quarta-feira, 6 de agosto de 2008

A tigela de madeira do avô

Depois do post que Mariazita publicou no blog Sempre Jovens com o título «Através dos olhos de uma criança», trago aqui uma outra história relacionada com os velhos (eufemisticamente designados por seniores, idosos ou terceira idade) e o exemplo negativo que, muitas vezes, está a ser dado às crianças.

A Tigela de Madeira

Um senhor de idade foi morar com seu filho, nora e o netinho de quatro anos de idade. As mãos do velho eram trémulas, sua visão embaçada e seus passos vacilantes.
A família comia reunida à mesa. Mas, as mãos trémulas e a visão falha do avô atrapalhavam-no na hora de comer. Ervilhas rolavam da sua colher e caíam no chão. Quando pegava no copo, o leite era derramado na toalha da mesa. O filho e a nora irritaram-se com a bagunça.
- "Precisamos tomar uma providência com respeito ao papai", disse o filho.
- "Já tivemos suficiente leite derramado, barulho de gente comendo com a boca aberta e comida pelo chão."

Então, eles decidiram colocar uma pequena mesa num cantinho da cozinha. Ali, o avô comia sozinho enquanto o resto da família fazia as refeições à mesa, com satisfação.
Desde que o velho quebrara um ou dois pratos, a sua comida passou a ser servida numa tigela de madeira.
Quando a família olhava para o avô sentado ali sozinho, às vezes ele tinha lágrimas nos olhos. Mesmo assim, as únicas palavras que lhe diziam eram admoestações ásperas quando ele deixava um talher ou comida cair ao chão.

O menino de 4 anos de idade assistia a tudo em silêncio. Uma noite, antes do jantar, o pai percebeu que o filho pequeno estava no chão, manuseando pedaços de madeira.
Ele perguntou delicadamente à criança:
"O que estás a fazer?"
O menino respondeu docemente:
- "Ah, estou a fazer uma tigela para você e mamãe comerem, quando eu crescer."

O garoto de quatro anos de idade sorriu e voltou ao trabalho. Aquelas palavras tiveram um impacto tão grande nos pais que eles ficaram mudos. Então lágrimas começaram a escorrer-lhes dos olhos.

Embora ninguém tivesse falado nada, ambos sabiam o que precisava ser feito. Naquela noite o pai tomou o avô pelas mãos e gentilmente conduziu-o à mesa da família.
Dali para frente e até o final de seus dias ele comeu todas as refeições com a família. E por alguma razão, o marido e a esposa não se importavam mais quando um garfo caía, o leite era derramado ou a toalha da mesa sujava.

De uma forma positiva, aprendi que não importa o que aconteça, ou quão ruim pareça o dia de hoje, a vida continua, e amanhã será melhor.
Aprendi que se pode conhecer bem uma pessoa, pela forma como ela lida com três coisas: um dia chuvoso, uma bagagem perdida e os fios das luzes de uma árvore de natal que se embaraçaram.
Aprendi que, não importa o tipo de relacionamento que tenha com seus pais, você sentirá falta deles quando partirem.
Aprendi que "saber ganhar" a vida não é a mesma coisa que "saber viver".
Aprendi que a vida às vezes nos dá uma segunda chance.
Aprendi que viver não é só receber, é também dar.
Aprendi que se você procurar a felicidade, vai se iludir. Mas, se focalizar a atenção na família, nos amigos, nas necessidades dos outros, no trabalho e procurar fazer o melhor, a felicidade vai encontrá-lo.
Aprendi que diariamente preciso alcançar e tocar alguém. As pessoas gostam de um toque humano – segurar na mão, receber um abraço afetuoso, ou simplesmente um tapinha amigável nas costas.
Aprendi que ainda tenho muito que aprender...

E por tudo isso acho que você deveria transmitir esta mensagem para os seus amigos. Às vezes eles precisam de algo para iluminar seu dia.
As pessoas se esquecerão do que você disse... Esquecerão o que você fez... Mas nunca esquecerão como você as tratou.

NOTA: Desconheço o autor. Foi recebida num anexo de e-mail de pessoa conhecida

2 comentários:

Mariazita disse...

Vou transcrever o comentário que fiz no http://cvssemprejovens.blogspot.com/
Querido amigo João
Esta história é muito bonita e comovente. Não admira que os pais, ouvindo a resposta do filho, ficassem com lágrimas nos olhos.
Mais uma vez se comprova que os adultos podem receber lições duma criança, o que acontece mais vezes do que se imagina. É só questão de estarem atentos!
Os pais desta criança eram ainda jovens, com certeza. Mas em qualquer altura da vida podemos alterar o nosso modo de proceder, e abandonar "caminhos" menos correctos que anteriormente trilhámos.
Penso que foi muito boa ideia trazer aqui este texto.
A sua leitura e reflexão pode ajudar-nos a tornar o mundo melhor.
Beijinhos
Mariazita

A. João Soares disse...

Cara Mariazita,
Há realmente muitas histórias com a mesma lição. Quando era miúdo ouvi que era costume levar os velhos à serra para lá morrerem naturalmente ou comidos pelos lobos. Um filho ia levar o seu velho e ao despedir-se deixou-lhe uma manta para ele se agasalhar. O velho respondeu: rasga-a ao meio e leva metade para o teu filho ta deixar quando te vier trazer, no fim da tua vida. O filho focou surpreso e pediu para ele repetir e o velhote explicou que isso era uma velha tradição. No espírito do filho fez-se luz e disse se é tradição acaba já, e trouxe o pai para casa.
Há tradições que não devem continuar. «Filho és, pai serás, conforme fizeres, assim acharás».

Abraços
João