O meu amigo JR Coelho, conhecido por «o intelectual» nos tempos de estudante, contou há dias que em tempos numa aula de inglês para gente crescida, o professor, inglês, depois de ter explicado a estrutura política inglesa, perguntou «quem tem o verdadeiro poder no Reino Unido?». Houve várias respostas, e o professor considerou todas erradas, dizendo que o verdadeiro poder está nos sindicatos.
Recordei agora esta conversa ao ler os títulos aparentemente irreverentes «Fenprof acusa ministério de “incompetência” no concurso de professores» e «Fenprof denuncia erros informáticos no concurso de professores».
E veio-me à memória uma curta passagem do livro já aqui citado «Tempos Difíceis», do amigo MP Marques, onde diz: «Vamos no 28º Ministro da Educação nos anos da democracia e em duas ou três lideranças sindicais nesta área. Como a estabilidade confere poder e, este, liberdade de acção, é evidente que o poder de gerir estatutos profissionais e condições remuneratórias tem estado do lado da corporação dos professores e não do lado do poder político» (pág 17, linhas 12-18).
Esta passagem de um livro, que é um manual valioso para se compreender melhor o que se passa na envolvente dos factos sócio-políticos, coloca a tónica na continuidade. Porém, mais importante do que a continuidade das pessoas deve ser a elaboração de decisões bem preparadas e destinadas a vigorarem por largos anos, estabelecendo estratégias e normas de gestão que serão válidas por vários anos, não por mero conservadorismo, mas pela sua validade por terem sido baseadas em estudos em que se contou com evoluções previsíveis. Mas, infelizmente, as equipas do ministério, formadas por pessoas sem a devida maturidade, deslumbradas pelo conforto dos gabinetes e da sensação de poder que dai resulta, por efeito de «deslumbramento», ousam tomar as mais disparatadas decisões, que não lembram ao Diabo, e que têm de ser anuladas como foi por exemplo a célebre TLEBS.
Pelo contrário, o sindicato, formado por professores experientes e intérpretes do pensamento dos colegas, cuidaram de estabelecer estratégias que foram aperfeiçoando e deduziram delas os argumentos mais adequados aos objectivos e sempre apoiados por valores éticos, sem se deixarem arrastar pelas falácias dos governantes e foram vencendo, passo a passo, as suas lutas intermédias, com a vista focada no objectivo final.
Voltando mais uma vez ao livro «Se, a título de exemplo, olharmos para o conflito à volta do processo de avaliação dos professores, verificamos que os professores ‘nunca lutaram contra a avaliação’. Opunham-se e opõem-se à ‘maneira como é feita’. Porque é que declaradamente lutam? Lutam ‘pela dignificação da carreira docente’, dizem.» Pág. 16-17). Esta estratégia inatacável burilada ao longo de anos, sem haver zigue-zagues, sem hesitações nem recuos, devia servir de modelo aos políticos para não andarem, qual cata-vento, a mudar de rumo diariamente.
Com as actuais inconstâncias dos governantes, não seria possível construir uns Jerónimos ou um Mosteiro da Batalha, como não o foi a barragem de Foz Côa ou o aeroporto da OTA.
Imagem da Net.
O regresso de Seguro
Há 13 minutos
3 comentários:
Nas séries "Yes, Minister" e "Yes, Prime Minister", não era assim, João.
Um abraço
Caro Pedro Coimbra,
Vejo pouca TV. A ideia que tenho dessa série, é a estratégia da sobrevivência no poder através da subserviência, «yes sir», das tricas e politiquices.
As fraquezas humanas sobreelevam-se em pessoas de fraca estrutura moral e pouca preparação para a resolução de problemas complexos, como são todos os que se repercutem em vastas camadas da população.
Basta pensar no percurso académico e curricular dos políticos que temos.
Um abraço
João
Saúde e Alimentação
Duas séries fantásticas, com um humor refinado, tipicamente britânico, e que eram um retrato perfeito da politiquice e dos politiqueiros.
Um abraço
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