Globalização. Seus inconvenientes sociais
No dia 6 do corrente, no post A armadilha das estatísticas, lancei uma ideia que esperava ir levantar um debate enriquecedor sobre a globalização e os fenómenos relacionados com a injusta distribuição da riqueza gerada num país. A frase que considerava mais provocatória era «A cada aumento do PIB per capita há, forçosamente, uma maior diferença entre os mais ricos e os mais pobres». Mas foram poucos os comentários. Agora, o Diário de Notícias traz um artigo sobre as ameaças sociais da globalização. Tema muito focado na Comunicação Social, acerca das manifestações durante a reunião do G8 e do forum social, mas, com demasiada emotividade e sem análise das causas e consequências que ajude a uma percepção mais perfeita.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) lançou um alerta aos governos para que estes levem muito a sério as preocupações das populações com os efeitos gerados pela globalização, designadamente pelo aumento das trocas comerciais e da concorrência internacional. A OCDE reconhece, pela primeira vez de forma clara, no seu relatório "Employment Outlook 2007", que "a expansão do comércio constitui uma potencial fonte de vulnerabilidade para os trabalhadores". Estão em risco sobretudo os trabalhadores dos sectores mais expostos à competição das importações - é o caso do sector têxtil em Portugal - e os menos qualificados ou qualificáveis, com maiores dificuldades em adaptar-se às mudanças do mercado.
Não há dúvidas quanto às vantagens de longo prazo do aumento das trocas comerciais entre países que, no longo prazo, se reflectem numa melhoria clara do nível de vida das populações. Porém, se as preocupações das pessoas continuarem a crescer, acabarão por penalizar, pelo voto, as actuais políticas governamentais que promovem a liberalização do comércio, e por beneficiar políticas proteccionistas, que acabarão por ser nefastas para as economias e bem-estar das pessoas. Por isso, é necessário analisar os perigos reais que pairam sobre as populações, e adoptar políticas governamentais preventivas ou mesmo correctivas.
Quanto ao desemprego, a concorrência da mão-de-obra barata de países como a China, Índia, Brasil ou Rússia está a levar à deslocalização de muitas empresas e à destruição de empregos. O aumento das importações tende a traduzir-se num acréscimo de insegurança para os trabalhadores, sobretudo aqueles que operam em sectores mais sujeitos à concorrência externa, como se passa no sector têxtil em Portugal, que tem sido muito afectado pela entrada de mercadorias chinesas.
Quanto a salários, a maior concorrência de mão-de-obra de países menos desenvolvidos tem obrigado os trabalhadores da maioria dos países da OCDE a aceitar reduções de salário ou aumento das horas de trabalho, sendo notória a redução da proporção de riqueza que é transferida para os salários, em favor de aumento dos lucros, o que agrava a injusta distribuição da riqueza. A perda de poder de compra verificada nas últimas décadas poderá resultar também de outros factores, tais como o maior investimento das empresas em tecnologias de capital intensivo (menos dependentes do contributo do trabalhador).
Em consequência destes factores, o fosso entre os mais ricos e os mais pobres e a classe média tem vindo a crescer. Num conjunto de 19 países desenvolvidos, isso ocorreu em 16. Pode ser devido à concorrência internacional que acabou por reduzir os salários dos trabalhadores menos qualificados nos países desenvolvidos. Pode apontar-se outro factor que terá contribuído para o agravamento da desigualdade que nada têm a ver com a globalização: a adopção de tecnologias cada vez mais avançadas gerou uma procura crescente de trabalhadores qualificados em detrimento dos restantes, com reflexos nos respectivos salários.
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