terça-feira, 16 de outubro de 2007

As palavras - Soneto

Soltam-se as palavras e, como asas,
sobem ao alto, descem-me aos infernos
tantas vezes queimando como brasas
quantas moldando desvarios eternos

Obrigam-me a dizer o que não queria
sugerem-me a mentir o que não sinto
arrancam solidão que me agonia
desnudam lucidez a que me afinco

Ah, se eu pudesse decifrar a sós
o inquietante tom da minha voz;
tanta coisa em mim se esquiva e esfuma...

Como se o grito afugentasse os medos
ancorasse feroz os meus segredos
no seio do meu búzio azul e espuma.

Sem comentários: