Transcrição do seguinte artigo, do «Globalnottícias» de 18Out2007
Estatística não gosta de Alicínio
Por: Rafael Barbosa
Alicínio, 60 anos, vive na aldeia de Redondelo, em Valpaços, Trás-os-Montes. É homem de poucas posses, aspecto franzino e doente. Vive sozinho e sobrevive com cerca de 400 euros. Levantara aliás a pensão no dia anterior. Estava em casa a dormir. Acordou quando o sangue já lhe escorria pelo corpo.
Como se não fosse violência suficiente deixar um homem sem o dinheiro que lhe garante a sobrevivência, o jagunço que lhe entrou em casa esfaqueou-o e espancou-o selvaticamente. A população de Redondelo ficou chocada, mais do que com o assalto, com a violência usada. Mas Alicínio e a população de Redondelo pouco contam para quem pode e manda. O que conta é a estatística. E segundo a estatística, que o ministro Rui Pereira gosta de citar, a criminalidade está a descer. Alguém tem de explicar isso a Alicínio.
NOTA: Os senhores políticos deviam ter mais senso ao falar de estatísticas em problemas de pessoas. As estatísticas são úteis para efeitos de estudo, planeamento e controlo, mas não para argumentar com as pessoas que, logicamente, sentem o seu caso pessoal com subida importância. Para referir um exemplo clássico, será doloroso o Sr a que, num restaurante, «almoça» um croquete e um copo de água, enquanto o outro cliente presente come um frango de churrasco com meia garrafa de vinho, dizer-lhe que estatisticamente cada um comeu meio frango de churrasco. O Sr. ministro seria capaz de dizer frontalmente ao Sr. A essa estatística? Imagina qual seria a reacção desse cidadão?
Por favor senhores políticos, deixem de considerar parvos todos os cidadãos. É certo que alguns poderão sê-lo. Mas, apesar de tudo o que se diz, poucos cidadãos estão na política.
A Necrose do Frelimo
Há 4 horas
2 comentários:
O dedo na ferida. Chega de governarem números, olhem para as pessoas.
Um abraço sem número
Caro João Rato,
Os números são indispensáveis e um dos piores defeitos do nossos ensino tem sido a aversão que criou à matemática. Mas, tal como o sal na comida, têm de ser usados comedidamente, na medida da necessidade e da conveniência. Não se devem transformar as pessoas em algarismos, ignorando-se a sua alma, os seus sentimentos, a sua individualidade, a sua sensibilidade. Ao falar-se de centenas de feridos nas estradas durante o ano, não podemos deixar de pensar na tragédia que isso significa para cada uma das famílias atingidas, sendo, por isso desumano limitar aos números esse fenómeno e atirar para os cidadãos que foram menos 3 ou mais 4 do que no ano anterior. Basta ter morrido um para ter sido de lamentar.
Os conterrâneos de Alicínio referido neste texto, não sofreram menos por lhes terem dito que caso semelhante aconteceu a muitos no País ou por esse ministro ter afirmado insensatamente que a insegurança tem diminuído estatisticamente.
Haja senso senhores políticos!
Abraço
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