Transcrição do Portugalclub de uma análise interessante sobre o mau efeito da descoordenação e da ausência de lógica entre a decisão e a acção, quer na vida das pessoas quer na da sociedade e das Nações. Saber decidir e ter a responsabilidade da acção consequente é saudável para mente e para o êxito pesoal e social.
Decidir para Agir – Uma Questão de Auto-consciência!
Quando a auto-sabotagem e a hipocrisia são mais fortes
António Justo
Auto-sabotagem é um perigo contínuo que ameaça pessoas, autoridades e nações. O que acontece na vida privada das pessoas repete-se na vida pública da sociedade.
No dia a dia há sempre um motivo que nos leva a desculpar-nos do que fazemos ou deixamos de fazer. Parece mais simples colocar-nos sob a sombra de alguém e abdicar de nós mesmos vivendo na regressão da lamúria e do queixume. Tudo se queixa e razões não faltam para isso. O problema é o pranto tornado estrutural duma sociedade que passa a viver de queixume em queixume mas sempre bem alinhada na tropa do “esquerda – direita”!... Até parece que não se passa de recruta adiante!... Este estádio social não provém do fado. Talvez seja mais a inércia do hábito, do repetitivo que se torna caseiro. Talvez um instinto cortês, uma atitude rafeira pretendente a bem educada.
A vida comprometer-nos-ia demais se arriscássemos tomar decisões autónomas e conscientes. É mais fácil brincar-se com o fogo da vida ou refugiar-se na sua lareira aquecendo-se no borralho de sentimentos masoquistas ou na culpabilização de outros do que arriscar assumir responsabilidade por si mesmo e dar forma ao futuro. Em vez de activarmos as nossas energias, reagimos como a avestruz. Em momentos de perigo ou de necessidade de decidir torna-se mais cómodo meter a cabeça debaixo das circunstâncias para nos aconchegarmos na ilusão da impossibilidade de decidir. A responsabilidade está sempre nos outros, a irresponsabilidade tem sempre uma desculpa. Para mau pagador meia palavra basta!
Esquecemos que nós somos nós e as nossas circunstâncias, vivendo despreocupadamente entregues a uma cultura dos espertos interessados em fazer de nós as nossas circunstâncias. A cultura Zé é uma cultura do colectivo, da abdicação, do viver no mundo por ver andar os outros. Uma cultura dos apetites que prescinde da vontade. Assim refugiados na toca duma impotência irresponsável queixamo-nos de tudo e de todos. Queixamo-nos de Deus, do tempo, do Papa, do Presidente, do Chefe, dos Pais, dos políticos, etc. como se a nossa vontade e poder de decisão dependesse do acaso.
O político é o resultado das situações e não o contrário. É natural que o político faz tudo por ser eleito mas o Zé é que elege. Salazar foi o que nós éramos e Sócrates é o que nós somos. Não é lícito escondermo-nos por de trás do anonimato das circunstâncias que através de nós ganharam expressão. O fato de darmos asas às circunstâncias não nos iliba da própria parte na decisão ou indecisão.
É fatal o facto de povo e responsáveis se sentirem vítimas irresponsáveis das próprias esperanças e projecções. Todos esperam que outros façam o que lhes pertenceria fazer a eles. O estado, o governo, a igreja, a sociedade têm as costas largas. Fomos habituados a reagir e a não a agir. É mais fácil ser seduzido do que ser sedutor!... Torna-se mais fácil refugiar-se no pensamento ou na imaginação do que dedicar-se ao acto criativo do agir. Assim passa-se o tempo a adiar a vida responsabilizando outros ou servindo a própria fraqueza camuflada sob o argumento de se fazer o que os outros esperam de nós. A pressuposta expectativa dos outros é posta ao serviço do nosso preconceito sobre eles, num hábito de desobriga. A expectativa dos outros poderá até ser real e muito legítima mas depende só de mim satisfazê-la ou não.
Numa sociedade formalista como a portuguesa, o peso da opinião do que poderá pensar o outro, o vizinho, torna-se num fardo muito penoso. Muitas vezes para se ceder a esta pressão cria-se mal-estar na própria família para se dar continuidade a uma cultura da hipocrisia. Quando algo não corre segundo o ditame do ordinário, logo se deita mão da tropa de reserva das lamentações e das acusações. O queixume é desonrante porque geralmente lava as mãos na culpa dos outros e justifica a falta de iniciativa própria com a impotência e com a arrogância do subterfúgio no mundo das ideias abstractas, esquecendo-se que quem trabalha tem necessariamente de sujar as mãos.
Na queixa está sempre um momento de abdicação. O espírito criativo e de iniciativa está em cada um de nós dependendo da nossa capacidade de agir. Os fracos lamentam-se: os partidos, o stress, o signo astrológico, o vício/hábito, a família, o chefe, o trabalho, o “não consigo…”, a falta de tempo, o dia 13, o transito… telefonemas, o calor, o frio. Todos se tornaram culpados; tudo desculpas de mau pagador! Na maior parte dos casos a responsabilidade própria anda de férias.
Queixamo-nos do telefone esquecendo que a curiosidade ou a rotina é que determinou em nós a escolha de ir atendê-lo. Desculpamo-nos com razões que nos despersonalizam. Recorremos ao conjuntivo que é a língua da cortesia e da impotência. Quem não quer, diz: “vou procurar fazer”… A desculpa com a falta de tempo e com o stress são muito comuns. Tudo uma questão de prioridades! Se não tenho tempo para alguém é porque naquele momento não faz parte das minhas prioridades.
Reinhard Sprenger, autor do livro “Die Entscheidung liegt bei dir“ (A decisão é tua) escreve „Só há Stress quando você diz sim e pensa não”. Então vira-se o bico ao prego atribuindo-se a própria responsabilidade aos outros. Sim, sim, queijo, queijo!... Importante é colocar tudo na balança, reflectir e decidir. Naturalmente que nem sempre será possível encontrar a melhor saída para um problema, mas sem a aceitação do erro não se sai da cepa torta! Além disso o colocar-se na pele dos outros é uma capacidade de difícil aquisição. Importante é respeitar o outro sem se desrespeitar a si mesmo na consciência de que o queixume é infantil.
António da Cunha Duarte Justo
"Cancelamentos culturais" na América (4)
Há 4 horas
2 comentários:
Nos vales do meu corpo plantarei as carícias que me ofereceres.
Beijinhos embrulhados em abraços
Este texto é uma lição de gestão pessoal, da vida quotidiana. Falta no nosso ensino este tipo de lições que ajudem os pequenos alunos a tornarem-se homens válidos, responsáveis pela sua vida e pelas empresas em que forem trabalhar.
Sem estas lições andamos à deriva, a começar pelos maus políticos que temos.
Simultaneamente com a concordância teórica com este conceito, é bom habituarmo-nos a procurar a melhor solução para a situação que dela precisa e, nessa procura, não devemos perder muito tempo na busca da perfeição. Esta não é atingível e o ditado diz-nos que o óptimo é inimigo do bom».
Há que agir e fugir da lamúria, do choro sobre o leite derramado, do chover no molhado. Um passo em frente mesmo que não seja o excelente, mas procurando que o seja. Viver á agir, após decisão fundamentada em análise da situação que permita a melhor escolha entre as possíveis.
A água do rio dá grandes lições. Quando pára transforma-se em pântano morto, mal cheiroso. Cada um deve ter isto em atenção na sua vida; os políticos, que têm a responsabilidade de gerir um Estado, têm por isso mais responsabilidade em praticar estes preceitos.
Perante esta lição, amiga sonhadora, não deve ficar por sonhar as carícias, deve passar à acção. o sonho, o desejo, a decisão deve ter como objectivo lógico a acção. Força.
Beijos
A. João Soares
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