Jorge Sampaio, quando PR, numa visita ao concelho de Sátão, no distrito de Viseu, em discurso oficial, apelou para a necessidade de combater a «campanha anti-política» e para se prestigiarem os políticos. Fê-lo no local errado e perante a audiência menos adequada.
Apraz-me ter escrito esta ideia, na ocasião, numa carta aos jornais, em que sugeria que tal apelo fosse feito perante uma reunião alargada de deputados, governantes e autarcas, pois são eles que, com o desempenho das suas funções, os seus comportamentos, atitudes e acções, se tornam ou não merecedores de prestígio, respeito e consideração. As pessoas do Sátão, como as de qualquer ponto do País, nada podem fazer a favor desse prestígio a não ser continuar de olhos fechados, indiferentes às «palhaçadas» dos políticos.
Um outro facto merece ponderação pela forma como o «prestígio» tem sido encarado. No momento da tomada de posse do Dr. João Bosco Mota Amaral na Presidência da Assembleia da República, o seu antecessor discursou no sentido de se prestigiarem mais os deputados aumentando-lhes o vencimento e as regalias. A seguir, o empossado, mais sensato, defendeu o mesmo objectivo do aumento do prestígio dos parlamentares, mas este devia ser obtido pelo seu desempenho na feitura de leis adequadas às necessidades do País, na defesa dos interesses da população, legal detentora da soberania, e no controlo dos actos do Governo para que tudo funcionasse sem atropelos de valores e princípios democráticos, decorrentes da vontade do povo soberano.
Mas as palavras de Mota Amaral tiveram o mesmo efeito que o «sermão de santo António aos peixes» de Padre António Vieira. Na realidade, todos procuram obter o máximo benefício pessoal, sem cuidarem da defesa de quem neles votou para serem seus representantes. Aliás, o sistema vigente, sem eleições directas não cria laços entre eleitores e eleitos, desresponsabiliza os eleitos que arrogantemente se julgam no direito de decidirem o que lhes vem à cabeça.
Estas reflexões foram sugeridas pela notícia de que ontem a comissão parlamentar de Finanças foi anulada por falta de quorum. Apesar das badaladas novas regras que pressupunham os deputados mais responsabilizados e o Governo mais fiscalizado, não deixou de haver esta palhaçada, que já teve um antecedente espectacular na quarta-feira santa de poucos anos atrás, em que o plenário se viu impossibilitado de votar os diplomas agendados, por falta de quorum.
Bem dizia Jorge Sampaio, embora em local errado e para ouvintes inocentes destas balbúrdias, que é preciso prestigiar os políticos. Bem precisam, para «Bem da Nação»!!! Mas não vejo que consigam adquiri-lo! Não é com arrogância nem com vaidosas preocupações de retoques da imagem que atingem esse desiderato. Para melhorar, isto precisa mais do que cosmética.
E qualquer dia, com as centenas de novos assistentes pessoais dos «senhores» deputados, pagos pelos contribuintes, os deputados passarão a fazer-se representar nas bancadas do hemiciclo e nas comissões. Pelo andar da carruagem, não admira que tal venha a acontecer! Com tais famosos antecedentes, tudo é possível. Oxalá me engane.
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
O (des)prestígio dos políticos
Publicada por A. João Soares à(s) 19:14
Etiquetas: dignidade, eficiência, políticos, prestígio
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário