáctico, erudito e com a particularidade de o autor, apesar de ser arquitecto professor universitário, portanto voltado para a arte inovadora e criativa, não põe de lado a tradição. Reconhece que muito daquilo que vem de velhos tempos tem útil aplicação nos dias que correm e terá, sem dúvida, no futuro.
Boas Festas!
Na nossa cultura e civilização que inicialmente englobava a bacia do Mediterrâneo, depois transbordou e emigrou para todos os continentes, "as festas" que predominam são as de matriz cristã com Natal, Ano Novo e Reis.
Quis a sorte marafada que este ano por determinação superior, víssemos este período encurtado em três dias já que os Reis se vão comemorar a três de Janeiro. Três e não seis, data a que me habituei desde que me conheço.
Manda quem pode, sendo que no meu caso vou comemorar o dia de reis na data habitual, com bolo rei, buraco e tudo. Das três é há muito a de que mais gosto. Mais simples, mais discreta e que mais me diz em relação aos problemas diários.
Segundo a lenda, três reis representando a África, a Europa e a Ásia presentearam o menino Jesus com ouro, incenso e mirra. Todos os presentes têm um denominador comum que lhes confere grande valor. São materiais imputrescíveis.
O ouro não enferruja nem se degrada, o incenso é uma resina que ao queimar purifica os espaços em que se volatiliza e a mirra um material que era usado para embalsamar os corpos dos defuntos impedindo a sua degradação, preservando-os.
Na oferenda, os Reis sublinhavam os atributos de poder que se esperavam do nascituro e reforçavam a esperança incorruptibilidade que o exercício desse poder viesse trazer aos povos que por devoção a ele se juntassem.
Vista a coisa desta forma, ao longo dos tempos e nos actuais é compreensível que os povos tenham dedicado boas festas a tal evento, ainda que com resultados abaixo de péssimo, já que governantes sucessivos parecem não ligar muito à coisa.
Bom, a coisa está aí e desta vez antecipada em três dias, que ainda que seja meritória a intenção, nos vem baralhar a velha cantilena: "...seis, é uma noite de reis, sete, vira a folha ao canivete, oito, biscoito...". O três?..é o "número que Deus fez"!
Eu, como já vos disse, vou continuar a comemorar a seis, mas do que eu já vou conhecendo do pessoal vai tudo aderir ao três ficando assim com menos outros tantos dias de festa. Quem me preocupa mais são as crianças que ficam com a cantiga lixada.
Para os mais crescidos, que por estas artes ficaram com dias de folga na azáfama das festas, pensei recomendar-vos a leitura de três textosinhos que no meu entender poderão vir a ter grande utilidade na procura do "novo paradigma".
Trata-se de textos redigidos pelos respectivos autores no fim das vidas e que eu me tenho vindo a habituar referenciando-os como "testamentos políticos", ou seja assim umas coisas não quiseram deixar por dizer antes de se irem embora.
O primeiro é o Timeu de Platão, em que o autor descreve como a Atlântida foi destruída, submersa pelas águas por vontade de Zeus. Este trecho em tudo similar ao dilúvio bíblico, chegou a figurar como texto sagrado, como no acervo de Nag Amadi.
O segundo é o "Moisés e o monoteísmo" de Sigmund Freud, em que o autor sustenta e fundamenta ser o deus de Moisés o mesmo de Aquenaton e o próprio Moisés um iniciado nesse culto, porventura um alto sacerdote em exercício na época.
O terceiro é "os negócios do sr. Júlio César", romance com sabor a ensaio histórico, de Bertholt Brecht, baseado num relato de um escravo do Caio Júlio abrangendo antes e depois, o período em que esteve aqui na Lusitânia na qualidade de governador.
O primeiro tem várias edições em português, até de bolso, segundo está disponível aqui na Rua da Misericórdia, na livraria Guimarães e o terceiro foi editado em português pela editora Europa-América em 1962.
Se tiverem outras sugestões avisem, porque com jeito ainda se arranja aqui uma colecção gira para "um novíssimo testamento" Quanto aos bolos, para evitar chatices com os diabetes, tendes sempre a oportunidade de incidir mais na parte do buraco.
Grande abraço festivo.
Manuel Nicolau
"Cancelamentos culturais" na América (4)
Há 6 horas
5 comentários:
Caro amigo João Soares,
Desconhecia, em absoluto, a mudança de data para festejar o Dia de Reis. Tal como o autor do texto, eu continuarei a festejar esta data a 6. Estou já tão habituada ... Contudo, faço ainda outra coisa: irei festejar a 3, também. E porque não? Depois do que li sôbre os dias
"seis, é uma noite de reis, sete, vira a folha ao canivete, oito, biscoito...". O três?..é o "número que Deus fez"!
Aprendi, aqui neste texto, certas coisas que desconhecia e, portanto, agradeço isso ao Prof. Arq.º Manuel Nicolau.
Obrigada e um BOM ANO 2010.
Maria Letra
Querida Amiga Mizita
É minha convicção de que não é mudança de data, mas apenas de dia da comemoração. Na quarta-feira, as festividades religiosas teriam pouca assistência e por isso anteciparam para o Domingo, dia em que a missa terá mais gente e a recolha dos óbolos será mais proveitosa!!!
Desejo-lhe muita saúde e sucesso em todas as suas actividades em 2010.
Beijos
João
OBRIGADA PELOS VOTOS, QUE RETRIBUO, João Soares.
Maria Letra
Amigão João,
Mais uma das tuas surpresas! Este teu amigo é de facto tradicionalista, culto e muito bem humorado!
Eu por mim também não vou alterar o dia de Reis, tudo se irá manter a Seis! Tradição é tradição e nada de "modernices"!!!
Um abração amigo.
Caro Luís
Boas entradas, Bom dia de Reis e Bom Ano.
Um abraço
João
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