E a voz do povo é, muitas vezes, expressa pela pena de cronistas, bem intencionados que procuram alertar para o perigo de uma rota errada levar o navio a encalhar no rochedo e chegam ao ponto de sugerir pistas para solucionar falhas por omissão ou distracção.
Há lendas e factos antigos que hoje se tornam realidade. Transcreve-se aqui uma lição extraída do naufrágio do Titanic, e uma lenda celta, do mesmo cronista e um alerta de outro autor que merece também ser tido em atenção É pena que os governantes, obcecados como estão com a sua ambição pessoal, a concentração no seu umbigo e a teimosia orgulhosa de não quererem emendar erros e corrigir o rumo, não queiram compreender as realidades e aceitar sinais de bom senso e de ajuda.
Pessoas como o comentador anónimo que assinou António Lopes, parecendo um clone do que assinou Leandro e Bernardo, devem analisar o significado destas e de oputras crónicas, tirar as suas conclusões quanto ao presente e aconselhar as pessoas com quem contactem. Mas parece estarem mais interessados em incensar o chefe, mesmo que, com isso, o arrastem mais rapidamente para o afundamento.
Notícias do naufrágio
Jornal de Notícias. 2010-02-08. Manuel António Pina
Diz-se que, enquanto o Titanic se afundava, no salão de festas a orquestra continuou a tocar. A ter sido assim, deve ter havido um momento em que, ou porque a água chegou aos instrumentos ou porque chegou o pânico aos instrumentistas, a orquestra desafinou.
Ouve-se o primeiro-ministro dizer que o défice foi, afinal, uma opção do Governo, espécie de derrapagem controlada para tentar sair em velocidade da curva e, ao mesmo tempo, o ministro das Finanças confessar que se enganou quanto ao tamanho do "iceberg", e a desafinação dos solistas da crise orçamental não parece bom prenúncio. Acrescente-se a visão do governador do Banco de Portugal metido num bote a caminho de uma organização internacional e ceceando a monótona mantra do "Aumentem-se os impostos, baixem-se os salários" enquanto se multiplicam os rombos na credibilidade das instituições, e justificar-se-ia que crescesse a inquietação. Mas o Sporting perde, o Benfica empata, o seleccionador nacional esmurra não sei quem e Mimi Travessuras vem cantar a Lisboa. E, como que por milagre, dissipam-se, a julgar pelos jornais, todos os perigos.
Uma lenda celta
Jornal de Notícias. 100218. Manuel António Pina
Uma lenda celta, compilada por Bioy Casares em "Contos breves e extraordinários", conta a história de dois reis inimigos que jogam xadrez enquanto os seus exércitos combatem, demorando-se, como Borges diz, "hasta el alba en su severo/ ámbito en que se odian dos colores".
"Chegam mensageiros com notícias da batalha; os reis não os ouvem e, inclinados sobre o tabuleiro de prata, movem as peças de ouro... Ao entardecer, um dos reis derruba o tabuleiro porque apanhou xeque-mate e, pouco depois, um cavaleiro ensanguentado vem anunciar-lhe: 'O teu exército está em fuga, perdeste o reino'". Manuel Alegre não será propriamente um rei, nem sequer ainda um presidente, mas o silêncio em que parece mergulhado enquanto, à sua volta, o país arde em torno do tema da liberdade, recorda a longínqua lenda. É natural que esteja preocupado com os "tenue(s) rey(s), sesgo(s) alfil(es), encarnizada(s) / reina(s), torre(s) directa(s) e peon(es) ladino(s)" que se alinham no tabuleiro da sua candidatura. Mas jogar o seu jogo alheando-se do país talvez seja prudência (ou, se calhar, imprudência) comprometedora de mais.
Depois de Sócrates
Correio da Manhã. 18 Fevereiro 2010. Por Carlos de Abreu Amorim, jurista
Face ao imparável declive ético e político de Sócrates, o PS atém-se a uma atitude de resguardo aperreado do poder pelo poder – o que condicionará o futuro do partido por muitos anos. Se o PS mudasse higienicamente de líder ficaria em condições de enfrentar os desafios da governação de cabeça limpa e discurso tranquilo.
Ao contrário, parece ter optado por se barricar no bunker que a falta de vergonha do seu Chefe tramou para si e para os que não têm pudor em serem comparados com ele. Um Governo assim não governa coisa nenhuma, apenas gere de forma desconexa a sua morte adiada. O PS pagará bem caro este apoio deplorável. Em vez de ser o partido da liberdade e da democracia passará a representar o pior do regime – a malta de Sócrates, de Vara e do Soares da PT.
O almirante e o medo
Há 1 hora
4 comentários:
Caro João,
O abuso dos gastos dos dinheiros públicos tem sido norma nesta 3ª República! Desde o 25 de Abril não tem havido contenção alguma,essa tem sido a pecha de todos os governantes até agora! Assim, desde o delapidar do ouro que existia nos cofres, às obras faraónicas levadas a efeito, à criação de lugares para os amigos, boys, etc., com salários e reformas "pornográficas" tudo se tem feito para se destruir as finanças de Portugal! Será na mira de abicharem uns trocos que ainda aparecem uns "Antónios Lopes, Leandros e Bernardos"?
Pergunta-se, até quando continuam estes REGABOFES???
Um abraço amigo.
Amigo Luís
Os nossos governantes vivem iludidos nos seus sonhos, ignorando as realidades do País, que somos todos nós, desde os sem-abrigo, os que não têm dinheiro para tratar da saúde, os desempregados, etc. Não faltam os alertas, mas eles só ouvem a orquestra que só parará de tocar quando o naufrágio alagar os instrumentos, como no Titanic. Quando abrirem os olhos para a realidade será tarde demais.
É preciso fazer um acto de contrição, aceitar que se errou, confessar os erros e mostrar firme disposição para emendar os procedimentos incorrectos e não voltar a errar.
Afastar todos os servidores que dizem a tudo que sim que elogiam de forma interessada para manterem o lugar mas que afundam o chefe e, consequentemente, o País.
Para obter bons conselhos é preciso abrir os olhos e os ouvidos. Eles não faltam. É preciso contactar os menos ambiciosos, os mais prudentes, que exteriores quer do interior dos órgãos do partido, que não sejam corruptos, nem pedófilos, nem tenham enriquecido de forma ilegítima, nem sejam demasiado ambiciosos.
Os jornalistas e outros cidadãos que tenham emitido críticas à forma de agir do Governo devem ser convidados para uma conversa em local em que se sintam à vontade. Certamente aprenderá com eles a conhecer melhor as realidades e os efeitos dos erros a que é levado pelos seus assessores subservientes que, tipo «yesmen», nada querem dizer que desagrade ao chefe para não comprometer os prémio futuros..
Deve acabar a nomeação dos incompetentes filhos de amigos e passar a escolher-se o que há de melhor no País, através de concurso público honesto e contratar com eles uma lista de tarefas que sirva de base à avaliação do seu desempenho, independentemente do partido a que possam pertencer. Se cumprem bem não interessa a tendência, se não cumprem mande-os embora por justa causa.
Um governante, na sua posição, tem que ser um líder e não uma ovelha nas mãos de má gente que o arrasta para o seu fim trágico.
Também a função pública deve ser dignificada para o que é preciso modernizar os sistemas, tornando-os mais lógicos, mais ajustados às realidades, às suas finalidades. Daí sairiam tarefas concretas que teriam várias finalidades: tornar os serviços mais rápidos e rigorosos, acabando com a burocracia que só serve para empatar e para dar lugar à corrupção. A execução dessas tarefas serviria para a avaliação do desempenho dos funcionários e os prémios de produtividade ou os castigos.
A simplificação e boa definição conduziria à redução de pessoas que passam a vida a conversar entre si sobre assuntos alheios ao serviço.
Tal reforma dos sistemas deveria ser ajustada regularmente (de quatro em quatro anos, por exemplo) conforme a evolução do trabalho solicitado.
Mas nada se faz e o contribuinte paga para serviços demasiado pesados e morosos que só o (ao contribuinte) prejudicam. O zé pagante é, assim, prejudicado por dois lados: o pagamento a muita gente sem eficiência, e o mau serviço que recebe.
Um abraço
João
Caríssimo João,
Para se ser Humilde é necessário ser-se Grande, coisa que "ele" não é! Acabei de vê-lo na TV onde em menos de dois minutos falou sem dizer nada... Tentou só dizer-se "vitima", coitadinho... Assim não vai longe!!! É que não sabe ou não quere aprender com os próprios erros!!!
Um abraço amigo.
Amigo Luís,
Um dos grandes males dos nossos políticos é acharem que é virtude falar muito, sem conteúdo. Esquecem que antes de falar devem avaliar se o valor daquilo que vão dizer é superior ao valor do silêncio.
Quem muito fala muito erra, e depois pegam por esses errros e ficam desacreditados. Como aconteceu na explicação do PM acerca do défice, em que contrariou afirmações do ministro das Finanças, o técnico do assunto, e deu uma argumentação totalmente descabelada, sem pés nem cabeça. é dos tais casos que perde por não estar calado.
Um abraço
João
Enviar um comentário