sexta-feira, 13 de março de 2009

Respeitar os jovens e apoiar os mais válidos

Notícia dos jornais de 18 de Dezembro de 2006 dizia que: Em 1982, a autarquia de Copenhaga cedeu uma casa antiga aos jovens da cidade para servir de sede de actividades culturais e sociais. Há três anos, o município vendeu a casa a uma comunidade religiosa e, agora, ao pretender desalojar os jovens, a polícia teve que enfrentar uma multidão de jovens da cidade e vindos de vários pontos do país e do estrangeiro, numa espécie de batalha campal em que cinco pessoas ficaram feridas com gravidade e foram detidos 300 activistas.

Daqui, podemos tirar vários ensinamentos, que deveriam ser objecto de séria reflexão por parte dos nossos governantes:

1. Quando se faz uma concessão inicia-se um processo que é difícil de parar ou de recuar. A decisão deve ser preparada por um método igual ou semelhante ao que consta no post Pensar antes de decidir. Para retirar uma concessão, principalmente se já é antiga, é necessária uma negociação conduzida com muita sensibilidade. No caso vertente, era de prever que os beneficiados pela cedência da casa, que utilizaram durante um quarto de século, não se retirariam sem compensações e, no mínimo, a cedência de novas instalações com o mesmo espaço e condições. Isto é humano, é lógico.

2. Os agentes da Polícia, que no nosso país são mal vistos e desconsiderados pelo Poder, são chamados para esvaziar os efeitos de erros graves dos detentores do Poder e expõem-se a riscos que não são conhecidos dos funcionários públicos, com quem, por vezes, são comparados.

3. A incapacidade dos políticos para agirem honestamente com a população está muito generalizada, de nada valendo rodearem-se de inúmeros assessores, porque estes, sendo nomeados com base na confiança política e não na competência, e sendo inexperientes e ambiciosos, procuram agradar ao chefe evitando emitir opiniões que, embora correctas, possam contrariar as intenções dele. Dizem ao chefe aquilo que ele gosta de ouvir, para singrarem na carreira.

4. Os jovens de hoje serão os líderes de amanhã e, com a consciência desse facto inelutável e do estado a que a geração anterior deixou chegar o mundo – poluição, alteração do clima, injustiça social, pobreza, exclusão, exploração, abuso do poder, corrupção, etc. – estão a exercitar a sua musculatura de liderança, para assumirem as responsabilidades que recairão sobre os seus ombros como governantes de amanhã. Jovens assim, que se opõem aos caprichos e arbitrariedades dos poderosos, são uma esperança de um mundo melhor em que os nossos netos viverão mais felizes do que nós.

O mundo de amanhã será construído pelos jovens de hoje, porque os pais já demonstraram ter carência de competências e valores que levaram a sociedade à pior crise das últimas décadas. Será lamentável que não lhes seja dada a estrutura ética adequada para levarem a cabo com êxito a mudança que se impõe.

NOTA: este texto teve por base um post de 19 de Dezembro de 2006, publicado no Do Mirante

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro João,
A propósito desta notícia veio-me à ideia o que o Bispo Felício, da Guarda, hoje, na TVI, disse a propósito da situação que lá se vive. Dizia ele que se deveria, com prejuízo de obras emblemáticas e com pouca razão de ser, criar melhores condições na "interioridade" que evitasse a fuga dos jovens para as cidades ou para o estrangeiro e permitisse que a "pobreza" pudesse igualmente sair dessa situação através de medidas concertadas que a isso levassem. Deu exemplos de Instituições que têm colaborado nessa política que tem minorado as dificuldades que se têm vindo a verificar com esta crise.
Mas a verdade é que os (des)governantes não se revêm nessa política porque ela não lhes traz votos, comissões e fama.
É como costume dizer é o "Faz de Conta" que prevalece! Tristeza a minha.....ter razão e não conseguir faze-la vencer!!!!!

A. João Soares disse...

Caro Luís,
Se olharmos para a história, o que não é o meu forte, verificamos que Portugal foi povoado pelos europeus menos corajosos que perante as sucessivas invasões dos ditos bárbaros, fugiram e só pararam quando o mar não lhes permitiu continuar a sua debandada. Depois, no rectângulo, surgiu um movimento de população no mesmo sentido mas já com outra motivação, em que os mais válidos deixaram o interior, com menos oportunidade de desenvolvimento, para fazerem a sua vida no litoral, ou mesmo, como as capacidades de transporte já o permitirem, irem em demanda de outras terras com mais possibilidades de sucesso. Eça de Queiroz realça esta superioridade dos nossos emigrantes.
Infelizmente os governantes das últimas décadas, em vez de contrariarem esta crescente assimetria da ocupação do território, começaram a fazer contas demasiado monetárias e secaram o interior, fechando escolas, apoios de saúde, tribunais, e outras repartições de serviços públicos.
Uma loucura de políticos que vivem nas nuvens, esquecendo o terreno e as pessoas de que deviam tratar.
Já há quem defenda que o esforço das campanhas eleitorais para angariar votos se devia restringir ao litoral porque a quantidade de votos que vem do interior não é significativa para os resultados finais, não compensa o esforço das deslocações para a campanha!!!
Pobre País que com tais mentalidades, não irá muito longe.
Um abraço e bom fim-de-semana
João Soares