domingo, 3 de junho de 2007

Carta Aberta a Mário Lino, por Mendo Henriques

No post «Cheque em branco por quatro anos?!!!» foi referida uma carta do professor da Universidade Católica, Mendo Castro Henriques e este senhor, tendo visitado o blog, teve a amabilidade de me enviar por e-mail a carta completa, o que agradeço e que, para lhe dar ao visibilidade que merece e satisfazer a curiosidade dos visitantes, aqui a publico.

Exm.º Sr. Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações
Eng.º Mário Lino:

Refere a comunicação social de 24 de Maio de 2007 que, durante um almoço-debate sobre "O Novo Aeroporto de Lisboa", promovido pela Ordem dos Economistas, e que ficou assinalado pela sua intervenção, não direi tanto famosa quanto notória, que “A margem Sul é um deserto” achou também oportuno brindar os presentes com a afirmação que "O programa do Governo não será avaliado por 22 senhores que escrevem livros, mas pelos eleitores em 2009".

Referia-se decerto ao livro O ERRO DA OTA e creio falar em nome de todos os seus autores.

Naturalmente que não inferimos das suas palavras que despreza os autores de livros, nem a cultura em geral, nem a cultura técnica e profissional que resulta do citado livro, escrito por especialistas independentes e isentos com a consciência cívica de estarem a prestar um serviço ao país.

Também não inferimos das suas palavras que são inúteis estudos preliminares e chamadas de atenção fundamentadas, quando estão em jogo opções estratégicas para o país como seja “O Novo Aeroporto de Lisboa".

Não inferimos, ainda, das suas palavras que a democracia, para si, Sr. Ministro, é um cheque em branco passado de quatro em quatro anos, não tanto a um Governo, mas a um partido político que selecciona esse Governo; sempre nos ensinaram que o poder legislativo tem a primazia sobre o poder executivo e que o Presidente da Assembleia da República é a 2ª figura do regime.

Tudo isto, senhor Ministro, damos por pacífico que não é questionado na sua intrigante afirmação.

Mas, Sr. Ministro, ficamos preocupados que com tanta preocupação sua, técnica e política, e tantos dossiers a gerir, encontre tempo para desqualificar quem com “honesto estudo” vem concluir em voz alta o mesmo que indicam as sondagens de Abril e Maio de 2007, segundo as quais cerca
de 92 a 93% da população nacional, ponderando os votos, está contra a localização na Ota do Novo Aeroporto de Lisboa.

Poderá V. Exª saber que o famoso poeta alemão Heinrich Heine escreveu em 1821 que “Onde queimam livros, acabam por queimar pessoas”. Sem dúvida que jamais terá atravessado a mente de V. Exª queimar livros e muito menos pessoas, ao longo da sua já longa carreira política. Mas só lhe pedimos isto Sr. Ministro: tendo o Prof. António Brotas feito a oferta a V. Ex.ª de um exemplar da citada obra, não queime também reputações e responda a quem merece resposta pelos depoimentos fundamentados que prestaram, como é o caso dos 22 autores de O ERRO DA OTA E O FUTURO DE PORTUGAL

Mendo Henriques

2 comentários:

Anónimo disse...

Um excelente apelo à liberdade de expressão e à importância de "ouvir" no exercício do poder democrático.

A. João Soares disse...

A falta da capacidade de «OUVIR» é um dos grandes males dos nossos políticos no poder.
Mal acabam de jurar cumprir com lealdade as funções que lhes são confiadas, logo se esquecem que foram escolhidos pelo povo ara defender os interesses do País e colocam de lado a vontade dos eleitores. Passam a ouvi-se a si próprios e aos assessores que obedientemente lhes dizem o que desejam ouvir.
E, assim, se transformam em ditadores por quatro anos renováveis.
Os muitos estudos que apenas servem para dar dinheiro aos amigos são encomendados para tentar justificar as decisões caprichosas já tomadas por palpite. Reparei ontem que um técnico de ambiente disse que na decisão inicial da localização do aeroporto, não foram abordadas todas as possíveis soluções, faltando segundo ele a «solução zero«. Isto faz lembrar palavras do ministro da Presidência, Silva Pereira, um dia da TV quando em resposta ao entrevistador disse, com ar depreciativo, que os estudos têm o valor que têm. Referia-se a estudos feitos por opositores a uma dada decisão governamental, mas a afirmação engloba principalmente os encomendados pelo Governo para justificar escolhas já feitas.
Não sabem ouvir quem sabe, quem sente os interesses nacionais de forma apartidária e isenta.

Um abraço