Transcrevo o artigo seguinte, porque encerra uma lição de jornalismo básica, mas que é pouco praticada. Na nota final procuro dar uma explicação aos menos versados na teoria do jornalismo.
Eis o artigo:
"O homem que morde o cão"
JN. 091106. 00h00m. Manuel António Pina
Algo muito estranho se passava: há uma semana que jornais e TV falavam de mais uma investigação envolvendo a "Face Oculta" do regime e o bastonário dos advogados ainda não aparecera nos jornais.
Temia-se o pior. Estaria o bastonário doente? Não teria, pela primeira vez, nada de mediático a dizer sobre um assunto mediático? Perdera o gosto pelas primeiras páginas? Ou, mais grave, ter-se-ia tornado uma pessoa discreta ou até, valha-nos Deus, sensata? Fosse o que fosse, não resistiu mais que uma semana.
E, como ninguém lhe perguntava nada (noutros tempos já teria ido quatro ou cinco vezes à SIC acusar juízes e MP de qualquer coisa), decidiu meter-se a caminho e, já que Maomé não ia à montanha, ia ele a Maomé: que a opinião pública está a "fritar em lume brando" os suspeitos da operação "Face Oculta" e que a investigação "funciona para a comunicação social".
Numa coisa tem o bastonário razão, a comunicação social deveria ter ignorado o caso.
Notícia, nos tempos que correm, o "homem que morde o cão", seria empresários, gestores públicos, políticos e autarcas não serem suspeitos de corrupção.
NOTA: Como o autor refere, embora possa passar despercebido aos mais leigos, é que notícia é aquilo que tem por assunto casos excepcionais, raros e insólitos. Um cão morder um homem não é notícia, mas se for «o homem que morde o cão» já o é. Um homem a andar pelo passeio normalmente não é notícia mas se se deslocar em pino sê-lo-á e, poucos metros andados, aparecerão batalhões de repórteres com câmaras e microfones.
Por isso, fica justificada a frase final do texto, isto é, a corrupção generalizada nos políticos, activos ou na privada, deixou de ter direito ao título de notícia. Relativamente a corrupção e a políticos, NOTÍCIA é o que se passou com Rui Rio que mostrou determinação no combate e a tal praga como foi referido em Rui Rio político sério.
A Decisão do TEDH (397)
Há 1 minuto
2 comentários:
Como não noticiar sobre estas coisas? Mesmo que tenham virado rotina??
Acho que precisa-se mais do que noticiar, precisa-se formar opiniões sólidas e que levem a um desfecho satisfatório!
bj
beta
Querida Beta,
Exactamente como diz, é preciso denunciar, noticiar, mas a seguir é preciso que as pessoas tomem consciência da gravidade de tais problemas que afectam os interesses nacionais, dos cidadãos e criam um ambiente de infecção contagiosa que destrói uma sociedade.
Foi a impunidade dessa infecção que permitiu que ela se generalizasse e, hoje, ninguém acredita nos políticos que são tidos como os piores do País, nos piores aspectos da criminalidade.
Beijo
João
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