Recebi do Amigo José Luís Borges esta mensagem por e-mail que me deixou em dificuldade para responder por nem sequer saber para que fim pretende a minha opinião. Sobre isto pode escrever-se um livro com vários volumes, ou responder apenas com um ou dois monossílabos.
Gostei dos artigos que li sobre como evitar os conflitos.
Gostaria de saber sua opinião se o Conflito é inevitável, e aí levo em consideração todos os conflitos armados (guerra) ou não.
Considere aspectos de relações internacionais, políticos e geopolíticos.
Realmente já escrevi vários posts em que me referi aos conflitos, como se pode ver na lista de links que junto no fim deste texto.
Ao escrever tais posts e ao usar a palavra evitar, queria apenas referir os conflitos armados. Não é realista desejar evitar «conflitos» de outra ordem, pois desentendimentos, discordâncias, conflitos de interesses, diferenças de pontos de vista, etc. são naturais e fazem parte do relacionamento entre os diferentes povos, com religiões, tradições, recursos complementares ou concorrentes, fronteiras comuns, etc.
E, perante tais situações, será virtuoso tentar um diálogo ou negociação para se chegar a uma solução pacífica com o mínimo desgaste de vidas e de recursos materiais. Na actividade económica com trocas comerciais, entre países vizinhos ou entre os mais distantes pontos do Globo, a negociação é natural e raramente é colocada a hipótese de soluções violentas, até porque a arma económica já é de tal modo poderosa que serve de dissuasão, pressão, ameaça ou retaliação.
Felizmente, já existem muitos exemplos em que o diálogo e a negociação tem resultado, como foi o caso dos vários picos da «guerra fria» e recentemente com a Coreia do Norte que estava a levantar receios na Coreia do Sul e no Japão e a considerar em perigo uma boa parte da costa Ocidental americana.
Agora, está em curso a activação da simpatia entre o Irão e os EUA, sendo a elaboração deste post estimulada pela notícia de que «Obama falou directamente ao regime iraniano propondo superar conflito», por ocasião do novo ano iraniano, dizendo "Nesta época de novos começos, quero falar claramente aos líderes iranianos", "A minha administração está disposta a praticar uma diplomacia que trata a totalidade dos problemas que temos perante nós e a procurar estabelecer relações construtivas entre os Estados Unidos, o Irão e a comunidade internacional. Este processo não progredirá pela ameaça. Procuramos pelo contrário um diálogo honesto e fundado no respeito mútuo".
Também entre os EUA e a China. Está a ser levado a cabo um diálogo sério e aberto assente no respeito mútuo entre Estados soberanos, com grande potencial bélico.
Não deve deixar de ser referida a viragem positiva conseguida no relacionamento do Ocidente com a Líbia, após o atentado de Lockerbie, e posterior bombardeamento aéreo a Trípoli - sem qualquer resultado positivo -, a diplomacia francesa e britânica conseguiram convencer Kadhafi que seria vantajoso para a Líbia e para o Ocidente o estabelecimento de um bom relacionamento de entendimento e colaboração. E, realmente, a partir daí, os benefícios mútuos têm sido notórios.
A guerra no Iraque, ainda por terminar, poderia ter sido evitada se a França não tivesse feito uma asneira imprevisível do País que foi pai da diplomacia: O Saddam Hussein estava pronto a ir para o exílio e estava a escolher se iria para um palácio Líbio ou na Arábia Saudita, porque levou a sério o bluff americano com todas as forças nas imediações do Índico. (Toda a guerra é precedida de manifestações de força para convencer o adversário a ceder sem uso das armas). Mas quando industriais de petróleo franceses chegaram de avião a Bagdad, apesar de o espaço aéreo estar interdito, para assinar novos contratos, o Saddam convenceu-se de que os Americanos não iriam além do bluff, ignorando que estes já estavam junto do ponto de não retorno. E a sua atitude que, com os sinais dos franceses, se tornara mais arrogante, fez desencadear a guerra.
O medo, a desconfiança, a falta de diálogo, de transparência, presta-se a actos violentos, como são as guerras. Daí que um bom relacionamento e a resolução pacífica dos pequenos conflitos evita que estes degenerem em guerra, que é sempre mais custosa do que eventuais benefícios que possa trazer.
Seria pois desejável que qualquer desentendimento fosse resolvido pacificamente com oportunidade para evitar o seu agravamento e o perigo de gerar violência. Isso até poderia, contra os interesses das indústrias de armamento e de equipamentos bélicos, contribuir para que, utopicamente, as forças armadas se tornassem uma actividade em vias de extinção, o que seria a prova de que a humanidade passaria a agir com racionalidade, confiança, franqueza, abertura, etc. e a diplomacia daria solução aos diferendos.
P.S.: Há dias, a propósito de educação foi referido que um psicólogo defende a negociação entre alunos e professores e entre filhos e pais, com o que a autora do texto não concordava. Realmente a negociação, no sentido aceite neste post, só tem pleno significado entre duas entidades com capacidade para aceitar, fazer cedências e exigir. Não é esse o caso da educação, em que o educador deve impor procedimentos cívicos, embora o deva fazer por persuasão, explicação e demonstração dos benefícios resultantes dos bons comportamentos e do respeito pelos outros.
Outros posts sobre este tema:
- Negociação em vez de guerra
- Reflexões sobre a guerra
- Para evitar conflitos armados
- Nobel da Paz. Negociação e Mediação
- Conversações em vez de Confronto
- Relações internacionais mais pacíficas?
- Humanidade sem terrorismo
- Terroristas, dissidentes ou apenas oposição?
- Negociar, coligar em vez de utilizar as armas
A Decisão do TEDH (396)
Há 1 hora
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