O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou ontem, na Guarda, o aumento de benefícios fiscais para as empresas já instaladas ou a criar no interior do País.
O primeiro-ministro lembrou que "neste momento os benefícios fiscais para as actividades económicas no interior do País são de cinco por cento para as empresas que já existem. Vamos aumentá-las para o dobro e serão, neste Orçamento de Estado (OE), de dez por cento. Os benefícios fiscais para as novas empresas, que neste momento são de dez por cento, vamos aumentá-las para quinze por cento".
José Sócrates justificou esta medida, a integrar no próximo OE, com a necessidade de uma "discriminação positiva a favor do interior do País, para que aqui se localizem actividades económicas, para que atraia emprego industrial e para que o interior do País possa oferecer aos seus cidadãos as mesmas condições de oportunidade que oferece todo o País". Sócrates disse mesmo que "um Estado justo pode e deve fazer mais" pelo interior. E acrescentou «se há alguma coisa que é possível e desejável fazer em Portugal é contribuir para a valorização do espírito empreendedor. É o que estamos a fazer".
A Guarda foi bem escolhida para o anúncio desta medida porque se trata de um município que vive em suspenso devido ao anunciado despedimento de cerca de 700 trabalhadores da Delphi e às poucas alternativas de emprego.
Estas palavras são muito agradáveis de ouvir e a intenção que encerram é muito louvável, mas isto faz lembrar um cata-vento com a seta a mudar de rumo a cada momento, e seria mais desejável, mais tranquilizante e inspirador da necessária confiança, que fôssemos guiados por uma bússola cuja agulha nos indica sempre o Norte, com coerência e lógica. Com efeito, pergunta-se como actuar «para que o interior do País possa oferecer aos seus cidadãos as mesmas condições de oportunidade que oferece todo o País», se tem sido feito tudo para dificultar a vida aos cidadãos ali residentes fechando maternidades, centros de saúde, urgências, escolas, tribunais, conservadoras notariais, prediais, etc.? Quantos bebés têm nascido em ambulâncias a caminho de maternidades distantes por ter sido encerrada a que estava mais próxima?
É mais uma contradição deste Governo do género das muitas aqui referidas noutros posts em que se tornam evidentes os avanços em zigue-zague, com avanços e recuos, sem rumo definido, sem bússola, em que as palavras de hoje não condizem com as decisões já tomadas e, provavelmente, não serão concordantes com medidas concretas que continuarão a surgir dos vários ministérios.
Artigos hoje publicados sobre este assunto:
Benefícios fiscais sobem para empresas do interior
José Sócrates promete mais apoios às empresas do Interior
Moçambique pós-Natal
Há 2 horas
7 comentários:
Caro amigo,eu nao vejo qualquer problema na re-estruturação da administração pública no interior!
Desculpe mas eu prefiro ter escolas com 100 alunos do que com 5, prefiro ter um a funcionar com hospital com muita qualidade do que 10 sem qualidade nenhuma, prefiro ter um tribunal que em que de facto se trabalhe do que 10 em que nada se faz...finalmente alguem teve a coragem de re-estrutar algo que ja deveria ter sido feito á muito tempo. Quanto ao nascimento de bébés nas ambulancias a caminho das maternidades, quantos foram esses casos? não aconteciam também no passado? Desculpe, mas parece-me claramente pura demagogia de algumas forças forças políticas.
Respeitosamente, Alexandre Lote
Caro Senhor,
Não presto obediência a qualquer força política. E quanto a demagogia, tenho-a criticada a vários governantes quer deste governo quer dos anteriores.
Tenho elogiado este governo pela coragem e iniciativa de fazer reestruturações de vários serviços, mas nem tudo está correcto, como provam o repetidos recuos do ministro da saúde.
Concordo consigo, quando diz «eu prefiro ter escolas com 100 alunos do que com 5», mas se se pretende não abandonar o interior, porque razão se acumulam os 100 alunos no centro urbano mais habitado em vez de uma escola nos arredores não muito distantes? Porque se traz todos os apoios para o mais perto possível do litoral, e não ao contrário.
Depois de se terem criado todas as condições para afugentar as pessoas do interior para o litoral ou para o estrangeiro, vem agora este apoio aos empresários! Há-de concluir, se quiser ser isento e lógico, que há aqui contradição. Não confunda este meu raciocínio: acho muito bem que sejam dados incentivos aos industriais a fim de desenvolver o interior e evitar que se transforme em campos de treino da ETA ou da al-Qaeda.
Nunca poderia ter escrito algo melhor! Parabens.
Um abraco beirao d'Algodres.
Caro Albino Cardoso,
Obrigado pelas suas palavras.
Num comentário, por vezes escrito muito à pressa, pode sais mau português, mas os valores aprendidos há muitas décadas, raramente falham. Há os que se dizem democratas e há os que procuram, a cada momento, usar de civismo e de lógica, respeitando todas as opiniões e quem as emite. Gosto de me colocar no grupo dos segundos e procuro dar a melhor resposta aos meus críticos, com a educação que, por vezes, não é recíproca da partes deles.
Nos grandes temas é praticamente impossível todos estarmos de acordo e, por isso, devemos respeitar as opiniões alheias para que as nossas também sejam respeitadas.
Um abraço de amizade
A. João Soares
Caro a.joão soares, eu nao me referi a si como demagogo. Referi-me sim a algumas forças políticas que têm usado estes casos de nascimentos de algumas crianças em ambulâncias para retirar dividendos políticos.
Em relação ás escolas e aos serviços de saúde eu julgo que desde que assegurado um meio de transporte adequado e sendo o espaço temporal do percurso razoável, esta re-estruturação será globalmente bastante positiva. Algumas vilas/cidades do interior terão obviamente mais a perder do que a ganhar, sendo que o inverso também acontece. A questão é que se for o mais lógica possível esta re-estruturação será sem dúvida um ganho de QUALIDADE não para esta ou aquela vila/cidade, mas sim para todo o Interior!
Respeitosamente, Alexandre Lote
Caro Alexandre,
Sem dúvida que as intenções são boas e era necessário e urgente fazer reformas que só pecam por não terem sido feitas antes.
O ponto que tenho defendido com a teoria que estudei e o muito que pratiquei em planeamento é a falta de um estudo prévio completo (quanto possível) e da definição de uma estratégia a seguir na execução.
Nos tempos actuais, com as facilidades de transporte e de comunicação existentes, até seria de pensar em «esvaziar» completamente muitas aldeias e concentrar as populações em vilas e cidades previamente escolhidas onde dispusessem dos apoios adequados. Ora, isso é que falta e não tem havido coragem de tomar essas decisões e as partilhar lealmente com as populações, que se fossem bem esclarecidas iriam colaborar na procura das melhores soluções. Mas, erradamente, não foi seguida esta metodologia e foi imposta solução inadequada, o que obrigou a recuos ministeriais.
Não se pode nem deve governar por caprichos, mas por critérios adequados, tendo sempre em mente os interesses das populações. Governar é melhorar as condições de vida do povo.
Um abraço
Sugiro a leitura do post Ambulâncias em risco de ruptura que apresenta uma consequência da polémica decisão do ministro da Saúde de fechar maternidades e urgências, sem ponderar as consequências.
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