Há poucos dias Mário Soares na sua sabedoria de político prático, experiente, disse que todos estes casos que parecem ser focados contra Sócrates vão acabar em nada. Parecia ser uma afirmação gratuita, mas agora, juntando os indícios técnicos, temos que lhe dar razão!
Diz o cronista Pedro Ivo Carvalho que quase todos os edifícios têm telhados de vidro. E não convém atirar pedras ao telhado do vizinho. Eles entendem-se todos muito bem , como ficou bem provado na aprovação da célebre lei do financiamento dos partidos.
O abuso do dinheiro público é corrente em todos os sectores, como diz uma notícia que me chegou por e-mail e que diz ter sido publicada no 24 Horas de 16 de Janeiro, segundo a qual o líder parlamentar do PSD, Aguiar Branco, contratou uma espécie de assessor por dois meses e pagou-lhe 12 mil euros, usando dinheiros públicos, não do partido. E para fazer o quê? Ninguém sabe, ninguém explica. Miguel T... não foi visto uma única vez no Parlamento, a maior parte dos deputados laranja nem sabem quem ele é, e a Assembleia não sabe explicar porque é que este advogado recebeu 12 mil euros por dois meses de "trabalho".
Ao 24horas, Miguel T.... disse apenas que deu "umas consultas" a Aguiar Branco, de quem é amigo. Repare: deu umas consultas a Aguiar Branco, não ao PSD, não ao Parlamento. Só que estes 12 mil euros não foram pagos por Aguiar Branco, mas sim pela Assembleia da República. O mínimo que o líder parlamentar do PSD poderia fazer era explicar que pareceres são estes, o que é que a Assembleia da República beneficiou com estes pareceres e porque é que os dois meses de trabalho de Miguel ... custaram 12 mil euros, uma fortuna.
Também, com dada de há pouco mais de dois anos, veio nos jornais e encontra-se IN VERBIS a notícia Advogado contratado por duas vezes, segundo a qual o ministério da Educação contratou duas vezes o mesmo advogado para fazer o mesmo trabalho. O primeiro contrato, o advogado João Pedroso comprometia-se a fazer um levantamento das leis sobre a Educação e ainda a elaborar um manual de direito da Educação. O trabalho deveria estar concluído até Maio de 2006, mas tal não aconteceu. Apesar de não ter sido concluído nos prazos previstos, o advogado recebeu a remuneração. Ainda assim, o ministério fez depois com João Pedroso um novo contrato com os mesmos objectivos, mas a pagar uma remuneração muito mais elevada. Em vez dos iniciais 1500 euros por mês, João Pedroso passou a receber 20 mil euros/mês.
Também o PSD candidatou às legislativas dois ex-vereadores que estavam a contas com os tribunais por irregularidades com dinheiro público, tendo depois o julgamento de um deles sido adiado sine dia. Igual benesse do tribunal bafejou o deputado António Preto.
Com tais telhados de vidro, e com a complacência da lei e da Justiça, é realmente de esperar que por mais diligentes que sejam os jornalistas, nada será alterado e tudo ficará cada vez mais na mesma, isto é, o pântano ficará cada vez mais pestilento e nauseabundo. E o que preocupa é que o povo poderá acordar e dar «um coice no telhado», seja ou não de vidro, como «a mula da cooperativa», no cantar do madeirense Max.
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
Telhados de vidro, desgraça de Portugal
Publicada por A. João Soares à(s) 11:01
Etiquetas: dinheiro público, políticos
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1 comentário:
Caro João,
Já há muito tempo se vinha a ver isso mesmo. Quando aparece um caso com alguém de um partido aparece logo outro de partido contrário para que tudo fique em "águas de bacalhau". Portanto o problema é que é tudo mais do mesmo! Se queremos acabar com estes esquemas temos que mandar esta gentinha "às malvas" de uma vez por todas!!!
Um abraço amigo.
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