segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sinais da área militar - 1

Deparei hoje com notícias fundamentadas em análises da autoria de pessoas com credibilidade que evidenciam sinais significativos da área militar, a que convém estar atentos, recordando as origens do 25 de Abril. Tenciono publicar aqui aquilo que me parecer mais preocupante.

A classe média militar
Coronel Luís Alves de Fraga

Ontem de manhã ouvi uma notícia na rádio sobre a tomada de posição de um dos responsáveis da Caritas Portuguesa quanto à situação da classe média nacional. Lê-se no site da Antena 1: «O aumento dos preços e a escassez de bens de primeira necessidade leva a que, segundo a Caritas, “o espectro da fome” paire sobre “muitos portugueses”, com “muita gente a viver abaixo do limiar de pobreza e com esquemas de apoio social muito deficientes”.

“A questão é eminentemente política”, declarou à RTPN Eugénio da Fonseca. O presidente da Caritas Portuguesa aponta que os níveis de produção nunca foram tão elevados, mas “o problema está no desequilíbrio dos bens produzidos e isso depende da regulação que os políticos devem fazer da economia”.

Esta notícia chamou-me a atenção para a problemática da subsistência dos sargentos e das praças das Forças Armadas. Eles são verdadeiramente a baixa classe média dos militares. Os seus rendimentos são fraquíssimos e os vários equilíbrios financeiros que têm de fazer são impressionantes.

Os cortes efectuados no sistema de apoio na doença vieram tornar ainda mais precária a sobrevivência dos sargentos e praças profissionais.

Os sargentos, muito em particular, deveriam ser, efectivamente, a classe média militar, porque pelas suas atribuições estatutárias estão entre as praças e os oficiais, funcionando para aquelas como o primeiro exemplo a seguir. Se um sargento não prima pelo aprumo e brio profissionais não pode servir de elo de ligação entre a oficialidade e as praças.

E como poderá um sargento ser um exemplo se o que lhe é pago não é suficiente para a manutenção de um razoável desafogo familiar? Quantos sargentos têm de recorrer a segundas ocupações para complementar o seu orçamento ao fim de cada mês? E quantos se podem dar ao luxo de terem os respectivos cônjuges unicamente a tomar conta dos filhos e a tratar da casa? E quantos têm as mulheres em subempregos, muitas vezes, pouco dignos da categoria sócio-profissional do marido?

Ao ritmo a que o custo de vida se acelera em Portugal, conjugado com os fracos aumentos que são dados aos militares, não me espanta nada que, durante os próximos anos, os sargentos e as praças das Forças Armadas tenham de se socorrer dos apoios fornecidos pelo Banco Alimentar Contra a Fome ou pela Caritas.

Se o ministro da Defesa Nacional tivesse assessores realmente preocupados com a forma como vivem os sargentos e as praças — para não falar dos postos mais baixos de oficiais — já teria mandado lançar um grande inquérito destinado a averiguar as dificuldades da classe média militar e, assim, munido de dados seguros, poderia junto do primeiro-ministro e do ministro das Finanças fazer valer as suas razões — se é que isso lhe importa realmente! É evidente que uma acção desta natureza poderia e deveria começar por ser tomada pelos Chefes dos Estados-Maiores dos Ramos para se assumirem como os lídimos defensores dos interesses dos homens por si comandados. Números na mão, inquéritos no papel, essa poderia e deveria ser a maneira de ultrapassar muitas das dificuldades financeiras hoje existentes no seio das Forças Armadas.

Bom material de guerra tem de ser operado por homens e mulheres satisfeitos e realizados técnica e financeiramente.

Mandem os senhores Chefes dos Estados-Maiores que os adidos militares junto das diferentes embaixadas das capitais europeias façam um estudo entre o custo de um cabaz de compras pré-determinado (no qual entre o valor médio do arrendamento de uma casa e as despesas inerentes à sua manutenção) e os vencimentos pagos aos sargentos e praças desses mesmos países; depois, determinem o estabelecimento das escalas de comparação e, munidos dessas informações, reclamem junto do ministro.

Talvez, desta maneira, deixando escapar alguma notícia para os órgãos de comunicação social, ganhem popularidade mais do que suficiente junto dos seus subordinados.
Comandar não é só saber dar ordens… É preciso que essas ordens traduzam um rumo condutor até à satisfação de quem é comandado.
Coronel Luís Alves de Fraga, www.vozdecardigos.com

5 comentários:

Anónimo disse...

Não há classe média em Portugal! Muito menos classe média militar! O que há é: muito pobres, pobres, muito poucos remediados , ricos e muito ricos! E cada vez há mais pobres e mais ricos! O fosso entre estes é cada vez maior! Os militares situam-se entre os muito pobres e os muito poucos remediados, excepção feita aos responsáveis pela condição militar que estão a ser pagos para não se lembrarem das más condições sociais em que vive a maioria dos seus subordinados! É uma VERGONHA!

A. João Soares disse...

Caro Luis,
Obrigado pelos teus comentários de pessoa que pensa nestes problemas até ao âmago. Agora, fiquei a saber quem é o Luís! Há dias pensei que era mais um nome falso de um indivíduo que abusa de falsas identidades, o mesmo que esteve na origem da minha reacção ao contacto do Rezende!
É como dizes. Os militares, em tempos idos, eram uma classe prestigiada, com justas compensações aos sacrifícios a que são obrigados pela chamada «condição militar». Hoje, devido à miopia dos maus políticos que nos vêm governando há três décadas, os militares continuam a ser explorados nos mesmos sacrifícios e não têm as compensações justas que vinham recebendo. Isto não pode continuar: ou deixa de haver voluntários para esta escravatura, ou os que restarem acabarão por se rebelar e, com a sua preparação, nem precisam de bons materiais para acabar com este sistema nocivo para o País.
Os três posts aqui colocados são um alerta para o que pode acontecer. O 25 de Abril foi espoletado pelo desconforto sentido por más decisões do governo. Parece que os políticos não são suficientemente inteligentes para tirarem conclusões da experiência. Claro que o mundo em que estamos inseridos, não permite um golpe tipo Birmânia, mas há muitas alternativas!
Um abraço de muita amizade
A. João Soares

Anónimo disse...

Foi com prazer que conheci e li este blog. Finalmente encontrei quem partilha de alguns receios que há muito venho sentindo. Assino há 3 anos o jornal defesa embora não o leia com a regularidade que gostaria. (valores "educativos" ainda mais altos actualmente se me impõem !)
Estes posts sobre os militares deram-me a coragem para deixar esta mensagem. É que sempre disse para comigo: "mexam com quem vos deixar,mas no dia em que quiserem fazer o mesmo às forças militares..." prefiro nem pensar!
O último parágrafo da resposta ao Luis, a quem peço desculpa por mencionar, "tirou-me as palavras da boca" como é costume dizer-se.
Bons blogs e ..parabéns.
Manuela

A. João Soares disse...

Manuela,
Obrigado pela visita e pelo comentário. Apareça e comente sempre.
Procuro estar atento ao que se passa, com a máxima isenção que é humanamente possível, e reparei desde o início do actual Governo, que as intenções eram as melhores, as promessas as mais necessárias ao País, que precisa de grandes mudanças, progressos e inovações.
Mas fez um grave erro~, quando começou a implementar essas reformas. Em vez de as fazer com os melhores quadros de que os diversos serviços dispõem, colocou-se contra todos, juízes, médicos, farmacêuticos e enfermeiros, professores, militares, etc. Dessa forma estava condenado ao fracasso e cedo começou a ter de fazer recuos, que lhe acarretaram desprestígio e direito à confiança da generalidade dos cidadãos.
Ma no meio disso tudo, o maior erro foi e estão a ser a retiradas aos militares as compensações que lhes tinham sido justamente concedidas aos sacrifícios que a «condição militar» lhes impõe, e apesar de dessa forma o Governo deixar de cumprir a sua parte no «contrato», continua a exigir, e a alegar as restrições dessa «condição», como meio de os transformar e escravos mudos.
Não são bons os sinais já visíveis. O espoletar do 25 de Abril deu-se por menos.
Abraço
A. João Soares

Anónimo disse...

obrigada e vou participar aqui sempre que ambos julgarmos pertinentes as minhas palavras.
Em relação à actuação deste governo, as intenções poderiam ser boas (camufladas?), mas os erros vão ver-se mais tarde (alguns já se vêem)e pagar-se ainda mais caro(que também já estamos a pagar). Há um ditado que diz "a pressa é inimiga da perfeição". Deve ser dos poucos em que ainda acredito!
Cumprimentos
Manuela