Manuel Maria Carrilho publica no Diário de Notícias de hoje o artigo A implosão partidária que promete ser o primeiro de uma série em que desenvolve o tema da modernização da democracia partidária, em consequência de uma situação que tem vindo a agravar-se e que apresenta características implosivas.
Refere a indiferença e a ausência de reacção à sua contínua degradação, bem confirmada nas intercalares de Lisboa.
«Da gigantesca abstenção até aos valores obtidos pelos "dissidentes", da desmotivação dos cidadãos até à fragmentação dos eleitos, tudo veio ajudar a empurrar o descrédito partidário para limiares que podem ser verdadeiramente implosivos». Os partidos estão profundamente esclerosados, sem verdadeira coerência ou consistência.
Os partidos «tornaram-se cada vez mais organizações de eleitos sobretudo preocupados com a eleição seguinte». O fenónemo dos chamados "independentes", na verdade apenas dissidentes de ocasião, pode na verdade ter consequências muito negativas para a vitalidade da democracia.
«É, pois, urgente agir para melhorar a nossa democracia, e só há uma via: a de requalificar os próprios partidos, fazendo deles organizações mais pluralistas, mais transparentes e mais informais. Em suma, mais atractivas para quem se queira dedicar (em exclusivo ou em paralelo com as suas carreiras profissionais) à vida pública.»
O que se vê nos Governos dos principais Países europeus «são quadros partidários, com qualidade e experiência, que dão garantia de competência nas (naturalmente sempre controversas) funções que ocupam. E, nestas circunstâncias, a sociedade civil, os independentes e os movimentos de cidadãos somam competitivamente ideias e debates, projectos e desafios aos partidos, sem pretender substituí-los.
A reconquista da credibilidade dos partidos e dos políticos passa hoje por uma porta estreita, que é a da coerência com que praticam aquilo que proclamam, devendo assumir o que receitam. Devem «Reformar-se, combatendo o conformismo e valorizando internamente a criatividade, a competitividade e a audácia, com um objectivo nuclear: o de aumentar tanto o seu enraizamento popular como a sua capacidade de atracção das elites.»
Desejo e espero que M. M. Carrilho dê ao mundo a obra que há vários anos é esperada e que está fazendo falta. Os políticos precisam de uma «cartilha» que lhes sirva de apoio, que lhes dê uma orientação credível, coerente e bem estruturada, para melhor poderem zelar pela felicidade dos povos. Houve vários teorizadores ao longo da História e precisamos de um actual. Platão criou o conceito de Democracia; Nicolas Maquiavel deixou os seus conselhos ao Príncipe para melhor manter e consolidar o seu poder autoritário nas diversas situações; Cardeal Richelieu ajudou o seu rei a conseguir o poder absoluto; Nas revoluções contemporâneas francesa e americana surgiram impulsos quer académicos quer da experiência, de Alexis de Toqueville, Madison, Thomas Jefferson, etc, tendo Alexander Hamilton celebrizado o conceito «reflexão e escolha»; Posteriormente Frederik Engels e Karl Max lançaram uma teoria que entusiasmou os jovens, mas que foi desvirtuada na sua concretização prática, embora os seus princípios, muito próximos do cristianismo, mantenham alguma validade; Nos tempos mais recentes, surgiu a teoria da terceira via, amplamente explicada por Anthony Giddens, que atraiu vários governantes há poucos anos. Também na América surgiram alguns pensadores, mas que pecaram por se terem limitado em torno de interesses pragmáticos do momento, como Francis Fukuyama, Samuel Huntington, etc.
Os políticos de hoje, com pouca preparação e apetência para o estudo, precisam «mandamentos » sintéticos e facilmente digeríveis. Este texto de Carrilho tem a virtude de estar escrito de forma clara, facilmente interpretado, em condições de ser compreendido pelo pessoal que respira o mesmo ar dos governantes. Por isso, há muito que esperar da sua mente esclarecida para a definição das políticas do futuro. É isso que lhe desejo para coerência e consistência da governação do País.
Seja o líder académico dos nossos políticos!
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Os partidos precisam de séria reforma
Publicada por A. João Soares à(s) 17:06
Etiquetas: independentes, partidos, política, reformas
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