Todas as pessoas, em condições normais de emotividade e raciocínio, afirmam convictamente, sem qualquer sombra de hesitação, que querem a paz e são contra a guerra, seja esta de que natureza for. No entanto esta ocorre com mais frequência do que o desejável ou mesmo tolerável. Há formas de a evitar e são utilizadas normalmente mas, a partir de dada altura, tornam-se ineficazes e o conflito estala.
A paz é instável e quebrada com facilidade quer no psíquico dos indivíduos, quer entre membros de uma família, quer dentro de grupos e entre eles, quer entre Estados ou coligações. Por trás deste último tipo de conflitos estão interesses dos Estados muitas vezes interpretados de forma egocêntrica sem ter em conta os interesses da comunidade em que se inserem e interpretados por dirigentes teimosamente ambiciosos que a nada olham para aumentar a própria visibilidade e concretização de caprichos de grandeza, mesmo que artificial e pouco durável.
A forma mais utilizada para evitar a passagem do «ponto de não retorno» tem sido o diálogo, a negociação, directamente ou com a ajuda de medianeiro. Houve uma época em que o ex-Presidente Mário Soares considerava a negociação como uma solução milagrosa para evitar qualquer tipo de conflito. Mas a experiência tem demonstrado que não é assim tão milagrosa, porque exige credibilidade, vontade e sinceridade das partes, de modo a ser criado um ambiente de confiança mútua. A desconfiança é o pior corrosivo que pode penetrar entre as partes.
Estas reflexões surgiram ao ler a notícia de que o alto representante para a política externa e de segurança da União Europeia, Javier Solana, e o principal negociador iraniano para a questão nuclear, Ali Larijani, vão reunir-se em Lisboa no próximo sábado, para prosseguirem a análise dos dossiers em aberto no diferendo que opõe Estados Unidos e Europa ao Irão.
Larijani é o secretário executivo do Conselho Supremo de Segurança Nacional, órgão que coordena as políticas de segurança e defesa do Irão.
Estas negociações duram há anos e esta reunião, destina-se a prosseguir a análise dos tópicos focados na anterior ronda, em Madrid no final de Maio, embora, entretanto, não se tenha verificado nenhum desenvolvimento relevante. Na reunião de Madrid foi afirmado terem-se notado sinais positivos na forma como decorreram as negociações, o que pode ser apenas uma figura diplomática pois persiste a divergência fundamental, com Teerão a argumentar a natureza pacífica do seu programa nuclear e EUA e Europa a exigirem garantias e medidas de controlo e verificação das instalações iranianas de tratamento do urânio.
O impasse dura há cerca de três anos e já levou o Conselho de Segurança da ONU a impor, através de duas resoluções, sanções ao Irão, estando em preparação um terceiro projecto de resolução com mais sanções. Ao mesmo tempo, os cinco membros permanentes daquele órgão (China, EUA, França, Grã-Bretanha e Rússia), mais a Alemanha - os 5+1 -, propõem um pacote diplomático, político e económico a Teerão, caso este aceite suspender o nuclear; o que o Irão sempre recusou, argumentando ser seu "direito inalienável" desenvolver esta tecnologia.
As perspectivas de guerra nesta região apresentam-se indesejáveis quando ainda não foram encerrados os conflitos extremamente complexos em dois países vizinhos. E levanta-se outra reflexão que devia ser aprofundada. As guerras só por si não resolvem os conflitos, pois mesmo que uma das partes fique quase totalmente aniquilada ela pode recompor-se e provocar novo conflito, como foi o caso da Alemanha derrotada na primeira Guerra Mundial. A Guerra encerra-se à mesa das negociações com um tratado equilibrado sem esmagar demasiado o derrotado, com respeito mútuo e permitindo um futuro de desenvolvimento pacífico.
Ora tendo as negociações uma presença antes do conflito e outra no fim, apetece perguntar, com ar de ingenuidade, se não teria sido evitável a guerra. O problema reside na defesa cega de interesses e caprichos, na teimosia, no abuso da força, cada um esperando ser o vencedor, e na pressão, na retaguarda, de industriais do amamento para quem a guerra é uma fonte de negócio altamente lucrativo. Já, em 1956, Dwight Eisenhower pedia ao povo americano «que exercesse apertada vigilância e tivesse cuidado com o complexo industrial-militar norte americano». Sabia que os homens de negócios de armamento, desenvolvidos durante a II Guerra Mundial, não quereriam prescindir dos enormes lucros a que se habituaram e desejariam continuar a ganhar gananciosamente, cada vez mais.
Perante estes e outros aspectos deste complexo problema mundial, todos devemos, de forma o mais convincente possível, tomar posição pela paz, contra os conflitos armados, sem desrespeitar ou ofender os estados que pretendem defender legítimos interesses dos seus povos. Esses interesses não devem nunca perder de vista os dos outros e os da comunidade internacional. Quando assim se proceder, as guerras passarão a ter menos expressão nas relações internacionais. São, por isso, de elogiar atitudes de conversação e negociação como as que decorrerão sábado em Lisboa entre representantes da EU e do Irão. Deseja-se que sejam profícuas, para que liberto deste foco de tensão o Mundo possa concentrar-se mais na felicidade das pessoas.
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