Custa-me acreditar que isto seja mesmo assim. Será que, ao menos, o diploma terá expresso que as habilitações são uma farsa e nada têm a ver com as dos estudos normais? Como este texto da Drª Marta me chegou através de e-mails de pessoas que considero, publico-o, mas com dúvidas que espero ver esclarecidas pelos comentários que, certamente, surgirão.
Novas Oportunidades. A ignorância certificada
Marta Oliveira Santos
O país encontra‐se com uma taxa muito baixa de escolaridade em relação aos países da EU (União Europeia). Logo há necessidade de colmatar esta situação e, para isso foram criadas “As Novas Oportunidades”, uns cursinhos intensivos de três meses, no fim dos quais os “estudantes”(agora com o nome pomposo de formandos) obtêm o certificado de equivalência ao 9º ou 12º anos. Fantástico, se os cursinhos fossem a sério! ...
Perante a publicidade aos referidos cursos, aqueles que abandonaram a escola ou, por qualquer razão não concluíram um dos ciclos de escolaridade, esfregaram as mãos de contentes, uma vez que agora se lhes oferece a oportunidade de obterem um certificado de habilitações que lhes poderá vir a ser útil. E como diz o ditado ”mais vale tarde do que nunca”, eles lá se inscreveram. Por outro lado, três meses das 7.00 as 10.00 horas, horário pós‐laboral, uma vez por semana, era coisa fácil de realizar. Coitados daqueles que andam 3 anos (7º, 8º e 9º anos) para concluírem o 3º ciclo!!! Isso é que é difícil!
Na rua, no café, nos locais públicos em geral ouve‐se: “Ah! Agora, ando a estudar! Ando afazer o 9º ou 12º ano! Aquilo e porreiro, pá!”
Entretanto, há pessoas com quem contactamos no dia‐a‐dia, mais próximos de nós, o cabeleireiro, o sapateiro, a empregada doméstica, etc. que também nos confidenciam com ar feliz: “Agora, com esta idade, ando a estudar! Ando a fazer o 9º!” E nós, simpaticamente, sorrimos, abanamos a cabeça e dizemos que fazem bem, sempre é uma mais valia… contudo, numa dessas conversas, tentei descobrir que disciplinas constavam do curso, ficando a saber que eram Português, Matemática, Informática e Cidadania para o 9º ano; e indaguei ainda como eram as aulas e a avaliação final.
E fiquei atónita. Em Português o formando teria que escrever a história da sua vida e a razão por que se inscreveu no curso, sendo o texto corrigido aula a aula pela respectiva formadora; Matemática consistia em efectuar cálculos básicos e apresentar, por exemplo, a receita de um bolo e duplicá‐la; para Informática apercebi‐me que seria a apresentação do trabalho escrito e, posteriormente, quem quisesse apresentá‐lo‐ia em “powerpoint”; em Cidadania, os formandos apresentavam os diferentes resíduos e diziam em que contentor os deveriam colocar. A nível de Português ainda foi pedida a leitura de um livro e seu comentário, sendo a selecção ao critério do formando o que deu origem a autores “light”, nada de autores portugueses de renome; a acrescer a este comentário teriam também de fazer a apresentação crítica a um filme e a uma reportagem. Todos estes elementos seriam entregues num dossier, cuja capa ficaria ao critério de cada formando.
Três meses passaram num abrir e fechar de olhos, por isso um destes dias, enquanto aguardava a minha vez para ser atendida no consultório médico, fui brindada com o dossier do curso da recepcionista e respectivo certificado de 9º ano. Engoli em seco aquelas páginas recheadas de erros ortográficos e de construção frásica, desencadeamento de ideias e falta de coesão, (…), entremeados por bonitas fotografias; na II parte, umas contitas simples e duas tábuas de multiplicação; e em Cidadania, os contentores do lixo coloridos com a indicação dos resíduos que se põem lá dentro.
Em seguida, com um sorriso muito branco (nem o amarelo consegui!) e, como bem educada que sou, felicitei a dona do dossier cuja capa estava realmente bonita, original, revelando bastante criatividade e ouvi‐a alegre dizer: “A formadora disse‐me que tinha hipóteses de fazer o 12º ano. Logo que possa, vou fazer a minha inscrição!”
Fiquei estarrecida, sem palavras para lhe dizer o que quer que fosse. “As Novas Oportunidades” são isto? Está a gastar‐se tanto dinheiro para passar certificados de ignorância? Será que todos os formadores serão iguais a estes? E o 9º ano e escrever umas tretas e ler um Nicholas Sparks e um artigo da revista “Simplesmente Maria”? E o 12º ano será a mesma coisa (queria dizer chachada) acrescida de uma língua?
Continuando assim o país a tapar o sol com a peneira, teremos em poucos anos a ignorância certificada!
Marta Oliveira Santos – Licenciatura em Filologia Românica; colaboradora de várias publicações
Rapidinhas de História - Livros
Há 36 minutos
16 comentários:
Caro João,
"As Novas Oportunidades" é isto mesmo infelizmente. Pelo Alentejo tenho também acompanhado alguns formandos e é em tudo semelhante! Com isto tentamo-nos enganar e enganar os nossos parceiros europeus. Mas durante quanto tempo esta farsa durará? Não acredito que dure muito mais tempo!
Um abração.
Caro Luís,
Não tenhamos ilusões. Vai durar. O povo português gosta do «faz-de-conta», de mostrar, de ostentar sinais de riqueza em todos os aspectos, de consumismo, nem que seja de coisas da loja do chinês. Preferem passar fome do que deixar de comprar coisas.
As «novas oportunidades» não contribuem para desenvolver o País, apsnes contribuem para a ilusão das estatísticas e isso não desenvolve. É mais uma aldrabice Seria coisa séria se ensinasse a sério os programas do ensino.
Mas «enquanto houver um português sem diploma de licenciatura, as novas oportunidades não pararão!!!» Como Portugal será País rico e moderno quando em cada casa houver tantos diplomas encaixilhados na sala quantos os habitantes!!!
As estatísticas ilusórias têm sido o objectivo prioritário deste Governo.
Um abraço
João
Sinto-me desprestigiado, andei eu 12 anos na escola oficial publica, mais 1 na escola de praças e depois mais outro na escola de sargentos, onde nesta ultima, ostento com orgulho, o primeiro lugar desse ano lectivo, com média de 16.21, para agora se conseguir um diploma de certificação de 12º com uma facilidade imensa?
Está-se neste momento a dizer aos jovens, que frequentam o ensino básico, para deixarem de estudar que não compensa e que melhorem as artes da gatunagem porque quando tiverem 25 anos podem chegar ao nível de 12º ano com apenas 6 meses de cursos.
Sinto-me desprestigiado.
James 009
Está a ver bem o problema. É um erro que, em vez de se estimular o trabalho sério e metódico o sentido da responsabilidade e o gosto pela perfeição, se esteja a facilitar o ócio, a preguiça, a falsificação de valores essenciais.
Com tais métodos não se pode esperar que as próximas gerações sejam gente de bem, capazes de tornar Portugal num País ao nível médio, e muito menos ao nível dos melhores.
Não consigo compreender qual seja o objectivo dos governantes que criaram estas aldrabices.
Cumprimentos
João
Caro A. João Soares,
Infelizmente, trata-se de mais uma fraude, com um só objectivo, o de obter depressa estatísticas que nos envergonham perante a UE.
Digo fraude, porque para mim é isso mesmo de que se trata! Eu para obter uma licenciatura e uma pós-graduação sempre tive que estudar a sério, fazer exames e frequentar estabelecimentos de ensino (públicos) e dentro dos anos "normais", agora para além da obtenção fácil do 9º ou do 12º anos de escolaridade, até ao nível das licenciaturas se verifica esta fraude, com o aval do estado.
As "novas oportunidades" permitem coisas como estas; existem uns "super-mercados" do ensino superior onde com base na experiência profissional do candidato, e mais umas quantas disciplinas (bem pagas) que representam um ou dois semestres , lhes atribuem uma licenciatura de Bolonha! Assim mesmo, em seis meses ou no máximo um ano é possível passar a ser Dr.
Mas como eu aprendi,não é de estranhar, principalmente quando os exemplos (neste caso os maus) vêm de cima, com um tal de engenheiro formado ao Domingo, com exames enviados por correio e com um administrador da CGD, licenciado em relações internacionais pelo mesmo "supermercado" e ao que consta, nunca ninguém lá os viu.
Vergonhoso!
Cumprimentos,
António Gonçalves
Caro ALG,
É realmente uma fraude. Nunca deviam ter caído na asneira de chamar a isso o 9º ou o 12º anos. São coisas diferentes. Colar uma estrela num Smart não torna este igual ao Mercedes!
Os diplomas deviam ser muito diferentes de forma a não suscitar erros de avaliação pelos empregadores.
Um abraço
João
Concordo com o ALG, ao dizer que as Novas Oportunidades foram (são) feitas à medida do seu criador (um tal "engenheireiro" formado num Domingo e com testes enviados por fax)...
Na realidade, as Novas Oportunidades não passam de uma ilusão, e tenho imensas dúvidas de que traga algum benefício ao seu possuidor.
Quanto às universidades de vão de escada, elas pululam por aí, vendendo diplomas de cursos sem qualquer saída no mercado. Triste!...
Um abraço
Compadre Alentejano
Caro Compadre Alentejano,
É, sem dúvida uma fraude. A intenção não é ajudar os contemplados com o papel a encontrar emprego. É apenas para jogar com as estatísticas para ludibriar a UE e as instituições internacionais. Uma vigarice, um faz-de-conta, uma palhaçada. É isto que os ditos «governantes» conseguem fazer!!! Possivelmente, não sabem o que significa Governar, gerir os recursos públicos para bem de todos os portugueses com justiça social e equidade na distribuição dos benefícios.
E assim se desmotiva quem gostaria de produzir riqueza para bem do povo, dos portugueses, isto é, de Portugal.
Um abraço
João
Lidos os comentários a este artigo, só me resta dizer o seguinte:
1. Isto deve ser para acabar com a reputação de sermos do 3.º mundo. Esta já ouvi. Deixaremos de ser do 3.º mundo e continuaremos a ser aquilo que, na verdade já somos. Um país governado por indivíduos duma incompetência absoluta. Portanto, ficaremos SEMPRE na mesma.
2. Em minha opinião, esses cursos melhorados, portanto, com pés e cabeça, deveriam ser oferecidos APENAS a quem estudou até ao 9.º, ou 12.º, inclusivé e que, por um motivo ou por outro, não terminou o ano lectivo. Isto porque há muito cidadão que, talvez porque tomou consciência tardia de que estudar é importantíssimo, tem, no entanto, vergonha de voltar a matricular-se numa escola ou não pode fazê-lo por motivo de diferenças de horários disponíveis. Assim, eu seria a favor das 'Novas Oportunidades', desde que a matéria a dar, duma forma intensiva, não fosse de semelhante pobreza como aquela que referiram.
Sou daqueles a quem faz mais impressão a pobreza de espírito do que a pobreza de valores materiais e há indivíduos, que conheço bem de perto, que anteriormente (e agora) ainda nem sequer sabiam fazer uma conta de multiplicar ou dividir (tanto para dar um exemplo) e que hoje, feito o "seu" 9.º ano, parece que têm o rei na barriga.
Estudei até estar a 1 mês de ter o meu 5.º filho (neste caso filha) e ainda grávida do meu 6.º. Cursos adicionais para enriquecimento do meu curriculum e pelo gosto de saber. Daí para a frente parei porque estaria a prejudicar a família se continuasse. Valeu a pena porque me permitiu vencer muitos obstáculos que foram surgindo ao longo da minha vida. É que, no meu tempo (detesto esta frase ..., mas vem mesmo a calhar!) estudava-se mesmo e quando se dava um êrro, tínhamos que escrever em casa 20 vezes cada palavra. Hoje vê-se jovens de 18 e 20 anos, na internet, escreverem 'voçe', parexia, etc., etc., etc..
Maria Letra
Cara Mizita,
É desonesto chamar a estas habilitações 9º ou 12º anos. É benéfico aumentar os conhecimentos das pessoas e o gosto pelos livros, pelo estudo. Até morrer devemos aprender. Mas não sejam desonestos, não chamem nomes iguais a coisas radicalmente diferentes.
O resultado começa a ver-se, pois tal aldrabice não traz vantagens no mercado de trabalho como prova a notícia de hoje Novas Oportunidades ainda tem pouco impacto no mercado de trabalho.
Não seria de esperar resultados diferentes.
Abraços
João Soares
Caro João,
Com todos estes comentários poderás fazer um novo artigo no estilo do que fizeste quanto ao nosso futuro pois é uma matéria muito sensivel e actual. Há que acabar com os "Faz de Conta" e apanhar as rédeas do Saber para que possamos, de uma vez por todas, apanhar o comboio da Civilização!
Um abração.
Caro Luís,
Seria muito atrevimento lançar-me a tal tarefa, pois é um tema específico ue não domino e merece conhecimentos de pormenor.
Seria interessante que o ANÓNIMO que comentou no Do Mirante, aceitasse o meu desafio e aparecesse com sugestões fundamentadas. Mas não foi por acaso que se ocultou por detrás do anonimato e não dissesse nada de positivo.
São desafiadores que aparecem só para espicaçar como o LEANDRO/BERNARDO.
Um abraço
João
Os "cursos" dados pelo nome "novas oportunidades" são de facto uma fraude no que respeita à qualificação de adultos.
Pois eu lhes digo, que além disso,ainda falta ver, que os que conseguem esses curso tambem subsidiados, não são os escolhidinhos, que nem precisam de perder tempo nas reuniões de selecção.Abrei os olhos Portugas!
Provavelmente esta inovação destinou-se a alvos conhecidos para terem um diploma. Os boys das jotas não eram bons alunos e por isso se encostaram à política. O diploma do «engenheiro» foi obtido a modos que dessa forma!!!
Cumprimentos
João
Esta "coisa" só existe porque é financiada, assim que a torneira fechar veremos o fim de mais esta modernice. Também faltou dizer que as escolas têm sido pressionadas pelo ME para acabarem com o ensino recorrente (onde existiam aulas e alguma aprendizagem) empurrando as pessoas para a fraude das "novas oportunidades". Por incrivel que pareça esta mentira continua a vender-se como "formação".
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