Transcrição:
Sem condições
Correio da Manhã. 16 Fevereiro 2010. Constança Cunha e Sá, Jornalista
Este PS não é o PS da Fonte Luminosa mas um PS anémico e obediente que se deixou anestesiar pelo poder.
Um pouco por toda a direita chovem elogios ao PS. De um dia para o outro, um partido que tem dado as mais variadas provas da sua irrelevância política parece ter-se transformado no último garante da liberdade em Portugal. Não há quem não invoque o seu passado glorioso e o seu papel histórico na consolidação da democracia, na esperança de que, algures entre os escombros do largo do Rato, se encontrem ainda alguns socialistas, com memória, capazes de correr com o engº Sócrates e com o seu intolerável grupinho.
Infelizmente, tudo indica que este agradável cenário – que teria a superior vantagem de remover o actual primeiro-ministro sem que a Oposição fosse a votos – é, para dizer o mínimo, difícil de concretizar. É verdade que perante o descalabro em curso o PS murmura umas queixas, faz umas críticas baixinho e discute, já em público, a sucessão do chefe. O clima no interior do partido não se recomenda, como é óbvio. Mas, por muito que isso custe a alguns patriotas, os partidos não vivem do passado mas do presente. E este PS, que por aí ciranda desorientado, não é o PS da Fonte Luminosa mas um PS anémico e obediente que, durante cinco anos, se deixou anestesiar pelo poder. Em última análise, é uma consequência da liderança do engº Sócrates do qual não se pode agora dissociar.
A tese, defendida pela Oposição, de que cabe ao PS, a bem dos superiores interesses do país, desembaraçar-se do seu próprio líder, revela, apenas, a impotência dessa mesma Oposição.
Dando de barato que o engº Sócrates não tem condições para se manter como primeiro-ministro, seria de esperar que Oposição agisse em conformidade e avançasse com uma moção de censura. Em vez disso, a Oposição confessa que a alternativa ao actual primeiro-ministro não passa por ela mas sim pelo PS, que, de acordo com a sua tese, tem a obrigação de desencantar um substituto de última hora já que os outros partidos não têm qualquer alternativa a apresentar. E assim chegamos ao fundo de um poço que parece não ter fundo:
- o primeiro-ministro não tem condições para governar;
- a Oposição não tem condições para ir a eleições;
- o Presidente da República não tem condições para demitir o primeiro-ministro.
E o país assiste, estupefacto, à crescente degradação do regime sem que ninguém tenha condições para travar a hecatombe que por aí se avizinha. Talvez seja a altura de se perceber finalmente que não podemos continuar a viver sem condições.
Constança Cunha e Sá, Jornalista
NOTA: Esta tese da falta de perspectiva de solução vem ao encontro da referida no post A mentira e o pântano
A Decisão do TEDH (394)
Há 1 hora
2 comentários:
Caríssimo João,
Agora fui eu que fui repassar este artigo na Tulha pela sua verdade e também pela sua oportunidade.
A Contança é uma jornalista-comentadora que opina com muita acuidade.
Pena é que os diversos responsáveis não saibam interpretar os seus avisos e alertas.
Um abraço amigo.
Caro Luís,
Pois é. E qual será a solução que vai permitir a sobrevivência de Portugal como país viável?
Um abraço
João
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