As dificuldades que apoquentam os portugueses de menores recursos são do conhecimento das pessoas mais atentas e mais em contacto com o povo real. Esse tema já aqui foi referido por três vezes em pouco mais de um mês - Aumenta o fosso entre ricos e pobres, Fome versus biocombustíveis e O custo de vida dos portugueses. Hoje os jornais dão ênfase ao assunto, a propósito da recolha feita pelo Banco Alimentar contra a Fome que, neste fim-de-semana, obteve mais de mil toneladas de alimentos, às portas de supermercados, o que equivale a mais 25% do que na campanha de Maio do ano passado.
Nos trabalhos de recolha, selecção, empacotamento e distribuição, são empenhados milhares de voluntários, cerca de 17 mil, todos sem receber dinheiro. Neste número são incluídos empregados de empresas a mando das respectivas entidades patronais. O Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa abastece diariamente mais de 370 instituições de apoio a necessitados espalhadas pela área da capital, no equivalente a cerca de 80 toneladas de alimentos por semana.
O problema da fome não está circunscrito, pois está espelhado pelo mundo. O alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, António Guterres, considera que, «da maneira como a Comunidade Internacional está a olhar para o mundo, não iremos longe». E acrescentou «o fosso entre ricos e pobres é um dos problemas mais dramáticos da globalização».
Guterres mostrou-se preocupado com a subida do preço dos alimentos, da energia e a desaceleração da economia mundial, «que se faz sentir sobretudo nos mais pobres».
Também, a Comissão Permanente da Caritas Portuguesa alertou, ontem, em comunicado, as autoridades para prepararem programas de apoio a carenciados tendo em conta a crise alimentar mundial que, prevêem, irá causar danos graves no País. Segundo ela, em Portugal gasta-se uma "fatia enorme de recursos" a "pagar quase dois terços do que se consome, designadamente, produtos alimentares" pelo que o país está "na linha da frente" daqueles que mais sofrem "com a elevação dos preços internacionais e a escassez dos bens de primeira necessidade no mercado".
A Caritas considera que "o espectro da fome paira assim sobre a cabeça dos mais necessitados, incluindo de muitos portugueses", com "muita gente a viver abaixo do limiar de pobreza e com esquemas de apoio social muito deficientes". Reclama aos Governos para que deixem de "apoiar a produção de produtos energéticos a partir de produtos agrícolas" [biocombustíveis] e também que criem "pacotes especiais" de leis que prevejam o "apoio social para atender aos casos prementes".
No caso português, considera a Caritas, as autoridades devem redobrar os "apoios aos mais carenciados", um esforço que deve ser seguido pela população em campanhas como a efectuada no último fim-de-semana, e também em permanência, de acordo com as possibilidades. Os portugueses devem ser esclarecidos e alertados para a sua "responsabilidade na luta contra o desperdício de produtos energéticos e de bens alimentares".
O problema fica assim equacionado, esperando-se que o Governo corte nas despesas da máquina do Estado a fim de socorrer os mais necessitados que têm sido as maiores vítimas das falhas dos governantes que Portugal tem tido, durante vários anos.
Santarém, Natal 2024
Há 3 horas
2 comentários:
Caro João
Quando neste momento já há fome no nosso país, pergunto-me: Quem são os portugueses que desperdiçam produtos energéticos ou bens alimentares? só se forem os mesmos de que se fala no post abaixo " A política como trampolim"! esses sim têm recursos para desperdiçar!
um abraço
Ana Marta,
Tem razão, quando diz que só os que usam o trampolim é que desperdiçam. a maior parte da população, quando eventualmente come carne, deixa os ossos muito rapadinhos. E não faz gastos opulentos e de ostentação. Há grande exagero dos novos ricos, que nunca souberem dar valor ao dinheiro por não lhes custar a ganhá-lo e o terem em abundância, na compra de produtos não essenciais e do mais alto preço, aumentando as importações(de carros de topo de gama, por exemplo) em prejuizo do equilíbrio da balança de comércio externo e na de pagamentos.
Um abraço
A. João Soares
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