É da natureza humana a acomodação a rotinas, o curto olhar para o próprio umbigo, a ausência de auto-crítica e o excesso de auto-estima, principalmente quando se trata de pessoas instaladas no Poder e quando esse poder tem a maioria absoluta, geradora de autoritarismo, arrogância e teimosia do «quero, posso e mando». Nestas circunstâncias, impõe-se uma oposição esclarecida, válida, corajosa, para apontar os erros a reparar, e as soluções possíveis para evitar a sua repetição. Diz o ditado que é mais fácil ver um cisco no olho do vizinho do que um argueiro no próprio.
Goste-se ou não do estilo de Francisco Louçã, discorde-se ou não de que lhe falta serenidade e gravata para ser primeiro-ministro, o certo é que está a desempenhar com muito vigor e patriotismo o seu actual papel de oposição. Na notícia que se transcreve, vê-se que trata com muito realismo e objectividade o problema do sistema financeiro, da sua investigação, inspecção, controlo e acompanhamento e da forma simplista como o Governo se serve do dinheiro dos nossos impostos para salvar empresas privadas suprindo erros dos administradores e saltando por cima da responsabilidade dos accionistas, donos dessas empresas. O argumento tem sido que isso defende interesses dos clientes dos bancos, o que é uma falácia pois esses clientes têm sido lesados permanentemente pela ganância dos bancos que lhes impingem teimosamente soluções e facilidades que só os prejudicam mas que aumentam os lucros dos banqueiros. À frente dos banqueiros, os governos devem colocar os reais interesses dos cidadãos mais desprotegidos e que são explorados pelo capitalismo selvagem que beneficia de todos os apoios.
As críticas mais eficazes e construtivas dum sistema não vêm de dentro, mas de fora, como este caso nos mostra. Vejamos o texto.
BE propõe inquérito ao «lixo tóxico» de todos os bancos
domingo, 30 de Novembro de 2008
O Bloco de Esquerda (BE) propôs hoje a realização de um inquérito ao «lixo tóxico» de todos os bancos para determinar quanto valem as operações financeiras das instituições.
«Para definitivamente acabar com a delapidação de fundos públicos, para proteger um efeito de dominó de prejuízos atrás de prejuízos, o BE quer propor que o Governo, através do Banco de Portugal, faça um inventário do lixo tóxico nos fundos de pensões, nos fundos de investimento e nos balanços dos bancos», disse o líder do BE.
Francisco Louçã falava numa conferência de imprensa, em Lisboa, durante a qual apresentou algumas propostas de novas regras de supervisão bancária.
O inquérito proposto pelo BE destina-se a avaliar «quanto valem as operações financeiras de todos os bancos, de tal modo que sejam obrigados a corrigir os seus balanços, se necessário, em função do valor real daquilo que têm e se necessário aumentar o capital em 2009», disse.
«Se o inventário não for feito agora ele vai-nos entrar pela porta do cavalo, porque vai haver um banco atrás de outro que vai ter problemas e que vai pedir socorro ao Estado. E que em vez de actuar por via dos seus accionistas que são responsáveis pelo seu capital, vão pedir dinheiro ao Governo», afirmou o líder do BE.
«Vamos ter um Ministério das Finanças na lufa-lufa de salvar bancos atrás de bancos, sem nunca fazer perguntas. Quem especulou, quem perdeu, porque é que perdeu, onde perdeu e não é responsável pelo que perdeu? Nunca se fazem as perguntas e nunca se pedem responsabilidades a não ser ao contribuinte», acusou Francisco Louçã.
Sobre o aval financeiro pedido ao Estado pelo Banco Privado Português (BPP), que apresentou como garantias activos no valor de 500 milhões de euros, o BE propôs também a venda destas garantias.
«Das duas uma, ou essas acções e esses activos valem mesmo os 500 milhões de euros que o banco diz e servem para pagar as suas dívidas, provocadas pela sua acção, ou não valem nada e o Estado não pode aceitar uma garantia que não vale nada», declarou Louçã.
«Em última análise serão sempre os contribuintes a pagar com os seus impostos esta vertigem de operações financeiras sem nenhum sentido e pelos quais os banqueiros não são responsabilizados», acrescentou.
O líder do BE anunciou ainda a apresentação de um projecto de lei, na próxima semana, para responder à delinquência económica e financeira.
O projecto de lei «determinará a proibição de créditos a sociedades cujos donos são incógnitos ou anónimos, em offshore, determinará a obrigatoriedade do registo de operações de transferência de capital de Portugal para paraísos fiscais, determinará a tributação dos movimentos especulativos de curto prazo e agravará a pena a todos os banqueiros e administradores que contribuam para o branqueamento de capitais», anunciou.
Diário Digital / Lusa
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Supervisão financeira deve ser eficaz
Publicada por A. João Soares à(s) 11:02
Etiquetas: bancos, sistema financeiro, supervisão
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6 comentários:
Qualquer forma de Capitalismo seja de Estado seja Privado tem os dias contados! E por isso mesmo deve haver uma supervisão financeira eficaz para o seu controlo enquanto se estude e programe nova forma de política financeira que seja consentânea com as necessidades do mundo actual!
Caro Luís,
Isso parece verdade, mas os políticos são incapazes de rasgos de inteligência que conduzam a soluções que fujam às rotinas do deixa andar. O Mundo de hoje é muito diferente do de há meio século exige novas soluções financeiras e sociais. O sistema financeiro tem que ser reestruturado de forma criar segurança e evitar crises que serão cada vez mais graves.
Todas as sugestões de pensadores com formação económica e sociológica devem ser tidas em consideração, principalmente as que sugiram rotura com a rotina que já mostrou ser ineficaz.
Um abraço
João
E com toda a razão quando diz, João, que "goste-se ou não do Louçã"...pois não é que o homem até diz verdades? "nunca se pedem responsabilidades a não ser ao contribuinte"
Quem paga "o rombo" mais uma vez?
Começo a ficar cansada de pagar :)
Manuela
Cara Manuela,
Diz verdades e, por isso aqui reproduzi, sem cortes o artigo que nos fala dele e contém muitas frases suas. Embora não concorde com algumas coisas muito que costuma dizer e da forma como por vezes o diz, considero que faz um trabalho muito útil ao obrigar as pessoas e os governantes a pensarem em temas importantes que, de outra forma, ficariam ignoradas.
Beijos
João
Sim claro, A esquerda é idto, mas também terá que haver uma convergência à esquerda, mesmo do PS, assim o diz, Jerónimo de Sousa, no congresso do PCP.
Vamos ver onde iremos ficar nas Próximas eleições.
Abraços do Beezz
Caro Beezz,
Nas minhas reflexões não gosto de me condicionar com as facções políticas, e procuro analisar com isenção as atitudes e as palavras em função dos mais altos interesses nacionais em contrapartida com interesses egoístas de políticos sem escrúpulos. A actual crise obriga a que em nome de Portugal todos se juntem na procura das melhores soluções.~que tanto podem ter tendência para um pouco de capitalismo, como talvez muito mais de socialismo votado à justiça social e aos interesses dos mais desfavorecidos.
Um abraço
João
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