terça-feira, 23 de outubro de 2007

Referendo para quê?

Os jornais de hoje mostram haver opiniões contraditórias quanto à conveniência ou não da realização de um referendo sobre o novo tratado da UE. Conviria que as pessoas com voz audível no assunto nos esclarecessem sobre o significado real do tratado e do referendo. O significado teórico deste é conhecido e aproxima-nos da Democracia directa, mas a realidade é frontalmente oposta.

Recordemos o que se passou com o referendo sobre a IVG. Os políticos disseram que, por ser um problema de grande sensibilidade, não o decidiam na AR e deixavam a decisão ao povo para exprimir os seus conhecimentos, experiências e sentimentos. Parecia uma posição séria, honesta, democrática. Mas não passou de um logro, porque esses mesmos partidos saltaram para a rua e fizeram uma campanha tão intensa que constituiu uma terrível pressão nas consciências dos eleitores para votar SIM ou NÃO conforme eles (políticos) queriam. O resultado correspondeu à vontade dos partidos e à «festa» da campanha, pesada para os dinheiros públicos, e que nada trouxe melhor do que se a decisão saísse da AR, pelo voto dos deputados.

Apesar dessa autêntica lavagem de cérebros e de violação das consciências, acabou por haver muitas abstenções porque as pessoas mais desconfiadas em relação aos políticos não quiseram fazer o jogo de uns ou de outros e ousaram recusar as pressões que os estavam a empurrar. Essa falta de confiança nos políticos tem sido notada em muitas eleições. Os políticos deixaram de representar a vontade dos eleitores e estes respondem com a abstenção ou votando em independentes, que embora sejam do mesmo naipe, não estão a jogar pelo partido. É uma atitude do povo, que não é tão burro como os políticos pensam.

Quanto ao referendo sobre a UE, se tiver lugar, será conveniente levá-lo a sério, com os partidos a manterem-se silenciosos deixando o povo ser espontâneo e sincero. Só assim terá significado. Mas há quem alegue que o povo não está esclarecido ao ponto de poder emitir um voto consciente e fundamentado. Nesse caso evite-se o referendo e toda a festa de campanhas demagógicas que apenas servem para gastar recursos vários e para treinar os «boys» e «girls» que iniciam o estágio para a carreira política de assessores, vereadores, deputados, e por aí acima, à imagem dos seus parentes e amigos da oligarquia reinante.

O jornalista Manuel António Pina, no Jornal de Notícias, refere «o argumento de Vital Moreira, porta-voz oficioso do Governo, contra o referendo: o Tratado é complicado de mais para a mente simples do "cidadão comum", se o "cidadão comum" tentar lê-lo não passa da segunda página. Acha Vital Moreira que os "cidadãos incomuns" que se sentam na AR lerão o Tratado de fio e pavio e só o votarão depois de o compreenderem. Ora só quem não conhece o espírito crítico e a independência e craveira intelectuais que vão pela AR é que não lhe dará razão.»

Quererá dizer que, com referendo ou sem ele, o tratado da UE será aprovado de cruz. Os vindouros arcarão com as boas ou más consequências deste novo tratado que agora foi congeminado pelos génios da Europa que não serão muito melhores do que a amostra que temos em casa!

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