Todos nós temos na família, mais ou menos próxima, ex-combatentes que foram obrigados a tomar parte numa guerra e da qual vieram com sequelas várias, algumas impeditivas de uma vida autónoma.
Foram arrastados para «a defesa do território nacional», e mentalizados com o slogan «honrai a Pátria que a Pátria vos contempla». Mas a Pátria, pela mão dos seus maus representantes, não só não os contempla como os tem esquecido, desprezado. Esse desprezo para quem tudo arriscou, muitos lá perderam a vida, contrasta com a acumulação de subsídios de políticos parasitas e de muita gente que nada produziu nem para o País nem para a vida económica nacional.
O tema foi ontem focado pelo «Público» no artigo de Paula Torres de Carvalho e pelo jornal gratuito «Global-Notícias» no editorial de Silva Pires, em que se referia que «o provedor de Justiça, Nascimento Rodrigues, manifestou ao ministro da Defesa Nacional a sua preocupação quanto à existência de atrasos que considerou "excessivos" e "injustificados" na tramitação de processos de invalidez de ex-combatentes e de qualificação como deficientes das Forças Armadas».
Tasso de Figueiredo, presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA) disse que a situação é "inqualificável", e saudou a iniciativa do provedor.
O gabinete de Nascimento Rodrigues explicou que, na sequência da apreciação das queixas de ex-combatentes, se apurou que "os atrasos ficam a dever-se à excessiva demora na marcação e realização de juntas hospitalares de inspecção e na elaboração de pareceres pela Comissão Permanente de Informações e Pareceres da Direcção dos Serviços de Saúde, que atinge um atraso médio de cerca de três anos".
Apesar de a guerra ter terminado já há 34 anos, esta questão tem vindo ser arrastada e já tinha sido colocada ao anterior ministro da Defesa que suscitou um parecer da Direcção-Geral de Pessoal e Recrutamento Militar, determinando a necessidade de realizar uma "revisão do percurso dos processos de reconhecimento de invalidez ou da qualificação como deficiente das Forças Armadas (DFA), ponderando a efectiva necessidade de intervenção de determinadas entidades do Exército".
Agora, na sua nota, o provedor salienta que ainda não são conhecidas as conclusões da criação de um grupo de trabalho pelo actual Governo, incumbido de estudar e reformar o sistema de saúde militar até ao fim de 2006. Continua assim sem se saber que medidas serão tomadas quanto aos atrasos relativos aos processos de invalidez ou qualificação como deficientes das Forças Armadas.
Esses atrasos "são fortemente penalizadores dos interesses legítimos dos cidadãos afectados, constituindo uma violação grave dos seus direitos", considera o provedor: "Num determinado contexto histórico e político, o Estado exigiu a estes cidadãos o exercício do serviço militar num teatro de guerra, física e psicologicamente, violento. Hoje, o Estado de Direito democrático deve-lhes o respeito pelos seus mais elementares direitos, ou seja, deve avaliar e decidir, com rigor e celeridade, a respectiva situação jurídica e, nos casos que se mostrem devidos, a recompensa de uma adequada protecção social."
Os atrasos são "fortemente penalizadores dos interesses legítimos" dos ex-combatentes, diz Nascimento Rodrigues. E pode suspeitar-se que os adiamentos são intencionais, esperando, o Poder, que eles vão morrendo e aliviando o Estado de tal encargo! Imoralidade, falta de honradez e de sentido de Estado.
Agora, que terminaram com o serviço militar obrigatório (SMO), e que os militares, em contrato voluntário, estão ser enviados para missões de perigo, no estrangeiro, irá levantar-se o problema de os jovens de hoje se consciencializarem do desprezo que a Pátria votou aos seus pais e avós, projectem em si as mesmas «recompensas» e comecem a deixar de ser voluntários para tais missões que poderão lançá-los na miséria para o resto da vida. O que farão então os nossos iluminados políticos?
A Decisão do TEDH (397)
Há 1 minuto
20 comentários:
Um das muitas injustiças do país. Beijos.
Cara Paula,
Mais do que injustiça, é uma imoralidade, insensatez, ingratidão, desonestidade, um ataque à defesa nacional, que, desmoralizando os seus defensores, perde eficácia. Não se pode esperar uma dedicação até à morte de pessoas tratadas como escravos, como coisas inertes.
Beijos
João
Para os nossos "desgovernantes" somos "escravos" e "carne para canhão" e eles como "grandes senhores" servem-se de nós e nada mais! É uma autêntica VERGONHA, IMORALIDADE e tudo o mais que se possa dizer ainda é pouco para tamanha IGNOMINIA!Vejam bem eu que até era optimista virei pessimista ao ver tanta falta de HUMANISMO....
Caro A. João Soares,
Não poderia estar mais de acordo consigo e, naturalmente, com o elevado parecer do Provedor de Justiça. É lamentável e, mais ainda, condenável, que se prolongue indefinidamente uma situação de injustiça e discriminação face a estes homens que, com o seu esforço e dedicação, cumpriram o seu dever para com o país.
Um abraço
A situação do antigos combatentes é revoltante e repugnante ...
só mesmo num País como o nosso, que se intitula de democrático ... ainda gostava de saber onde pára a democracia ...
bjs
Amigo Luís,
Usas palavras muito expressivas da situação que foi criada aos jovens da década de 60 e início de 70, que foram retirados da sua vida normal, retardaram o sei início de profissão, ç~muitos perderam a vida e muitos mais ficaram deficientes, e troco de quê? A Pátria, através dos seus «representantes» esqueceu-se deles, abandonou-os.
Os governos que temos suportado têm sido incentivadores da emigração para Países bem estruturados e com bons governos. Gente ingrata que não sabe reconhecer o esforço a bem do País.
Abraço
A. João Soares
Caro Jorge Borges,Realmente não pode haver compreensão entre estes dois tipos de cidadãos. Os ex-combatentes sacrificaram tudo, a própria vida, pelo País. Por outro lado, os políticos sacrificam o País, todos os portugueses pelos próprios interesses e dos seus amigos de clã.
Esta diferença é notória e inconciliável. Os políticos não conseguem, nem querem, compreender tal gente, para eles tão estranha!
Abraço
A. João Soares
Cara Isabel-F,
A democracia à portuguesa começa à saída. Podemos votar secretamente, embora até à antevéspera nos procurem condicionar com falsas promessas, mas estas são de imediato esquecidas pelos seus proponentes, e começa uma ditadura até às eleições seguintes.
Em todos os Países, os militares que tudo sacrificam pelo País, são prestigiados e recompensados desses sacrifícios e das restrições a que estão sujeitos. Entre nós eles só conhecem sacrifícios e restrições ao bom estilo da escravatura.
Um abraço
A. João Soares
Caro A. João Soares:
Cada vez gosto mais de vir ao seu blogue. Concordo normalmente com o que escreve e apoio as atitudes que anuncia. Oxalá cresçam mais e mais os seus visitantes! E oxalá continue assim, nessa magnífica luta por causas sérias, justas e nobres!
Um abraço cordial.
Caro Arsénio Mota,
Agradeço as suas palavras simpáticas.
É certo que gosto de ter visitantes e bons comentários, mas não é esse o meu objectivo. Se o fosse, colocaria posts mais espaçados no tempo, para não passarem despercebidos sob os mais recentes.
Gosto de escrever sobre as reflexões que as realidades me inspiram. Sei que não mudo o mundo, mas procuro contribuir para que seja mais justo e torne as pessoas mais felizes. Não dou lições mas procuro sugerir pistas que me pareçam positivas e incentivar as pessoas a pensar pela sua cabeça sobre problemas importantes para a sociedade. Há quem me critique por ser superficial, mas penso que ninguém procura aqui, em poucas palavras, um tratado cientifico ou uma tese de doutoramento. Ficarei satisfeito se os visitantes ficarem a reflectir sobre os temas apresentados e com curiosidade de irem procurar maior aprofundamento em local mais adequado.
Um blogue não é uma revista especializada, ou um manual académico.
E tenho a sensação de que os visitantes não vêm com disposição para estarem muito tempo a ler um post demasiado técnico.
Estas palavras surgem a propósito da crítica que ouvi a um amigo, que me parecem desproporcionadas e fora das realidades do que é um blog ou um jornal generalista.
Um abraço
A. João Soares
Mais uma vez,um dos meus temas predilectos está na ordem do dia. O João,permita-me este tratamento, já sabe o que penso sobre este assunto: há muitas injustiças, mas esta é uma das que me faz ruborizar de vergonha do meu país.
Só queria, como se diz na gíria, "lançar uma lebre". Será que o provedor vai conseguir fazer actuar algum Vip do governo no sentido de se resolver a situação? Pessoalmente, estou muito céptica, tendo em conta que já foram por ele emitidos pareceres sobre diversas injustiças praticadas e... cairam em "saco roto" ! Deixar passar o tempo, entretendo o povo com futebol e esperar que cada vez sejam(os) menos a reclamar os seus direitos, é o grande objectivo.
Cumprimentos,
Manuela
Cara Manuela,
Está a ver as coisas com muito realismo. Os governantes consideram-se Deuses omnipotentes e omnicientes, no bom estilo ditatorial. «O Estado sou eu» dizia um dos últimos reis de França. Os nossos governantes dizem o mesmo e criticam a Justiça o Tribunal de contas, o INE, e nada lhes custa ignorar o Provedor. Repare que receberam mal as opiniões de Mário Soares acerca da fome e do descontentamento geral.
Ora, se fossem pessoas sensatas aceitariam que errar é humano e procurariam melhorar o seu desempenho e dar explicações daquilo que fazem e daquilo que acham que não devem fazer.
Mas não têm ponta de vergonha, como se viu no ministro que afirmou qua o aeroporto em Alcochete «jamais» e continua a falar com igual arrogância e prosápia. Como se pode acreditar em tais pessoas?
Este desprezo pelos ex-combatentes deficientes pode sair-lhes caro porque é muito sentido por grande parte da população, os da família e os antigos companheiros de África.
Cumprimentos
A. João Soares
Esta espécie de governo "comprou" muitas guerras, mas não é capaz de resolver nenhuma...
Amua-se com os alertas de Mário Soares, metendo-se na toca...
Um abraço
Compadre Alentejano
Caro Compadre,
Este Governo arrancou com ideias inovadoras para resolver problemas que, há muito, deviam ter sido devidamente equacionados e solucionados. Era uma intenção muito louvável. Fez-nos esperar grandes reformas bem estruturadas tendentes ao desenvolvimento e às melhores condições de vida para todos os portugueses.
Porém, apesar dos inúmeros assessores, conselheiros, consultores, «boys» e «girls» nomeados por critério de confiança política, os resultados não apareceram e, quando houve decisões, foram seguidas muitas vezes por recuos, nada abonatórios.
O maior erro talvez tenha ido em muitos sectores, as reformas terem sido esquematizadas contra os principais vectres das respectivas actividades em vez de o serem COM eles. Foi o caso dos juízes, dos professores, dos médicos, farmacêutisos e enfermeiros, dos militares, polícias e GNRs, etc.
Um abraço
A. João Soares
Concordo consigo, João. Essa referência ao “rei-sol”, Luís XIV de França, que afirmou que “O estado sou eu”, fez-me recordar alguns conceitos desse poder absolutista da época e que a História parece estar a querer repetir. Chegam a ser irónicas as coincidências, salvaguardadas as devidas diferenças nos séculos que nos separam. Senão,repare:
1)A condição fundamental para o poder absoluto foram os conflitos entre classes que o próprio rei instigou, sobrepondo-se a eles e deles tirou proveito;
2)Protegeu a alta burguesia,
garantindo-lhe ascensão social;
3)Calou a nobreza, atraindo-a com cargos;
4)O rei seria o representante de Deus na Terra, defensor da pátria e representante do Estado, cujos interesses estavam acima dos interesses particulares... ...mas,
5)Embora o Tesouro estivesse perto da falência quando Luís XIV assumiu o poder, muito dinheiro era gasto “alimentando” a Corte Real.
(Sou só eu que vejo semelhanças com a actualidade?)
Apenas numa área vejo distinção: Luís XIV, o rei absolutista, o REI-SOL, o rei que adorava ser adulado, reconheceu a lealdade dos militares que o serviram e que ficaram feridos ou já estavam em idade avançada, mandando construir o Hôtel des Invalides (Palácio dos Inválidos) para lhes servir de hospital/lar, caso contrário, ficariam na miséria!!!
Já agora, e para deixar esta comparação entre Portugal e a França do sec.XVII, prefiro nem pensar na sorte do Luís XVI que, 1 século depois, não conseguiu evitar a Revolução, pelo facto de não dar ouvidos a quem o aconselhava a “olhar” para o povo, nem se tornou “líder” popular por não “ouvir” o povo e...acabou como acabou: na guilhotina! :-)
Em relação ao ministro “jamais”, só posso usar uma frase de Maquiavel: “A primeira impressão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam.”
Cumprimentos,
Manuela
Cara Manuela,
Os meus parabéns por este douto comentário. Os comentários devem relacionar-se com o post e contribuir para uma melhor compreensão do tema.
A comparação é notável, as semelhanças são bem visíveis, excepto o que coincide com o título do post.
Estou interessado em publicar a parte essencial deste texto como post, a fim de ter mais visibilidade para os visitantes do blog. Espero a sua concordância que considero ser tácita se não surgir nada em contrário da sua parte.
Cumprimentos
João
Obrigada, João. Apenas me limito a "observar" o que vai acontecendo à minha volta. Quanto à publicação como post, pode fazê-lo, obviamente, se acha que pode servir para uma maior reflexão de outros "observadores".Apenas coloco uma condição: Não me mandem prender!! ehhehe
Manuela
Cara Manuela,
Agradeço a sua anuência à publicação e acabei a gora de colocar um novo post.
Quanto a irmos prezos, para mim não representa um receio, pois passaria a ter hotel à borla. Hoje os lares são tão caros que ir para a prisão é um privilégio!
Beijos
João
A verdade é que parte dos diplomas institucionais ora em vigor nas forças armada e de segurança estão por regulamentar há mais de uma década.
Veja-se o Artº 213º do Estatuto dos militares da GNR que desde 1993 prevê que os sargentos e praças, titulares de grau académico equivalente a licenciatura sejam promovidos a oficiais, mediante a frequência de um tirocínio. 14 anos depois, este artigo aguarda regulamentação.
Este é apenas um exemplo entre tantos outros..
Abraço
Caro Paulo,
Vivemos numa apatia generalizada de cima a baixo. Não podemos culpar os políticos de tudo. Durante esses 14 anos, quantas manifestações houve? quantos indivíduos foram chamados à responsabilidade pelo atraso?
As autoridades dentro das F Seg e acima delas estão amarradas a preconceitos, tradições e interpretações muito estreitas dos regulamentos. Os sindicalistas, como não estão entre os que poderiam beneficiar com a promoção, não mexem uma palha. País de invejosos. Não foi por acaso que Camões fechou Os Lusíadas com a palavra Inveja.
Num País com tais defeitos, em grande quantidade e da pior qualidade, não é fácil evoluir. Daí que já o Eça dizia que os melhores portugueses emigravam e iam ajudar os outros Países a ser grandes.
Um abraço
João
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