quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Eutanásia infantil

Por Mariazita, Outubro 2007

Gosto de coleccionar coisas – bonecas, mochos, miniaturas de perfumes e bebidas, postais ilustrados (tenho uns milhares) – e mais não digo para não me chamarem louca! E gosto de coleccionar artigos, crónicas, entrevistas, que de um modo ou outro, chamaram especialmente a minha atenção.
Numa revisão a estes escritos deparei-me com uma entrevista que me tocou particularmente. Foi feita há 2 anos por uma conceituada revista, a um médico italiano a quem apelidaram de Dr. Morte.
Transcrevo aqui uns pequenos excertos.

(…) o Vaticano acusa-o de ser como os nazis. É o médico mais controverso do momento. Nos últimos três anos ajudou quatro bebés a morrer. Para ele, a eutanásia infantil não é um pecado, é um acto de misericórdia

- Seria capaz de terminar com a vida de um dos seus filhos ?
- Nunca o faria pela minha própria mão. Nesse momento seria um pai e não um médico. Acho que no caso de estar perante essa situação tão difícil – quando não há cura possível, nenhuma esperança – iria querer que o meu filho sofresse o menos possível.

- Qual foi a experiência de eutanásia mais forte que teve?
Houve um caso que mudou a minha visão pessoal. Era um recém-nascido com uma doença de pele muito rara. Bastava tocar-lhe para a pele sair. Quando tivemos a certeza absoluta do prognóstico, falamos com os pais. Passado um tempo os pais vieram pedir-nos para acabarmos com a vida do filho.

- O que sentiu nessa altura ?
- Foi chocante. Quem quer acabar com a vida de uma criança ? Por outro lado, conhecendo tão bem aquele recém-nascido e sabendo como não conseguiríamos reduzir-lhe o sofrimento, entendemos o problema dos pais. (…)

É um tema assustador. Adoro crianças. Por bebés tenho verdadeira paixão. Não consigo imaginar-me a ter que tomar uma tal decisão. Já me vi na situação de pedir a Deus que terminasse com o sofrimento de um ente muito querido – o meu Pai. Em fase terminal de um cancro, mantive-o em minha casa até ao final. Acompanhei-o dia e noite. O sofrimento era, por vezes, insuportável. Como não desejar que tal martírio terminasse?

Senti, na carne, o que é pensar – antes a morte! Mas…eutanásia infantil…é um problema muito sério.

Como encarar um médico que tem a coragem de a praticar ?

Vamos todos pensar nisso ?

Mariazita, Outubro 2007

NOTA: Recebido por e-mail da autora. Não me sinto preparado para concordar ou discordar, de forma geral.
Tenho muita consideração e admiração por amigos com filhos deficientes, pelo seu amor paternal, pela abnegação e pelo espírito de sacrifício. Mas também reconheço a sua preocupação e angústia ao pensarem nas incertezas do futuro desses filhos, se e quando ficarem órfãos. Não há estrutura de apoio adequado a deficientes. Muitos, de famílias sem posses passa a vida de forma miserável.
A eutanásia para adultos também merece sérias reservas porque pode ser aplicada por iniciativa de familiares para anteciparem a posse da herança ou a efectivação de negócios, ou pelo Estado para reduzir as despesas com a pensão (Neste caso , conviria começar pelos beneficiados com várias pensões milionárias!). Porém, já no me repugna o «suicídio assistido» quando pedido por doentes graves, em fase terminal, com plena consciência.
Trata-se de um tema complexo, com vários factores a serem ponderados que poderá dar origem a uma polémica esclarecedora e construtiva.

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