No artigo do Correio da Manhã de 11 do corente Um raciocínio lógico Emídio Rangel expõe ideias que não trazem nada de novo mas estimulam algumas reflexões.
Diz que «É completamente óbvio que o CDS, com valores na ordem dos 6%, e o PCP, com resultados que não ultrapassaram os dois dígitos, não podem ambicionar tal lugar», referindo-se ao cargo de primeiro-ministro. A afirmação de que os resultados do PCP «não ultrapassaram os dois dígitos» só pode ser um lapso sem relevância, provavelmente, motivado por distracção, pois para ultrapassar os dois dígitos, os resultados teriam que ser, no mínimo, 100%.
Mas do artigo ressalta a ideia de que a melhor, mais lógica opção dos eleitores seria a escolha entre dois partidos, os que já vêem alternando as maiorias, por vezes absolutas, ou se têm traduzido em arrogâncias, autoritarismo com sintomas patológicos de ditadura a prazo. Mas a isso há que opor que nada na Natureza nem nas organizações se traduz na escolha entre preto e branco em monotonia fastidiosa. Os eleitores são livres e ninguém lhes deve reduzir essa liberdade, de votar no partido cujo programa e propostas estratégicas nos diversos sectores mais lhes agradarem tendo em vista o futuro de Portugal, isto é, dos portugueses actuais e vindouros. Um partido que hoje é pequeno ou recém-formado pode amanhã vir a constituir o Governo de que Portugal vem precisando e não tem tido. A proposta pode corresponder ao chamado «voto útil», o que é um oportunismo mercantilista, iludindo o conceito de democracia.
Uma outra reflexão é que tecer conjecturas à vida nacional com base na quantidade de votos, é utilizar a lógica de contagem de pontos para os campeonatos de futebol. É a politiquice, a política com letra minúscula, que ignora ou procura esquecer que a Política com maiúsculas é a ciência e a arte de governar o Estado, cujo principal pilar é a população, as pessoas que usam o BI português e aquelas que cá residem, mesmo que temporariamente. E se o raciocínio for encaminhado segundo esta lógica, não há que olhar para os líderes mais faladores ou fotogénicos, mas para os que apresentem propostas mais equilibradas e adequadas a um Portugal melhor, que se mostrem mais dialogantes, sensíveis aos problemas das pessoas, capazes de procurar e obter pareceres e opiniões em qualquer sector da sociedade, com vista a decidir de forma mais ajustada ao futuro que mais convém para Portugal, para os portugueses.
Com estas reflexões, pode não ser trazido nada de extraordinário, mas procura-se inserir mais clareza no tema do artigo referido e nas palavras aqui expendidas em diversos posts ao longo de mais de dois anos e meio.
terça-feira, 14 de julho de 2009
Votar em quem???!!!
Publicada por A. João Soares à(s) 21:54
Etiquetas: Democracia, eleições, partidos, sentido de Estado, votos
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5 comentários:
Porque é que havemos de apostar em receitas que já demonstraram estar erradas? Masoquismo?
Cumps
Amigo Guardião,
Penso exatamente o mesmo! Acho que +e chover no molhado...
Abração.
Caros Guardião e Luís
Penso que estão de acordo com o meu post, com a argumentação com que manifesto a minha discordância do artigo linkado.
Se fosse seguida a sua teoria, o País ficaria em preto e branco ou laranja e cor-de-rosa, sem mais ninguém na AR. Então é que iria para a frente toda a pouca vergonha, mais facilmente do que na Lei do financiamento dos partidos com dinheiro vivo.
Deixaria de haver oficialmente crítica ao Governo, aos do Centrão. E abundariam as conspirações e, de seguida, os atentados...
E depois apareceria outro comentador, também iluminado, a propor o partido único.
Sr Emídio, para onde quer levar Portugal? Claro que não leva para lado algum porque tais teorias não merecem o mínimo apoio.
Abraços
João
Amigos,
Sabem o que vos digo? Vai ser preciso muuuuiiiiito trabalhinho de base para reformar certas mentalidades. É aí que está, também, um dos problemas. Só então, depois, acabaríamos por compreender o porquê da defesa de certos valores. Quando cada um puxa a brasa à sua sardinha, sem perceber que a brasa queima e é pequenina demais, talvez surjam alternativas aceites por todos.
Maria Letra
Cara Mizita,
A aprendizagem da democracia é difícil e demorada, principalmente quando há muitas tentações em cada bifurcação ou cruzamento a perturbar o raciocínio lógico.
Os interesses são grandes e os seus detentores não querem ver-se espoliados das regalias que usufruem. Porquê ainda não se combate a corrupção e o enriquecimento ilícito bem como as nomeações dos «boys» para tudo que se traduz em dinheiro e ausência de responsabilidades? Não querem matar a galinha dos ovos de ouro.
Entretanto aparecem jornalistas com artigos de vistas muito curtas e tendenciosas.
Abraço
João
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