sábado, 22 de setembro de 2007

Suu Kyi, exemplo de perseverança, contra a ditadura

Oposicionista birmanesa Suu Kyi saiu hoje de casa

A oposicionista birmanesa Aung San Suu Kyi, sob reclusão domiciliária há mais de quatro anos, saiu hoje da sua casa em Rangum para cumprimentar monges budistas que se manifestavam contra a Junta Militar, indicaram testemunhas.

Geralmente, forças de segurança bloqueiam a avenida onde se situa a residência de Suu Kyi, mas hoje excepcionalmente um milhar de manifestantes pôde passar diante da sua casa.

Aung San Suu Kyi, 62 anos, saiu de dentro da casa com lágrimas nos olhos em companhia de duas outras mulheres e foi cumprimentar os monges, alguns dos quais começaram a chorar, ainda segundo relatos de testemunhas.

Apesar de chover, os monges permaneceram diante da residência da oposicionista durante cerca de quinze minutos, dizendo uma oração:«sejamos totalmente livres de qualquer perigo, de qualquer dor, da pobreza e que a paz esteja nos nossos corações e nos nossos espíritos».

Cerca de 20 polícias tinham momentos antes retirado as barreiras que bloqueiam a avenida e não interromperam a procissão religiosa, segundo as mesmas fontes. Mal os monges partiram, as forças de segurança voltaram a encerrar a artéria.

Suu Kyi saíra da sua residência pela última vez em Novembro de 2006, altura em que a Junta Militar a autorizou a encontrar-se durante uma hora com um enviado especial das Nações Unidas, Ibrahim Gambari.

Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da paz em 1991, está reclusa em casa há mais de quatro anos e foi privada de liberdade durante a maior parte dos últimos 18 anos.

A Liga Nacional para a Democracia (LND), partido que co-fundou em 1988, venceu por larga maioria nas eleições legislativas de 1990, mas os resultados foram rejeitados pelos generais no poder.

Desde o início da semana, jovens monges budistas aderiram a um movimento de protesto desencadeado em 19 de Agosto contra a Junta após o aumento em 50 por cento dos preços dos combustíveis e dos transportes públicos.

Hoje, cerca de um milhar de monges desfilaram pelas ruas de Mandalay, no centro da Birmânia, enquanto 2.000 outros o fizeram em Rangum, a maior cidade do país.

A marcha em Mandalay, que conta com numerosos locais de culto budistas e centros de educação religiosa, terminou sem incidentes, o mesmo acontecendo com a de Rangum.

Diário Digital / Lusa

2 comentários:

PintoRibeiro disse...

Um exemplo, realmente. Uma raridade, também.
Bom domingo, abraço.

A. João Soares disse...

Por ser interessante, fica aqui um texto do editorial do DN de 070924

Mais de dez mil monges budistas desfilaram, pelo sexto dia consecutivo, nas ruas de Rangun contra a junta militar no poder em Myanmar (antiga Birmânia).

O protesto, o maior das últimas duas décadas contra o regime dos generais, conta com o apoio especial do Presidente norte-americano e da sua mulher. George e Laura Bush exigiram já que a ONU condene a repressão e force o Conselho de Segurança a agir. A própria secretária de Estado Condoleezza Rice, no início de um encontro com o seu homólogo chinês em Nova Iorque, classificou como "brutal" o regime da Birmânia e avisou que Washington segue de "muito perto e com muita atenção" o que lá se passa.

Mas porquê todo este súbito interesse dos EUA pela situação da Birmânia, quando os militares já governam o país desde 1962? E porque é que se levantam todas estas vozes e ninguém parece importar-se com a situação do Tibete, onde os manifestantes pela democracia são igualmente esmagados pelo regime de Pequim?

Talvez porque custa pouco ser solidário com a Birmânia, um dos países mais pobres do Sudeste asiático, enquanto a China é hoje uma das maiores potências económicas e ninguém tem interesse em ver as portas do seu mercado fecharem-se.

O dinheiro sempre falou mais alto que os direitos do homem.