A par do sentido de Estado, os políticos, bem como também os cidadãos normais, precisam de ter sentido de Justiça e este prima pela ausência até, por vezes, nos próprios tribunais, como se pode concluir em «O arguido incómodo» onde é citado o caso da incapacidade do tribunal em manter Isaltino presente para ouvir a acusação, caso que faz lembrar as faltas de respeito ao Juiz por Ferreira Torres e o que tem ocorrido com Valentim e Felgueiras.
Embora um amigo muito crítico não goste dos escritos de Mário Crespo e embora este tome posição partidária neste artigo o que é contrário à linha editorial de isenção pretendida neste blogue, transcrevo «Basta» para ficar aqui a feliz comparação de atitudes no estrangeiros e o que se tem passado por cá, na AR em caso semelhante. Cá, quem ofendeu não foi a Ar mas o indivíduo interrogado.
Basta
JN. 090713. por Mário Crespo
Simultaneamente com a Comissão Parlamentar sobre o BPN decorreu em Washington o inquérito do Congresso às irregularidades de gestão das grandes empresas financeiras americanas que tinham levado à crise. Logo aqui, a premissa de partida para as investigações americanas demarcou-se diametralmente da Assembleia da República.
Em Portugal, assumiu-se que os problemas no BPN decorreram da crise. A actuação desregulada e criminosa dos gestores pode estar a custar aos contribuintes dois mil milhões de euros subtraídos a hospitais, lares e escolas, mas, pelo relatório do BPN, não contribuiu para as dificuldades financeiras do país, que seriam só culpa da crise internacional.
Numa das mais emblemáticas sessões da Comissão americana (18 Março, 2009) foi chamado a Washington Edward Liddy, o presidente do maior grupo segurador do Mundo, o American International Group. Em plena crise, a AIG tinha distribuído prémios aos seus quadros.
Stephen Lynch, congressista de Massachusetts, perguntou iradamente a Liddy se não "tinha vergonha na cara". Liddy respondeu que o estavam a ofender ao questioná-lo nesses termos. O parlamentar respondeu-lhe que a intenção era mesmo ofendê-lo, porque ele era o responsável por uma imensa ofensa ao património do povo americano.
Chegou a altura de nos inspirarmos na vitalidade da prática secular de democracia na América e dizer que os relatores do inquérito ao BPN não tiveram vergonha na cara. E dizer mais: que a maneira brutal como as conclusões do relatório foram impostas, pela lei esmagadora dos números ainda que rejeitadas por toda a Oposição, constitui um claro alerta para os riscos que corre a democracia em Portugal. É um sinal gritante ao eleitorado para não repetir o erro cometido há quatro anos e passar, finalmente, a utilizar o voto como arma rectificadora de um sistema político imaturo e venal, como tem mostrado ser o português. É um aviso para os riscos desta maioria e um aviso para os riscos de maiorias destas. A Comissão Parlamentar sobre o BPN ouviu durante meses relatos de anos consecutivos de uma actuação predadora dos bens de depositantes que confiaram num sistema bancário regulado e garantido pelo Estado.
Durante o inquérito, leram e ouviram descrições de como os politicamente poderosos obtiveram lucros espantosos em situações questionáveis. Dos juros de cento e muitos por cento que o professor Cavaco Silva e família receberam às empresas falidas compradas por Dias Loureiro por milhões que desapareciam das contas em vendas fantasma. A fiscalização deste mercado de loucos estava (está) entregue a um alto quadro socialista. O Partido Socialista concluiu agora, quatro meses e dois mil milhões de euros depois, que ao longo dos anos de saque o Banco de Portugal do antigo secretario-geral socialista tinha exercido a sua fiscalização de forma "estreita e contínua" (pags. 214 e 215 do Relatório Parlamentar ao BPN). Por absurdas que sejam estas conclusões, elas foram lavradas em documento da Assembleia da República, que é o que fica para a história como o relato dos representantes eleitos pelos portugueses da maior roubalheira de sempre na finança nacional. O relatório está feito. Por imoral que seja, vamos ter de viver com ele. Compete ao eleitorado garantir que para a próxima legislatura não haja condições para se repetir uma afronta destas.
El País
Há 1 hora
3 comentários:
Caro João,
Realmente o que tem faltado especialmente em Portugal é OSENTIDO DE JUSTIÇA pois os crimes de colarinho branco são adiados "ad eternum" enquanto um "pilha galinhas" é logo preso e julgado. Porquê esta diferença abissal no tratamento das pessoas. Talvez seja pelos interesses que os tais de colarinho branco possam ter com a (des)governação, não será? Mais uma situação a ser ponderada aquando das eleições! O voto branco condena todos os partidos deste sistema...que nada tem de democrático! Em http:// www.atulhadoatilio.blogspot.com/tenho uma radiografia perfeita e profunda que bem demonstra isso mesmo.
Um abraço amigo.
Caro Luís,
Já visitei A Tulha do Atílio e deixei um pequeno comentário.
O problema de melhorar a sociedade é muito difícil de resolver. Toda a mudança impõe o esforço de adaptação ao novo sistema. Os que hoje dispõem de todas as facilidades, mordomias e regalias não estão dispostos a ceder um milímetro. Querem continuar a viver à custa de exploração dos papalvos.
Por isso, para mudar é preciso que os papalvos abram os olhos e usem todas as suas capacidades para eliminarem os parasitas que lhes sugam o sangue e o suor.
Têm que se unir e se organizar para resistir ao contra-ataque dos poderosos. Estes defendem-se porque não estão habituados a serem sequer criticados. E... pensa nas fases do processo...
Um abraço
João
Amigos Luís e João,
O que me assusta - embora não me demova - é o facto de continuar a ver crescer, cada vez mais, o número dos parasitas, dos oportunistas e dos 'detentores da verdade', sendo esta a pior classe, CÁ PA MIM, DIGO EU ... Agora, sendo esse o facto que mais me assusta, o que não me demove é o facto do número dos que conhecem bem a sua existência e os seus objectivos, estar a crescer muito, também. Quem sabe não serão ultrapassados? É para isso que cá andamos, nesta luta sem tréguas.
Maria Letra
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