Sócrates quer evitar cometer erros graves que possam afectar a sua continuidade no Governo e se possível não afectar os interesses nacionais e, como não há muita coisa a inventar, segue os exemplos do estrangeiro. Não é novidade nem criticável. Para quê estar a inventar o que já está comprovado pela experiência. Mas, para esse procedimento produzir bons efeitos, deve haver um são critério nos exemplos escolhidos para seguir. Lá fora há bons e maus exemplos e há os que se adaptam melhor às tradições e idiossincrasia do nosso povo.
Tem sido bem visível o exemplo de Hugo Chávez no governo musculado e arrogante e no controlo da comunicação social, agora o artigo que se transcreve mostra a simpatia pelo exemplo de Muammar Kadafi, curiosamente, ambos militares. Vejamos o que Zita Seabra escreveu
Almoço de género ou género de almoço?
Jornal de Notícias 7 de Fevereiro de 2020. Por Zita Seabra
Em festa (parece), o primeiro-ministro decidiu comemorar os 100 dias do seu Governo com um gesto inédito de que certamente se lembrou um dos génios da propaganda governamental. Decidiu oferecer um almoço às ministras do seu Governo. Logo aí começa o incómodo: às senhoras ministras. Não, como são socialistas, às mulheres ministras. As meninas secretárias de Estado também foram convidadas. Como fica bem nestas coisas, convidaram - e, como se faz em casa, juntaram mais uma - senhoras para perfazer 12. Doze à mesa como os apóstolos. Um almoço oficial em que critério é serem mulheres ministras ou mulheres secretárias de Estado.
Oficialmente, andam os governos PS há anos a combater divisões por sexo e a substituí-las pelo conceito moderno e progressista de género. Mudam nomes de comissões que foram da condição feminina e passaram a ser de igualdade de género, mudam diplomas, editam revistas, fazem leis, criam ONG para garantir a igualdade de género, para afinal o primeiro-ministro almoçar com mulheres.
O ano passado esteve cá o presidente da Líbia e eu recebi (era deputada) um convite para um cocktail numa tenda em Belém. Muammar Khadafi convidava mulheres, só mulheres portuguesas, 500 para a luxuosa tenda. Eu achei o convite de mau gosto e que certamente só ocorreria a um rei ou a um presidente vindo do deserto da Líbia, e recusei ir.
Agora, subitamente, o primeiro-ministro decide comemorar os 100 dias de Governo dividindo governantes em função do sexo. Discriminação positiva dirão alguns, logo aceitável, progressista, dentro dos mais modernos padrões de modernidade, uma vez que as mulheres ministras almoçaram e os homens ministros não. Almoço de género (dirão outros) que não discrimina, porque nos 200 dias certamente haverá almoço para o género homens e nos 300 e 400 para os restantes géneros aceites oficialmente.
Esta ideologia "progressista", "moderna", que oscila entre banir as mulheres em nome da igualdade de género e remetê-las para o fim das listas eleitorais para fazer a quota, conduz direitinho a estes almoços de senhoras/meninas ministras e secretárias de Estado - e, como não chegam para compor a mesa, convidam-se outras para fazer número e ficarem honradas com o convite.
Para evitar essa situação, sugiro uma alteração de critérios do convite de almoço nos 200 dias do Governo: o primeiro-ministro pode almoçar com os melhores ministros do seu Governo e teria certamente alguma mulher no almoço. E se, depois almoçar com os piores ministros, também terá de certeza algumas. Outra hipótese será dividir os ministros pela raça ou pela cor da pele, o que é pior ainda, até porque não tem nenhum ministro preto, negro, amarelo ou cigano. Pode então dividi-los por altos e baixos, o que será certamente um critério mais igualitário, apenas com o problema de ter que decidir como contabilizar os tacões das senhoras ministras. É melhor não seguir por aí, tanto mais que medir os convidados não é bonito.
Pode-se então seguir a tradicional divisão tão típica das nossas portuguesas aldeias: em vez da discriminação mulheres/homens, organizar a divisão do almoço por casados primeiro e solteiros depois. Um clássico: casados contra solteiros. No entanto, o que parece ser a tradicional solução também levanta problemas, porque apareceriam as questões das união de facto, dos registados, dos e das juntos. Não era afinal fácil.
E se fossem divididos por ministros oriundos do Norte do país e ministros do Sul? Evitava-se, assim, completamente a questão da divisão por sexo, ou por raça, ou por género. Tudo se resolveria convidando os do Mondego para cima para um almoço, e os do Mondego para baixo, para outro. Esta parece-me a melhor e mais equilibrada solução. Claro que os do Sul serão sempre vistos como sulistas e elitistas, paciência… Como escreve o João César das Neves, não há mesmo almoços grátis.
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