Vão longe os tempos de Egas Moniz e hoje ninguém se sente ofendido por lhe chamarem mentiroso, e ninguém sente rebuço em lançar essa ignomínia à cara de pessoas que deviam estar acima de qualquer suspeita do género.
Sobre este tema, transcrevo a primeira parte do artigo de opinião:
A mentira
Jornal de Notícias, 15-02-10. Por Rafael Barbosa
Sócrates não será demitido pelo presidente da República, que tem uma eleição pela frente; nem pelo Parlamento, porque o PSD não tem líder; nem pelo Povo, que acabou de o reeleger e tem melhores coisas que fazer. Se não me engano, é mais ou menos desta amálgama que se faz um pântano.
Um país que tem um primeiro-ministro a quem chamam mentiroso, primeiro no Parlamento, depois em manchetes nos jornais, não é um país politicamente saudável.
Porque num país politicamente saudável, aconteceria uma de três coisas:
1. o primeiro-ministro não era mentiroso e os deputados e jornalistas que o injuriaram seriam ridicularizados;
2. o primeiro-ministro era apanhado a mentir e demitia-se;
3. o primeiro-ministro era demitido por ser mentiroso.
Como Portugal não é um país politicamente saudável, nada disto acontece.
I. Não sendo mentiroso, José Sócrates não considera importante manter o seu carácter intacto, ou já não tem força anímica para o tentar.
II. Sendo mentiroso, demonstrou outras vezes ter couraça e teimosia suficientes para se manter no cargo, pelo que jamais se demitirá.
III. E, finalmente, não será demitido,
- nem pelo presidente da República, que teme os efeitos dessa decisão quando tem uma eleição pela frente;
- nem pela Assembleia da República, porque o PSD anda à procura de líder;
- nem pelo Povo, porque fomos chamados a votar três vezes no espaço de poucos meses, uma delas para o reeleger, e temos melhores coisas que fazer.
Se não me engano, é mais ou menos desta amálgama que se faz um pântano.
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