O novo ano escolar arranca oficialmente amanhã. Com o seu habitual optimismo exagerado, José Sócrates afirma que nos últimos dois anos, o Governo procedeu a uma verdadeira revolução na estrutura da educação. Pelo menos em quantidade de euros, ele diz que há dez anos gastava-se o dobro do dinheiro com muito mais professores para muito menos alunos. Este jeito para os números é um aberração de muitos ministérios que descuram a avaliação do seu desempenho para benefício dos portugueses, para se centrarem no dinheiro poupado.
É certo que não pode ser ignorado que o governo tem procurado reformar o funcionamento do ensino como o de muitos outros sectores, sendo de esperar que obtenha o maior êxito. Neste momento, um dos objectivos é contrariar o abandono e o insucesso escolar, que deixam o País a milhas dos indicadores da União Europeia. Oxalá que isso não se traduza no inconveniente facilitismo que prejudique a real preparação dos estudantes para a vida prática e para a investigação e inovação. Portugal precisa de bons técnicos, o que se consegue com a criação de hábitos de estudo, com sentido de responsabilidade e de culto da excelência.
Algumas medidas anunciadas merecem ter êxito como o alargamento da oferta de bolsas de mérito; o reforço da Acção Social Escolar para os mais carenciados, nomeadamente ao nível das comparticipações dos manuais; e os transportes daqueles a quem foram fechadas as escolas próximas da sua residência.
A competitividade e a produtividade das empresas, de que resulta benefício para o País, exige que a educação seja considerada um investimento essencial, para o País e para as famílias. Vale a pena afirmá-lo, repeti-lo e demonstrá-lo. Quando assim é, o espavento feito pelos meios de comunicação social sobre os custos da educação é não só despropositado como, muitas vezes, profundamente demagógico e errado. Seria bom olhar atentamente para o exemplo dado pelos países em que as famílias se empenham e endividam para garantir uma educação de qualidade aos filhos, mesmo com o sacrifício do carro, dos electrodomésticos e da casa. E ver em que ponto se encontram esses países nos rankings de competitividade! Se Portugal quer crescer para se aproximar da média europeia e deixar de ser a ovelha ranhosa, tem de olhar positivamente para o esforço a fazer na educação, por todos os cidadãos e pela administração pública.
O sucesso na investigação e na inovação é um fruto da reforma do ensino, mas não imediato. É preciso perseverança, persistência e objectivos bem definidos. Por outro lado, o insucesso escolar no país deve-se também a questões sociais e culturais, nomeadamente "à falta de uma cultura de apoio à escola e de gosto pelo saber". Mas, para avançar, temos que puxar a solução por vários lados e estabelecer prioridades e sequências do esforço para este ser útil e profícuo. A boa preparação escolar é fundamental para a evolução.
Texto recomendados sobre este tema:
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El País
Há 1 hora
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