segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A idade é desejada mas pode ser um fardo

Hoje, devido aos cuidados com a alimentação e com a saúde, a esperança de vida tem aumentado e continuará a aumentar. Vão longe os tempos em que uma pessoa com 50 anos já era idosa e sofria das doenças incapacitantes próprias da idade avançada.

Há dias foi muito publicitado o centésimo aniversário do cineasta Manoel Oliveira e apareceu já a notícia de que em Portugal há 600 pessoas mais idosas do que ele.

Na longevidade e no estado se saúde na parte final da vida tem muita influência o regime alimentar seguido. Além da qualidade dos alimentos, assunto muito debatido na imprensa, surgiu agora uma teoria de cientistas japoneses que se referem à quantidade calórica o que se traduz em que Comer pouco contribui para uma vida longa. Segundo estudos feitos, pode ser seguida uma de duas soluções :
- O "jejum intermitente", pode aumentar os anos de vida, inclusive nos casos em que a redução de ingestão de calorias é escassa ou mesmo inexistente. Curiosamente, várias religiões impõem aos seus crentes épocas de jejum, embora não tenha sido dito que a intenção é a longevidade.
- A outra solução é "a restrição calórica crónica", que implica uma redução constante e continuada dos alimentos ingeridos.

Há quem eufemísticamente prefira o adjectivo idoso a velho. Mas há muita gente que alinha com a canção brasileira «meu pai, meu velho, meu amigo». Velho experiente, sabedor, ponderado, sensato, não pode haver coisa melhor e que mereça mais carinho. O velho pode ser aproveitado numa ocupação de conselheiro, de ajuda a mais jovens transmitindo a sua experiência enriquecedora. As «universidades para a terceira idade» bem podiam ser aproveitadas num intercâmcbio com jovens numa interactividade de que todos beneficiariam. Um velho sábio gosta de manter o cérebro activo e não quer levar para a cova aquilo que sabe, deseja transmitir o seu saber.

Pelo contrário, o termo idoso apenas traduz o peso da idade, por vezes rodeada de azedume mau génio, quezilice, rabugice.

E esse mau feitio que a idade torna mais indesejável, aliado à falta de respeito de muita gente mais nova conduz a outros fenómenos degradantes e que estão a caracterizar a sociedade actual, apesar de muitos progressos na modernização. Um deles foi aqui sublinhado no post A tigela de madeira do avô. O outro vem na notícia com o título Abandono de idosos cresce nesta época, doentes idosos ficam nos hospitais depois de terem alta porque nenhum familiar os vai buscar. Se isto ocorre durante todo o ano, pelo Natal é mais grave e é estranho e contrário ao espírito cívico desta quadra de generosidade, humanidade, amor, compreensão e tolerância.

10 comentários:

Fenix disse...

É tristemente verdade tudo o que diz, infelizmente.
Não há dúvida que é uma enorme perda, o não ouvir atentamente os velhos.
Especialmente esta geração de velhos, aqueles que estão agora com 70 anos, ou mais, passaram por inúmeras experiências: Nasceram na ditadura, alguns sentiram "as ondas de choque" da guerra civil espanhola, fizeram a guerra do ultramar, viveram intensamente o nascimento da democracia, assistiram ao "nascimento" dos computadores,... e já só estou a referir os factos mais notáveis em Portugal!
Muitos ainda aprenderam a fazer de tudo um pouco, porque noutros tempos, bom era ser "homem dos 7 ofícios".
Ao contrário da actualidade em que a especialização é essencial para fazer bem e depressa.
Enfim..., muito haveria a dizer.
Não há dúvida que nenhum país (e Portugal muito menos) é assim tão rico que possa dar-se ao luxo de desperdiçar tanta sabedoria e experiência.
Ainda mais quando é oferecida com prazer por quem a detém.
Eu sei que o meu pai adoria ter à volta dele, nem que fosse de forma virtual, um grupo interessado em receber os ensinamentos que ele detém e que também não quer que se percam.
Parabéns pelo texto!
Abraço

Paula Raposo disse...

Para mim o velho é o termo carinhoso que associo ao meu Pai. Muitos ensinamentos recebi e recebo dele e agradeço tê-lo por perto. Obrigada João. Beijos.

Anónimo disse...

Caro João,
Bom texto a merecer uma análise cuidada.
Para além do que está dito lembro que na nossa sociedade actual os casais trabalham e os mais idosos, por vezes, têm doenças do foro psicológico ou de outro tipo incapacitante que não permite aos filhos dar a assistência de que necessitam.
Nem sempre é o egoismo dos filhos que os leva para casas de repouso, pelo contrário. Aí acabam por beneficiar de cuidados que de outro modo não teriam.
O que me parece é que a sociedade evoluiu num sentido pouco humanista tendo só em consideração o plano materialista da vida. Aí reside grande parte dos males que sofremos. Veja-se como os governos têm regulado a Saúde, a Educação, a Justiça, etc. senão por um prisma economicista não olhando à parte humana da questão. Outra achega é a seguinte: antigamente quando só um membro do casal trabalhava o outro podia dar mais apoio aos filhos e aos pais e como, por outro lado, havia menos pessoal no mercado do trabalho verificavam-se melhores ordenados e menos gastos a nível familiar. Mas quando assim falo há muita gente que me acha retrógrado e "passadista", mas se fizerem um estudo profundo sobre o assunto verão quanta razão me assiste.

A. João Soares disse...

Cara Fenix,
Mesmo no círculo apertado das actividades quotidianas, aprendeu-se muito que permite agora não cair nos mesmos erros, e seria bom que os mais novos beneficiassem desse conhecimento.
Se os ministros tivessem uns assessores de cabelos brancos ou sem cabelo, talvez depois não precisassem de fazer tantos recuos como tem acontecido vezes demais.
Beijos
João

A. João Soares disse...

Cara Paula,
A tua relação com a família não é vulgar, há uma afeição recíproca que se vê na afeição do Bruno e do Viajantis.
Obrigado pela visita e pelo comentário
Beijos
http://fotosdeeu.blogspot.com/

A. João Soares disse...

Caro Luís,
Na educação das crianças faz falta a proximidade da mãe ou de um adulto da família. Na educação dos meus filhos tive a sorte de ter em casa a sogra e uma sua irmã solteira, ambas com uma boa cultura.
Hoje isso é muito raro: Pai e mãe trabalham e há mães que não queren os avós em contacto com os filhos alegando que lhes iriam ensinar coisas fora de moda! A moda hoje é tudo o que há de pior para educar saudavelmente os futuros adultos, os futuros governantes. O resultado é o que se vê: ostentação de aparências que muitas vezes não passam de ilusão, endeusamento do dinheiro, sem saberem administrá-lo, etc.
Mas estou convicto de que mais tarde opu mais cedo haverá uma profunda revolução de costumes e essa será muito dolorosa.
Um abraço
João

Anónimo disse...

Tens razão meu amigo ,a expectativa de vida aumenta ,em quase todos os lugares do mundo.
Mais ainda acho que mesmo em perfeitas condições ,muitos idosos,nao tem o tratamento que merecem em vários angulos ,ainda são muito discriminados ,se aumenta a esperança de vida ,porque não darmos mais oportunidades a estas pessoas,que tem uma bagagem cultural que muitas vezes desconhecemos.
É triste mesmo ,ver famílias relegarem seus idosos ,em uma época natalícia,e ainda se dizem que tem corações fraternos.
Por último, nós podemos dizer que a importância da experiência de vida que os idosos tem é muito significante para nós construirmos o futuro, ao menos, sem repetir os erros do passado.
Parabéns .
um abraço,
Lú.

Mariazita disse...

Depois dos comentários acima que, logicamente, li, pouco me resta dizer.

Viver tantos anos com a qualidade de vida que aparente Manoel Oliveira, vale a pena.

É lamentável que, havendo tantas pessoas (menos jovens) com reconhecido valor, as mesmas não sejam aproveitadas, e o seu saber posto ao serviço da nação.

Temos que lançar o slogan:
Velhos ao poder, já!

Digo isto por brincadeira, mas o assunto é bastante sério.

Beijinhos
Mariazita

A. João Soares disse...

Cara Lú,
Agradeço a visita e as palavras do comentário.
Beijos
João

A. João Soares disse...

Querida Amiga Mariazita,
Depois de uma vida de trabalho, longe de mim querer o Poder!! !
Agora bastam sopas e descanso e uma rede para repousar a ouvir crescer o capim!!!
Enfim, cá vou publicando as minhas ideias amadurecidas e curtidas por muitos Invernos desde o frio das proximidades das serras da Estrela, do Caramulo e do Montemuro, aos calores do Noirte de Angola.
Tenho esperança que elas dêem a quem me lê algum estímulo para meditarem em aspectos importantes da vida pessoal e em sociedade. Gosto de dar o meu contributo para que o mundo se torne mais humano e fraterno.
Beijos
João