No post Investigar é mais saudável do que abafar e em outros posts nele linkados era apontado o inconveniente do ambiente de suspeitas sendo defendido que a investigação para esclarecer a verdade será a melhor via para um ambiente ético saudável e gerador de confiança e de respeito. Porém as notícias mostram que há quem aposte no «abafar» até ao último suspiro. E este parece estar próximo como transparece do artigo a seguir transcrito.
Pós-Sócrates já é tema de conversa no PS
Diário de Notícias. 12 de Fevereiro de 2010. por João Pedro Henriques
Por enquanto são só murmúrios. Ninguém dá a cara. Mas a realidade é incontornável: o PS começa a discutir cenários pós-Sócrates, nomeadamente no grupo parlamentar. Paulo Portas, líder do CDS-PP, percepcionou isso mesmo e ontem afirmou: "Começa a haver muita gente que acha que o primeiro-ministro, com a sua atitude, está a tornar-se no primeiro problema que impede a resolução dos problemas reais dos cidadãos."
Um alto dirigente do PS afiançou ao DN a forte disponibilidade de José Sócrates para "dar luta". Mas admitiu, simultaneamente, que a situação se pode estar a encaminhar para um ponto insustentável.
Desenvolvendo então uma tese: se o Governo caísse por uma crise política convencional (um chumbo do Orçamento do Estado, por exemplo) então Sócrates teria condições para se candidatar de novo a primeiro-ministro. Mas se o líder socialista viesse a ser destronado por uma crise de índole ético-moral (comprovando-se, por exemplo, que o Governo manobrou para afastar jornalistas incómodos da TVI usando a PT), então o partido não teria outro remédio senão substituir Sócrates.
Os nomes referidos para a sucessão são vários: António Costa, António José Seguro, Vieira da Silva, Luís Amado, Teixeira dos Santos. Costa já terá mandado dizer que recusa o "cenário Santana": ser primeiro-ministro sem eleições legislativas.
Alguns dirigentes já verbalizaram a sua incomodidade com o caso. Ana Gomes: "Não é possível varrer para debaixo do tapete as questões que tais escutas suscitam: é preciso esclarecer se era, ou não, por instruções governamentais que a PT estava a negociar a compra da TVI à Prisa."
João Cravinho: "Isto é uma grande questão de Estado e as grandes questões de Estado tratam-se no plano político, frontalmente, com argumentos convictos e com força. Não podem ser chutadas para canto nem podem ser cobertas por floreados formais." Vera Jardim: "É urgente que se faça luz sobre isto. (...) Este clima não é sustentável."
Todos os olhares socialistas se viram agora para o Presidente da República - ao mesmo tempo que se especula permanentemente sobre as novas revelações a caminho. O que fará Cavaco Silva à medida que a posição do primeiro-ministro for ficando fragilizada? Recordam-se, de permeio, os exemplos das lideranças de António Guterres e Ferro Rodrigues: ambos se afastaram quando perceberam que tinham deixado de ser a solução e passado a ser o problema. No pós-Guterres, o PS só perdeu as legislativas (de 2002) por dois pontos percentuais; no pós-Ferro (2005) o PS conquistou a primeira maioria absoluta da sua história.
Ontem, no Parlamento, vários ministros estiveram debaixo de forte pressão dos jornalistas para comentarem o caso da providência cautelar sobre o Sol. O caso não podia ter surgido em pior altura: o Governo estava todo na Assembleia por causa do debate do OE-2010. Foram sendo "pescados à linha" pelos jornalistas.
Jorge Lacão (Assuntos Parlamentares) deu o mote: "É matéria em relação à qual o Governo nada tem que ver. É uma questão do foro judicial." Alberto Martins (Justiça) foi pelo mesmo caminho: "Não comento tudo o que está a ser apreciado no âmbito da justiça. A justiça tem as suas regras, os seus procedimentos próprios." E também Pedro Silva Pereira (ministro da Presidência): "Eu respeito as decisões da Justiça e não comento as decisões dos tribunais." Francisco Assis, líder parlamentar, tentou proteger Sócrates: "Tem-se comportado de forma irrepreensível em todo este processo."
"Cancelamentos culturais" na América (4)
Há 3 horas
4 comentários:
Querido João,
Acredito que "ele" queira lutar pelo lugar até à exaustão pois sabe que quando sair e deixar de ter o guarda-chuva da impunidade, digo, da imunidade vai-lhe acontecer o mesmo que ao Vale e Azevedo quando saiu do Bemfica...
Agora que começa a estar na contagem descendente é verdade!!! Começa a ser um empecilho para o próprio partido...
Um abraço amigo.
Amigo Luís,
Não tenhas pena dele. Mesmo que o partido não ganhe as próximas eleições, os camaradas protegem-no com um bom tacho, porque querem manter o «bom» costume de se protegerem uns aos outros. E ele tem muita gente que lhe deve favores.
Não vês nenhum ex-político na mendicidade!!! E se não inventar um banco, pode ir para uma construtora ou qualquer empresa estatal. Nelas há sempre lugar para mais um.
Um abraço
João
Ler o artigo do JN
PS espera palavra de José Sócrates
http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Policia/Interior.aspx?content_id=1494050
Credibilidade do país determinará futuro do Governo
JN. 100213.00h40m.ALEXANDRA MARQUES E ANA PAULA CORREIA
A credibilidade externa do país será o único argumento que pode levar Sócrates a admitir deixar a chefia do Governo, mas só se a isso fosse "obrigado" pelo presidente da República. No PS, falta rumo e uma palavra do líder.
O cenário já estava a ser equacionado em surdina, mas ontem, em entrevista à Antena 1, o conselheiro de Estado António Capucho desafiou José Sócrates a demitir-se para prestar "um bom serviço" ao país e ao PS.
Capucho usou a palavra-chave, "credibilidade", que pode ser o argumento de Cavaco Silva para propor a substituição da chefia do Governo, num momento em que a imagem externa do país é crucial - nas vésperas da apresentação em Bruxelas do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC) para os próximos três anos. Na opinião do conselheiro social-democrata, a credibilidade do primeiro-ministro "desceu a um nível insuportável e indesejável".
A resposta a Capucho foi dada pelo ministro da Presidência, Silva Pereira, ao dizer que "esses assuntos resolvem-se nas eleições".
A ocorrer a substituição na chefia do Governo sem recurso a eleições, de acordo com fontes socialistas, só poderia passar por ministros, que, sendo do núcleo duro do Executivo, não tenham a credibilidade afectada. Estão na linha de sucessão os ministros de Estado, Teixeira dos Santos, Vieira da Silva e Luís Amado.
Por outro lado, fora do Governo, quem ambiciona disputar a liderança no futuro não estaria disposto a avançar numa "solução à Durão/Santana", como já admitiu António Costa, um desses putativos candidatos a líder do partido.
Internamente, o PS gostaria que o secretário-geral se dignasse a partilhar com a direcção o actual momento para dar um indicador da orientação a tomar em relação ao caso das escutas divulgadas pelo semanário "Sol".
"Porventura seria útil reunir, embora me pareça que o primeiro-ministro e o partido têm estado a responder correctamente. De qualquer modo, as reuniões dos órgãos são sempre importantes quando há questões relevantes como esta", disse ao JN o ex-porta-voz Vitalino Canas.
O JN confirmou com o secretário nacional adjunto para a organização, André Figueiredo, que "não está marcada" qualquer reunião da Comissão Nacional, o órgão mais representativo do PS.
Este desconforto é extensível à bancada onde o líder parlamentar, Francisco Assis, tem assumido o papel de defensor da honra do líder partidário, mas não consegue evitar o descontentamento de Sócrates nem sequer se ter reunido com os deputados para explicar o Orçamento do Estado, que negociou com a Direita. Há também quem considere que o Governo poderia resguardar-se, sem necessidade de fazer avançar os ministros Jorge Lacão (Assuntos Parlamentares) ou Silva Pereira (Presidência) na defesa de primeiro-ministro, se o PS tivesse nesta altura um porta-voz e uma posição oficial.
Já o secretário de Estado José Junqueiro desvaloriza o caso das escutas, enquanto Ricardo Rodrigues se interroga: "O que é que podemos fazer? É cometido um crime e não há nada a fazer!"
Rejeitada é que na cúpula do partido esteja discretamente a ser preparada a sucessão, embora haja também quem admita todos os cenários. Vitalino Canas é dos que negam a procura de um substituto para o lugar de Sócrates: "Neste momento o que o PS pretende é que as coisas corram bem, não está a pensar-se na sucessão do secretário-geral", assinala.
Outro artigo do DN de 14-02-10 sobre o mesmo temna
A semana em que o pós-Sócrates deixou de ser tabu no PS
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