Depois do post que nos diz que Mark Boyle, irlandês de 29 anos, vive há um ano sem dinheiro para provar ser possível uma sociedade mais generosa e menos consumista, surge agora a notícia do caso do milionário que se desfaz da fortuna que o faz infeliz. O dinheiro. embora possa dar comodidade, não garante a felicidade.
Segue a transcrição desta notícia:
Milionário desfaz-se da fortuna que o faz infeliz
Jornal de Notícias 9 de Fevereiro de 2010. Augusto Correia
Um milionário austríaco assegura que o dinheiro não traz felicidade e está a desfazer-se da fortuna. Fez rifas, a 99 euros, de uma casa nos Alpes e pretende mudar-se para uma cabana de madeira.
A ideia de que o dinheiro não dá felicidade há muito que se enraizou nas sociedades mundiais, especialmente entre aqueles que vêem no chavão um conforto espiritual face às maleitas na carteira. Mas para o quase ex-milionário austríaco Karl Rabeder, os milhões são um entrave a uma vida feliz .
Um aspecto do "Jardim das Rosas" na casa que está a ser rifada
Aos 47 anos, Karl Rabeder, um rico homem de negócios austríaco, decidiu livrar-se do peso da fortuna pessoal, avaliada em quase quatro milhões de euros, para dar livre curso a uma vida mais térrea e desprendida. "A minha ideia é ficar sem nada, absolutamente nada", disse.
Uma casa na Provença francesa está à venda por cerca de 700 mil euros. Já despachou o presidencial Audi A8, avaliado em cerca de 50 mil euros, e muitos outros ricos bens pessoais. Um luxuoso ?chalet? nos Alpes austríacos, com 321 metros de área habitável numa propriedade de 2711 metros quadrados pode ser adquirido por 99 euros - o valor de cada uma das 20 mil rifas que Rabeder criou para se desfazer da moradia alpina.
"O dinheiro é contraproducente, impede a felicidade de fluir", disse Karl Rabeder, em declarações ao tablóide britânico "The Daily Telegraph". Desapossado de todos os luxos que conquistou ao longo de uma vida de trabalho, basta-lhe o amor, da mulher, e uma cabana de madeira nos Alpes para seguir com a vida.
"Venho de uma família em que as regras eram trabalhar duro para arrecadar o mais possível", contou. Um modo de vida que seguiu durante muitos anos, mas que, gradualmente, o foi consumindo por dentro. "Durante muitos anos não fui suficientemente corajoso para fugir das armadilhas de uma existência confortável", acrescentou Rabeder, Karl de primeiro nome, como o do pai do comunismo, Marx de apelido.
O momento de charneira na vida de Rabeder aconteceu, paradoxalmente, numa luxuosa viagem às paradisíacas ilhas do Hawai, na companhia da mulher. "Nessas três semanas, gastámos todo o dinheiro que quisemos. Mas, em todo o tempo tivemos a sensação de que não conhecemos uma única pessoa real – eram todos actores", disse. "Os empregados faziam o papel de serem simpáticos e os outros hóspedes o papel de serem importantes, mas ninguém era real", acrescentou.
"Foi o maior choque da minha vida, quando me apercebi quão horrível, sem alma e vazia era o estilo de vida cinco estrelas", disse Rabeder. Foi o início de uma epifania a dois tempos, a duas realidades. Depois do choque no paraíso, a ligação à terra, em viagens a África e América do Sul. "Senti que há uma relação entre a nossa riqueza e a pobreza deles", acrescentou.
Determinado a fazer o pouco que uma só pessoa pode fazer no meio de 6,9 milhões de humanos, Karl Rabeder vai destinar o resultado das vendas a obras de caridade na América do Centro e do Sul. O dinheiro vai apoiar soluções de microcrédito em países como El Salvador, Honduras, Bolívia, Peru, Argentina e Chile.
A Decisão do TEDH (396)
Há 53 minutos
6 comentários:
Dinheiro não dá felicidade, nós sabemos, mas lá que ajuda...
Por falar no assunto, há dias tive que ficar internado num Hospital e apesar de ele ter convenção com o meu subsistema de saúde, a ADSE, para lá ficar tive que pagar 2.000 euros de caução, de imediato, e eles farão o acerto de contas daqui a 3 ou 4 semanas. Talvez estes idealistas não tenham que enfrentar problemas destes...
Cumps
Caro João,
Já este tema foi ventilado no Blogue Sempre Jovens, mas nunca é demais levantá-lo pois actualmente o novo.riquismo impera e são os "grandes senhores" que dão o bom exemplo, pois o SER é bem mais importante que o TER!!!
http://cvssemprejovens.blogspot.com/2009/05/felicidade-e-um-trajecto-nao-e-um.html
Um abraço amigo.
Caro Guardião,
A vida está cada vez mais difícil e não é fácil viver sem uma boa quantia de dinheiro. Mas o que ressalta destes dois casos é que não é psiquicamente saudável viver obcecado por acumular riqueza, vivendo uma vida fictícia de ostentação, com representação de papéis irreais, como este Karl Rabeder conta das suas últimas férias de milionário.
O caso de Mark Boyle é diferente, mas conduz à mesma tese, defendendo uma economia de troca em vez de ser fiduciária.
Um abraço
João
Caro Luís,
Realmente este tema é muito batido, mas não encontramos muitos exemplos práticos como este do milionário Karl Rabeder e do jovem Mark Boyle.
Há também a óptica de elogiar a simplicidade em oposição à complicação. Reduzir as coisas à sua expressão mais simples é uma virtude para uma vida melhor.
Mas, com a mania das modernices, andamos a dizer «inicializar» em vez de iniciar, ou «contratualizar» em de contratar. Como se isso fosse sinal de maus'«+is cultura e inteligência!!! Pobres diabos!
Um abraço
João
Caro João Soares,
Não sou nada franciscano.
Ainda assim, e vivendo numa cultura mais e mais materialista, faz-me impressão assistir as alguns episódios que nunca conseguirei perceber.
Vou-lhe deixar o relato de um.
A mulher mais rica da Ásia, Nina Wang, morreu sem deixar herdeiros.
Ela e o marido, desaparecido misteriosamente e declarado morto nos anos 90, passaram a vida a pensar em dinheiro.
Comiam no Macdonald's, levavam sobras de comida para casa, tinham uma relação doentia com o dinheiro.
Morreu sozinha.
Depois da sua morte, apareceu o seu mestre de Feng Shuei com um testamento, reclamando-se único herdeiro da senhora e revelando que tinha sido amante dela durante anos.
A pouca família da senhora, a quem ela nunca ligou nada e que nunca lhe ligou nada a ela, contestou a validade do testamento em Tribunal.
O julgamento deu-lhes razão, o dinheiro (uns 4 biliões de dólares) vai agora ser entregue a um Fundo ligado às empresas dela e o amante foi preso e liberto sob caução.
Tudo na passada semana.
Foi Nina Wang uma mulher feliz?
Creio bem que não.
E não o será certamente se puder ver o que se está a passar após a sua morte.
Um abraço,
Amigo Pedro Coimbra,
Esta história é elucidativa dos perigos do «vício do dinheiro», que muitas vezes é acompanhado do consumismo e da ostentação descontrolada.
Muitas vezes o papel dessa milionária é desempenhado por mendigos que nunca deixaram a mendicidade e, quando morrem, deixam fortunas amontoadas em casa.
O bom senso é uma virtude rara, até porque não é fácil saber os seus limites correctos.
Parece que o vil metal se pode transformar num estupefaciente que embrutece os espíritos como reconheceram a tempo estes dois homens sábios referidos no post , o Mark Boyle e o Karl Rabeder.
Um abraço
João
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